N.º 42 | 24.04.2022
O Presidente chinês Xi Jinping visita um laboratório de sementes para conhecer as inovações da indústria de sementes em Sanya, província de Hainan, em 10 de abril de 2022. [Xinhua].
Como a China está desenvolvendo sementes chinesas para garantir a segurança alimentar
Qian Qian
Qian Qian (钱前) é acadêmico da Academia Chinesa de Ciências
Zhong Kang
Zhong Kang (种康) é acadêmico da Academia Chinesa de Ciências

Contexto

O presidente Xi Jinping enfatizou recentemente que as sementes são a chave para a segurança alimentar da China e que o país precisa conquistar a autonomia na tecnologia de sementes e o controle independente das suas fontes. A China alcançou essencialmente a autossuficiência em sementes de arroz, exportando-as, além disso, para o Sul Global. No entanto, a produção chinesa de plantas forrageiras ligadas a produtos animais (carne, leite e ovos) tem ficado para trás em relação aos demais países produtores. Qian Qian e Zhong Kang analisam os últimos avanços da China e os desafios da indústria de sementes e da pesquisa de melhoramento genético.

Pontos-chave

  • Com uma área estável de plantio de arroz de mais de 30 milhões de hectares, o rendimento médio de arroz da China atingiu 474 kg por mu (ou 31,6 kg/hectare) em 2021. Entre os 10 principais países com a maior área de plantio de arroz, o país asiático tem a maior nível de rendimento.
  • A China experimentou três saltos no melhoramento de arroz: sementes anãs, utilização de vantagens híbridas e criação de super-arroz, resultando em uma taxa de cobertura de sementes premium de mais de 96%. A China lidera a pesquisa científica mundial tanto em cultivo de arroz, como na sua tecnologia. Algumas novas variedades usando design molecular de alta qualidade, alto rendimento e resistentes a doenças foram amplamente desenvolvidas no sul da China.
  • Os recursos de germoplasma são a base para a inovação, tanto na reprodução como na tecnologia agrícola. Para conseguir a autossuficiência de sementes, a China vem protegendo efetivamente mais de 520.000 recursos – a maioria dos quais são próprios – incluindo plantas e 340 culturas, incluindo grãos, algodão e óleo.
  • A demanda por carne, ovos, leite e outros alimentos proteicos está aumentando gradualmente na China e, portanto, é urgente criar variedades forrageiras de alta qualidade, necessárias para a indústria pecuária. Atualmente, apenas 619 novas variedades de forragem foram aprovadas no país, em comparação com mais de 5.000 variedades na Europa e nos EUA durante o mesmo período. Na China, as variedades introduzidas e aprimoradas representaram dois terços do seu total.

Resumo

Qian Qian ressalta que a China precisa fortalecer a inovação de tecnologias centrais para recursos de germoplasma e quebrar o controle dos EUA (70%) sobre patentes centrais globais para biotecnologia agrícola. O consumo de arroz per capita da China vem diminuindo, mas a demanda do povo por alimentos de alta qualidade e arroz nutritivo vem aumentando significativamente. Para promover a atualização da indústria de sementes, o enfoque deve ser no fortalecimento da identificação e avaliação dos recursos de germoplasma – especialmente no que tange ao arroz silvestre –, de modo a acelerar o processo de utilização da reprodução de sementes e melhoramento genético. Com relação à situação atual, na qual o nível de semeadura de forragem está significativamente atrás do de grãos, Zhong Kang acredita que o país precisa aproveitar sua experiência em biologia de arroz e pesquisa na reprodução de sementes para alcançar o desenho e a criação de germoplasma forrageiro de melhor qualidade.

Como o conflito russo-ucraniano afeta as potências globais e o Estreito de Taiwan
Huang Renwei
Huang Renwei (黄仁伟) é Vice-presidente Executivo do Instituto do Cinturão e Rota & Governança Global, Universidade Fudan

Contexto

À medida que o conflito russo-ucraniano se agrava, as autoridades de Taiwan estão atiçando o fogo para criar uma "teoria da ameaça" de uma possível guerra entre os dois lados do Estreito, conluiando-se com os Estados Unidos para implorar "assistência e defesa". Não faz muito tempo, a Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, planejou visitar Taiwan, mas mais tarde cancelou a visita, devido a uma infecção por Covid-19. Em vez disso, um grupo de seis legisladores estadunidenses, inclusive o presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, Robert Menendez, visitou Taiwan no dia 14 de abril. Huang Renwei analisa o impacto global do conflito russo-ucraniano e a situação em Taiwan a partir da perspectiva do "triângulo estratégico" global.

