N.º 17 | 24.10.2021

Caros (as) leitores (as),

Temos o prazer de anunciar hoje o lançamento público da nossa última publicação, Vozes Chinesas. A cada semana, nosso editorial traz até você uma visão sobre os principais debates e pensamento crítico que orientam a política e a sociedade chinesas. Partimos de uma vasta gama de fontes, abrangendo os trabalhos de importantes intelectuais, acadêmicos e líderes da opinião pública da China – vozes raramente publicadas fora do país.

Publicado todos os domingos, o Vozes Chinesas inclui cinco artigos selecionados, sumarizados em 200 palavras e traduzidos para inglês, espanhol e português por nosso editorial. Os textos integrais são traduzidos automaticamente a partir do mandarim para a sua conveniente leitura.

Dongsheng é um coletivo internacional de pesquisadores e pesquisadoras interessados na política e na sociedade chinesas. Visite nosso website para ver outros textos e conteúdos de mídia, incluindo o boletim semanal Notícias da China. Siga-nos também no Twitter, Instagram, YouTube e Telegram.

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-Dongsheng coletivo editorial

Por que Zhejiang é uma província modelo? Economia privada e “prosperidade comum”
Liu Ting
Liu Ting (刘亭) é pesquisador sênior do Instituto de Planejamento de Desenvolvimento da China da Universidade Tsinghua e ex-vice-diretor da Comissão de Desenvolvimento e Reforma da Província de Zhejiang.

A província de Zhejiang, onde Xi Jinping foi secretário do Comitê Provincial do Partido de 2002 a 2007, tem se posicionado continuamente entre as principais economias medidas pela produção econômica total. Mais importante ainda, a razão entre a renda disponível per capita entre residentes urbanos e rurais permanece a mais baixa em comparação com outras províncias (1,96:1 em 2020). Estas conquistas são a razão pela qual a província de Zhejiang é uma região modelo para a "prosperidade comum". Liu Ting acredita que o motivo mais importante por trás dessas conquistas é o compromisso com a economia privada (民营经济 mínyíng jīngjì), que permite que as pessoas alcancem a prosperidade comum. Segundo o autor, primeiramente, Zhejiang e seu povo continuam a preservar a influência cultural herdada da antiga filosofia chinesa de que "a indústria e o comércio são as raízes, e a ênfase igualitária deve ser dada à retidão e ao lucro". Zhejiang também respeita o desejo do seu povo de obter um padrão de vida confortável. Em segundo lugar, ao aprender das experiências passadas, a província de Zhejiang criou um caminho realista de reforma para o desenvolvimento, que por sua vez leva à prosperidade comum, evitando assim cair na armadilha do "socialismo utópico". Finalmente, nos últimos anos, a província de Zhejiang foi capaz de desenvolver quatro aspectos econômicos distintos com vantagens competitivas, a saber, uma economia privada autodirigida, uma economia ecológica caracterizada como "’águas claras e montanhas verdes" (青山绿水 qīngshān lǜ shuǐ), uma economia de inteligência digital orientada para o futuro (数智经济 shù zhì jīngjì)que aplica a tecnologia da informação digital e a inteligência artificial, e uma economia humanística que equilibra "desenvolvimento saudável" e "riqueza espiritual". Diante do contexto atual de críticas e rejeição à economia privada, Liu salienta que a China deve desenvolver uma compreensão renovada do papel da economia privada no processo de alcançar a prosperidade comum. Afinal, a economia privada, que deriva da era da Reforma, também foi o que levou a província de Zhejiang ao seu sucesso.

Servir ao povo: uma terceira hipótese para a tomada de decisão governamental
Justin Yifu Lin
Justin Lin Yifu (林毅夫)é decano do Instituto de Nova Economia Estrutural e do Instituto de Cooperação e Desenvolvimento Sul-Sul da Universidade de Pequim, e é ex-Economista-Chefe do Banco Mundial

O Prof. Justin Lin argumenta que existe uma terceira motivação para a tomada de decisões políticas de acordo com a prática econômica da China – "servir ao povo", o que significa que o governo considera os interesses do povo na tomada de decisões, e não os dos grupos de interesse e dos próprios políticos. No âmbito das economias dominantes, as duas hipóteses atuais prevalecentes na motivação da tomada de decisão do governo – servir aos grupos de interesse ou aos próprios políticos – entram em conflito com o papel do governo como um “planejador social benevolente”. Em contraste, servir ao povo, um princípio fundamental que os oficiais do governo da China devem incorporar, está de acordo com a filosofia política tradicional chinesa e as características do planejador social benevolente. O princípio do "servir ao povo" exige que os funcionários do governo em todos os níveis tomem a iniciativa de corrigir as falhas do mercado e manter a estabilidade econômica e social por meio da implementação de medidas de alívio, particularmente em tempos de crise. As práticas no âmbito da administração pública chinesa no ano 2020, em meio à pandemia da Covid-19, são um exemplo primário. A pesquisa de Lin sobre a política governamental de emitir cupons de consumo concluiu que indicadores como a contribuição do setor de serviços para a economia foram fatores-chave na decisão do governo de emiti-los. O setor de serviços de fato inclui a maioria dos empregos afetados durante a pandemia de COVID-19. Dessa forma, o aporte governamental em tais cupons priorizou as necessidades do povo, em detrimento dos grupos de interesse e políticos, ratificando a hipótese de Lin sobre a existência de uma terceira motivação para a tomada de decisões do governo- servir ao povo.

Wang Yaping, a primeira astronauta mulher em uma estação espacial da China, é um símbolo das conquistas do país em igualdade de gênero
Chen Lan
Chen Lan (陈蓝) é um analista independente e co-fundador de Go Taikonauts!, uma revista eletrônica em inglês e website sobre o programa espacial da China

No último dia 16 de outubro, a China lançou a nave espacial Shenzhou-13, e a tripulação de três pessoas entrou com sucesso na estação espacial de Tiangong. Wang Yaping (王亚平), uma astronauta mulher a bordo, recebeu significativa atenção do público chinês e estrangeiro. Como a segunda astronauta chinesa a ir pro espaço, Yaping, de 41 anos de idade, havia completado uma viagem espacial de 15 dias em 2013. O lançamento da Shenzhou-13 é sua segunda missão, na qual Wang vai passar seis meses na estação espacial. Chen Lan (陈蓝) assinala que desde o lançamento em 2013 da Shenzhou-5, a primeira nave espacial com tripulantes humanos a bordo, a China enviou 20 astronautas para o espaço, e três vezes uma mulher. A proporção de astronautas mulheres participantes de missões espaciais na China é maior do que a da União Soviética e dos Estados Unidos nos primeiros anos. Por exemplo, por causa do preconceito de gênero, foram necessários mais de 20 anos após sua primeira missão espacial para que os Estados Unidos enviassem a sua primeira astronauta, em 1983. O autor explica que, entre as principais potências espaciais, a China demonstra um desempenho notável na promoção da igualdade de gênero nos programas espaciais. Por exemplo, astronautas mulheres participaram em ambos os voos para a estação espacial prototípica Tiangong-1, enquanto nenhuma mulher participou em missões de outros países equivalentes. Além da igualdade de gênero como direito político, o país também reconhece o valor das mulheres sob uma perspectiva científica, particularmente em voos de longa duração. Embora os estudos médicos aeroespaciais sobre mulheres ainda estejam na fase inicial, é amplamente reconhecido pelos cientistas que não há diferença evidente entre astronautas homens e mulheres em termos de capacidade de trabalho e adaptação e, de fato, as astronautas têm muitas vantagens. As mulheres tendem a ser mais atenciosas e a compreender melhor as necessidades emocionais, o que é particularmente importante quando a equipe aeroespacial deve aguentar situações estressantes e de emergência. As mulheres geralmente têm compleição menor, o que significa que usam menos recursos e criam menos desperdícios. Em resumo, com o desenvolvimento da tecnologia aeroespacial e o esforço global para a igualdade de gênero, as mulheres estão desempenhando um papel mais significativo nas missões espaciais. Até este momento, um total de 68 astronautas femininas de nove países já foram ao espaço.

Mitos sobre a Guerra de Resistência contra a Agressão dos EUA e Ajuda à Coreia
Luo Yuan
O General Luo Yuan (罗 援), nascido em 1950, é ex-vice-diretor do Departamento de Pesquisa Militar Mundial da Academia Chinesa de Ciências Militares e diretor executivo da Sociedade Chinesa de Ciência Militar e Presidente da Unidade Militar Internacional.