Pontos-chave

  • Antes do início da guerra russo-ucraniana, o mundo era moldado por três dos triângulos estratégicos, a saber, "China-EUA-Europa", "China-EUA-Rússia", e "EUA-Europa-Rússia". A guerra russo-ucraniana revelou um objetivo estratégico dos Estados Unidos: concentrar-se em tirar a Rússia do grande triângulo de poder e excluí-la, tanto quanto possível, da comunidade internacional.
  • O objetivo dos Estados Unidos, porém, não será alcançado. Militarmente, é possível para a Rússia controlar a Ucrânia oriental. Economicamente, é pouco provável que as sanções destruam a Rússia. Politicamente, Putin ainda tem o apoio da maioria do povo russo. Um número crescente de pessoas na comunidade internacional, mesmo aliados ocidentais, acredita que a ação militar da Rússia é a de se defender contra a expansão da OTAN em direção ao leste.
  • A União Europeia tem sofrido tanto quanto a Rússia com as sanções econômicas. Enfrenta crises energéticas e alimentares, e a estagflação viciosa enfraquecerá ainda mais a posição do euro. A "defesa da Ucrânia" por parte dos Estados Unidos é apenas uma frase vazia. Suas sanções econômicas contra a Rússia e o armamento do sistema SWIFT podem prejudicar a hegemonia do dólar estadunidense a longo prazo.
  • Taiwan não é a Ucrânia. A Ucrânia é um Estado soberano e Taiwan é uma parte da China. A China não está tirando vantagem da crise na Ucrânia para lançar uma campanha militar de reunificação com Taiwan, mas precisa estar preparada para qualquer movimento em direção à "independência de Taiwan".

Sumário

O autor vê dois finais possíveis para a crise ucraniana. A primeira possibilidade é que os três triângulos estratégicos permaneçam, mas a Europa e a Rússia serão prejudicadas econômica e politicamente, enquanto os Estados Unidos e a China ficarão mais fortes, igualmente intensificando-se a competição entre ambos. A segunda possibilidade é uma deterioração da situação. O fracasso em conseguir um armistício poderá levar a graves consequências para o confronto militar entre os Estados Unidos e a Rússia. Uma mudança tão repentina na ordem internacional provocaria uma transformação no ambiente estratégico externo da China e uma mudança na maneira como a questão de Taiwan é resolvida.

A projeção da cooperação espacial sino-russa
Chen Lan
Chen Lan (陈蓝) é um analista independente e co-fundador da Go Taikonauts!, uma revista eletrônica inglesa e website sobre o programa espacial da China

Contexto

Devido às sanções lideradas pelos Estados Unidos contra a Rússia, a cooperação espacial entre os dois países vem sendo impactada de forma negativa. Dimitry Rogozin, diretor geral do Grupo Espacial Nacional da Rússia, enfatizou que a cooperação para a Estação Espacial Internacional (ISS, por sua sigla em inglês), liderada pelos EUA e pela Rússia, não será mais possível até que as sanções sejam levantadas. A Rússia já anunciou em abril passado que se retiraria oficialmente da ISS após o término do acordo de cooperação em 2024. Chen Lan analisa a possibilidade de futura cooperação sino-russa na Estação Espacial e seu significado para ambos os lados.