Ambientado na Guerra de Resistência contra a Agressão dos EUA e Ajuda à Coreia, o mais recente filme épico de guerra da China, A Batalha no Lago Changjin, dominou as bilheterias do continente chinês e gerou discussões animadas entre os jovens. Embora elogie bastante o filme, o general Luo Yuan observa três equívocos comuns sobre a Guerra e os desmascara um por um. Em primeiro lugar, alguns acreditam que foi a Coreia do Norte que iniciou a invasão. O general Luo argumenta que é preciso olhar além de qual lado disparou o primeiro tiro. A Coreia do Norte estava lutando para reunificar a península coreana e, como consequência, foi obrigada a se defender contra a Coreia do Sul, apoiada pelos Estados Unidos. Em segundo lugar, algumas pessoas acreditam que não valeu a pena para a China fazer um sacrifício tão imenso pela Coreia do Norte. O general Luo argumenta que a decisão do Comitê Central do PCCh de entrar na Coreia foi prudente, não apenas em apoio ao internacionalismo, mas fundamentalmente pelo interesse nacional da China. O julgamento do presidente Mao foi de que a participação da China na guerra seria mais benéfica do que prejudicial porque, se a Coreia do Norte colapsasse, a aliança militar EUA-Coreia do Sul ameaçaria a segurança territorial da China, interferindo em sua construção socialista. Em terceiro lugar, há um argumento de que a China obteve apenas uma vitória pírrica, ou seja, uma conquista obtida às custas de enormes perdas. O general Luo afirma que foi uma vitória em todos os aspectos. A China assegurou um ambiente pacífico para a construção socialista e acendeu o patriotismo nacional. Além disso, a solidariedade entre os países socialistas, incluindo a União Soviética e a China, foi fortalecida. Esta solidariedade fez avançar posteriormente a industrialização da China e construiu sua defesa nacional. Mais importante ainda, a vitória comprovou que os Estados Unidos não são invencíveis e deixou um legado duradouro que inspira tanto o povo chinês quanto os povos oprimidos no resto do mundo.

Comemorando o centenário do nascimento de Joan Hinton, amiga estadunidense do PCCh
Instituto de Estudos Americanos de Shanghai
O Instituto de Estudos Americanos de Shanghai (上海市美国问题研究所) foi fundado em 22 de novembro de 2009 com o objetivo de fortalecer a pesquisa sobre as relações sino-estadunidenses e promover o intercâmbio e o entendimento mútuo entre os dois países.

Este último 20 de outubro marca o 100º aniversário do nascimento de Joan Hinton (1921-2010), uma internacionalista comprometida dos Estados Unidos. Com a ascensão dos movimentos de libertação dos povos oprimidos durante a Segunda Guerra Mundial, muitas pessoas foram ao exterior para apoiar as lutas antifascistas nos países em desenvolvimento. No entanto, poucos compartilharam o internacionalismo sincero de Joan Hinton e seu marido Erwin Engst, que decidiram plantar suas raízes na China em solidariedade à revolução chinesa e à construção socialista do país. Em 1945, os Estados Unidos lançaram uma bomba atômica sobre Hiroshima, no Japão, causando repulsa ao físico nuclear americano Hinton, uma amante de paz. Seu sonho de ciência pura foi quebrado quando percebeu que sua pesquisa tinha sido financiada pelo exército americano. No entanto, a "China vermelha", cheia de paixão e idealismo, como a descreveu Engst, que então já se encontrava na China, renovou-lhe a esperança de uma vida nova. Profundamente inspirada, ela chegou à área da base comunista de Yan'an em abril de 1949. Mais tarde naquela primavera, ela se casou com Engst em uma humilde caverna (窑洞 yáo dòng) em Yan'an. Chamada como "A espiã atômica que fugiu" pela mídia estadunidense, Hinton trabalhou extensivamente na agricultura quando a China estava sofrendo de escassez material. Ela e seu marido se empenharam na melhoria da qualidade do gado e na mecanização das fazendas leiteiras, ao estabelecerem uma base experimental agrícola na Fazenda Guanghua. Ajudou a criar o "Pasto San Bian" e mais tarde mudou-se para a vila Xiao Wang Zhuang para experimentar a criação mecanizada de gado. Graças a seus esforços, a primeira geração de crianças da Nova China teve acesso ao leite. Ao longo de suas vidas, eles mantiveram crenças comunistas e ideais revolucionários. Em 1952, Hinton foi convidada por Soong Ching-ling (宋庆龄), vice-presidente da República Popular da China, para discursar na Conferência de Paz da Ásia-Pacífico, onde pediu a paz mundial e a destruição de bombas atômicas. Erwin Engst e Joan Hinton faleceram em 2003 e 2010, respectivamente, mas suas histórias continuam e são comemoradas na mídia chinesa e pelo povo chinês.

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