Pontos-chave

  • Há anos, a Rússia vem planejando construir sua própria estação espacial após a retirada da ISS. O plano mais recente é uma visita de curto prazo à estação espacial polar-orbitária, a Estação Espacial Orbital Russa (ROSS, por sua sigla em inglês). No entanto, o tamanho e a capacidade de sua indústria espacial estão diminuindo. Rachaduras nos módulos antigos da Rússia lançados para a ISS, Zarya e Zvezda, causaram vazamentos de ar, tornando-os inutilizáveis.
  • A guerra da Ucrânia e as sanções internacionais contra a Rússia terão impacto sobre a economia do país, e, dessa forma, os fundos limitados serão concentrados em usos militares, tornando o desenvolvimento de novos programas espaciais civis mais difícil. A cooperação com a China, como Rogozin mencionou, tornou-se uma ideia atraente. A estação espacial chinesa, a qual deverá ser concluída até o final do ano, também pode ser ampliada para incluir os módulos da Rússia.
  • A um ritmo mais rápido e a um custo mais baixo, acoplar o módulo de lançamento da Rússia na estação espacial chinesa poderia reconstruir a capacidade científica da estação espacial russa e continuar seu programa espacial tripulado até que sua própria estação espacial seja construída.
  • Como o primeiro país a lançar uma estação espacial, a experiência da Rússia com 50 anos nesse âmbito é valiosa para a China. O país ainda detém o recorde da mais longa estadia individual (437 dias) no espaço, por exemplo.
  • A Rússia e a China assinaram um memorando de entendimento para construir uma Estação Internacional de Pesquisa Lunar (ILRS, por sua sigla em inglês) e querem lançar uma nave espacial tripulada para aterrissar em Marte. Essas futuras explorações são um esforço comum para a humanidade e exigem mais cooperação internacional. A China ganhará experiência através da cooperação espacial sino-russa.

Resumo

Chen Lan acredita que a cooperação espacial entre China e Rússia é benéfica para ambos os lados, mas também é necessário prestar atenção e controlar os riscos. As necessidades de cada país devem ser plenamente consideradas no início da cooperação, levando em conta os piores cenários e preparando planos de apoio. O ideal seria começar com um único módulo russo acoplado à estação espacial da China, acrescentando gradualmente mais módulos, e eventualmente evoluindo para um módulo combinado capaz de trabalhar independentemente. Quando necessário, os módulos russos também poderiam ser separados e co-orientados com a estação espacial da China. Tal modelo de cooperação espacial preservaria a independência e o apoio mútuos, à semelhança da atual relação política entre os dois países.

Como as organizações de mulheres de base contribuem para o serviço público: estudos de caso sobre três minorias étnicas na província de Yunnan
Zhang Liming
Zhang Liming (章立明) é professora da Universidade de Yunnan

Contexto

O XIV Plano Quinquenal da China (2021-2025) traça uma nova direção para as organizações sociais – as organizações da sociedade civil com base nas massas do país. O Plano propõe uma reorientação em seu desenvolvimento, passando do enfoque no crescimento quantitativo para a melhoria da qualidade do serviço, para que elas possam cumprir seu papel de ajudar a construir um país socialista moderno e integral. Zhang Liming seleciona três organizações de mulheres de base rural de minorias étnicas na província de Yunnan para explicar o papel ativo que elas desempenham na prestação de serviços públicos.

Pontos-chave

  • O Lianchi Hui (莲池会 lián chí huì)da etnia Bai(白族 báizú), na aldeia de Zhoucheng, cidade de Dali, é composto de mulheres de meia-idade e idosas que participam de atividades religiosas locais compartilhadas. A comunidade das mulheres organiza reformas do templo, arrecadação de fundos, serviços de oração e sacrifícios durante a festa principal. As atividades não apenas aumentam a reputação de Zhoucheng, mas servem como uma plataforma de interação social entre os idosos, aliviando grandemente sua vulnerabilidade a crises espirituais como a solidão e o desamparo.
  • A área de serviço da Equipe de Defesa Conjunta Anti-Drogas das Mulheres está localizada no Triângulo Dourado na fronteira China-Myanmar e é um ponto de tráfico e consumo de drogas. A organização foi fundada originalmente em 2000 por 45 mulheres e 17 homens da etnia Jingpo (景颇族 jǐngpǒ zú), no vilarejo de Erkun.
  • Em julho de 2008, registros de novos dependentes de drogas foram eliminados nessa comunidade. A equipe anti-drogas de mulheres de Erkun superou a equipe de homens, os quais não haviam sido capazes de deter novos casos.
  • Originalmente, a Irmandade Tibetana de Jia Bi Village era uma organização recreativa autofinanciada que prestava serviços às mulheres do vilarejo para que elas pudessem participar de atividades como o culto a Buda e jantares festivos.
  • Em 2007, porém, a Irmandade Tibetana recebeu financiamento de algumas organizações civis para atividades específicas, tais como a instalação de sistemas domésticos de água e energia solar e o fornecimento de microempréstimos para a agricultura. A Irmandade se transformou rapidamente em uma organização de amplo alcance na comunidade, capaz de fornecer serviços públicos, e se tornou uma força importante na promoção do desenvolvimento local

Sumário

Zhang conclui que as organizações de base de mulheres desempenham um papel importante no aumento da capacidade da mulher do campo e em seu crescimento pessoal. Elas preenchem a lacuna criada pela insuficiência das provisões de bens públicos rurais, criando espaço para que as mulheres participem da esfera pública dominada pelos homens.

“Sobre a Nova Democracia” de Mao Zedong: inovando o Marxismo-Leninismo na China
Wang Haibo
Wang Haibo (汪海波) é membro honorário da Academia Chinesa de Ciências Sociais

Contexto

Como pode a revolução chinesa evitar um futuro capitalista? Ao aplicar o Marxismo-Leninismo à realidade chinesa, a pergunta foi respondida pela elaboração da teoria da Nova Democracia de Mao Zedong no final dos anos 1930 até o início dos anos 1950. Neste artigo, Wang Haibo discorre sobre o processo e as principais implicações, comparando os caminhos econômicos que a República Popular da China (RPC) teve nos primeiros anos de sua fundação, sob a orientação da Nova Democracia e da União Soviética.

Pontos-chave

  • Desde o final de 1939 ao início de 1940, quando a Guerra de Resistência contra a Agressão Japonesa estava em um impasse, Mao respondeu a uma série de perguntas sobre a natureza, os objetivos e a dinâmica da revolução chinesa, além de discutir o desenvolvimento político, econômico e cultural depois de a China ter logrado a vitória da revolução. Mao desenvolveu gradualmente duas teorias diferentes da Nova Revolução Democrática e da Nova Sociedade Democrática.
  • Mao apontou que a luta revolucionária chinesa era uma "Nova Revolução Democrática", ou seja, "uma revolução anti-imperialista e anti-feudal das massas sob a liderança do proletariado", fazendo "parte da revolução proletária-socialista mundial". A natureza semicolonial e semifeudal da sociedade chinesa condicionou que a revolução chinesa se tratasse de um "processo de duas etapas": foi iniciada com uma revolução democrática seguida por uma revolução socialista.
  • Segundo Mao, a Nova Sociedade Democrática foi um palco histórico. Após a vitória da Nova Revolução Democrática, a China não conseguiu eliminar imediatamente o capitalismo devido às forças produtivas inadequadas. A China teve que passar primeiro por um estágio especial de desenvolvimento, a Nova Sociedade Democrática, a fim de "fazer transição gradual e constante para o Socialismo".
  • A teoria da Nova Revolução Democrática foi decisiva para a revolução socialista mundial do proletariado e serviu de orientação ideológica para as revoluções democráticas nacionais nas colônias e semicolônias, que constituíam a maioria da população mundial.
  • A teoria da Nova Sociedade Democrática, diferente da teoria Marxista-Leninista do "período de transição" do capitalismo para o socialismo, explorou experiências úteis para os países coloniais e semicoloniais sobre como avançar para o Socialismo após a vitória de uma revolução democrática.

Resumo

A teoria da Nova Democracia é uma conquista histórica da sinicização do Marxismo, e vem amadurecendo através das experiências da "Revolução Chinesa e do Partido Comunista da China", como sintetizado em "Sobre a Nova Democracia" e "Sobre o Governo de Coalizão" de Mao Zedong. Sob sua orientação, a Nova Revolução Democrática logrou uma vitória abrangente, e prosseguiu sem sobressaltos a recuperação econômica nacional de 1949 a 1952, consolidando, assim, uma boa base para o estabelecimento do sistema socialista na China.

(O “Vozes Chinesas” continuará a interpretar o contexto histórico e a lógica de desenvolvimento da sinicização do Marxismo)

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