Industria chinesa de semicondutores começa a superar sanções unilaterais e se fortalece | Junho 2024 | 30.06.2024

Solidariedade com a Palestina | Jovens chineses tocaram na rua a música “Amani” (1991) da Beyond, uma popular banda de rock chinesa de Hong Kong, em solidariedade com a Palestina. O título do hino anti-guerra significa “paz” em suaíli. O vídeo publicado nas redes sociais chinesas, recebeu muitos comentários de apoio à causa palestina.


Estes são alguns dos destaques deste mês:

  • Industria chinesa de semicondutores começa a superar sanções unilaterais e se fortalece
  • UE aumenta a pressão sobre o setor de carros elétricos da China
  • Primeiro paciente do mundo curado de diabetes
  • Estudantes que prestaram o Gaokao se solidarizam com a Palestina

O caso Huawei: indústria de semicondutores da China se adapta às sanções unilaterais dos EUA e se fortalece

Desde que os Estados Unidos iniciaram a sua cruzada contra a indústria chinesa de semicondutores, aumentaram de forma constante sanções e tarifas a empresas chinesas, inclusive forçando não chinesas, como a holandesa ASML, a parar de vender máquinas de litografia para a China.

Uma das empresas mais atingidas foi a Huawei. Em 2020, foi obrigada a vender uma de suas principais marcas de smartphones pela falta de acessos a chips. Mais de uma dezena de países desenvolvidos excluíram a empresa de contratos 5G, sua receita caiu 30% em 2021, e os lucros líquidos despencaram 70% em 2022. Em maio deste ano, os reguladores dos EUA revogaram uma licença que permitia que Intel e Qualcomm, duas corporações tecnológicas dos EUA, vendessem chips de laptops e smartphones para a Huawei. 

No entanto, como o The Economist mostra, as sanções ocidentais tiveram um efeito oposto ao pretendido. Neste contexto adverso, a Huawei começou a substituir a tecnologia estrangeira utilizada em seus produtos por peças e software produzidos localmente, aumentando assim a sua resiliência às sanções ocidentais, tendo crescimento em vendas, e conseguindo voltar ao mercado de telefonia celular. 

Cerca de 114 mil funcionários da empresa, mais da metade do total, trabalham em pesquisa e desenvolvimento. A empresa substituiu 13.000 peças de fabricação estrangeira por peças chinesas. Embora as sanções dos EUA tenham impedido a Huawei de investir em outras áreas, elas também estimularam o rápido desenvolvimento de sua propriedade intelectual e a levou a diversificar, com novas linhas de negócios.

Cerca de 70% do valor dos componentes do Mate60 Pro+, smartphone lançado em setembro, são fabricados na China. Agora, a Huawei passou de ter 9% de participação de mercado de smartphones nos primeiros três meses de 2023 para 15,5% no mesmo período de 2024, acima dos cerca de 9% durante o mesmo período de 2023.

A Huawei também fabrica relógios, televisores e sistemas de controle para carros elétricos chineses. No primeiro trimestre deste ano, seu lucro líquido aumentou 564% em relação ao ano anterior, para 19,7 bilhões de yuans (mais de R$ 15 bilhões). A receita dos dispositivos de consumo cresceu cerca de 17% em 2023, graças principalmente aos seus novos smartphones.

Dois grandes avanços científicos da China

  • Missão não tripulada retorna com amostras do lado oculto da Lua
    • Em 1º de junho, a nave Chang’e 6 pousou no lado oculto da Lua, tornando-se o quarto pouso lunar bem-sucedido da China. A missão robótica regressou à China em 25 de junho, transportando 2 kg de material lunar da bacia do Polo Sul-Aitken (SPA) – um feito inédito. As amostras da SPA, datadas de 4,26 bilhões de anos, poderiam fornecer informações importantes sobre o início do sistema solar. A investigação também colocou uma bandeira chinesa na Lua, feita de uma pedra especial que poderia durar 10.000 anos.

O módulo de pouso Chang’e 6 no lado oposto da Lua, capturado pelo minirover da missão [CNSA/CLEP]

  • Primeiro paciente do mundo curado de diabetes
    • Usando terapia celular, um chinês de 59 anos foi curado de diabetes tipo 2 após receber um transplante de células em 2021, seguido por tratamento com doses de insulina reduzidas gradualmente. A China enfrenta um grave problema de diabetes, que afeta mais de 140 milhões de pessoas (ou 17,7% do total global), sendo que mais de 40 milhões delas recebem insulina durante toda a vida. Publicado no Cell Discovery Journal, este avanço foi feito por uma equipe de médicos e pesquisadores do Hospital Changzheng de Xangai e do Centro de Excelência em Ciência de Células Moleculares da Academia Chinesa de Ciências.

Brasil e China apresentam proposta conjunta para paz na Ucrânia

No final de maio, Wang Yi, principal diplomata da China, se reuniu em Pequim com Celso Amorim, assessor especial do presidente do Brasil. Após a reunião, a China e o Brasil emitiram um consenso de seis pontos para a resolução política da crise na Ucrânia. O comunicado apela a todas as partes relevantes para que observem três princípios: nenhuma expansão do campo de batalha, nenhuma escalada dos combates, e nenhuma provocação, e afirma que “o diálogo e a negociação são a única saída viável para a crise”.

[Xinhua]

Em meados de junho, uma conferência de paz foi realizada na Suíça, que não contou com a presença da Rússia (pois não foi convidada), nem da China. O Brasil participou como observador, mas não assinou o documento final, assim como vários grandes países do Sul Global, como Índia, Indonésia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, África do Sul e México.

Apesar dos apelos à paz e de a conferência, como esperado, não ter dado muitos frutos, se espera que os EUA anunciem mais US$ 150 milhões (R$ 839 milhões) em financiamento militar para o conflito na Ucrânia.

União Europeia aumenta pressão sobre indústria de carros elétricos da China

A Comissão Europeia anunciou em junho que iria aumentar as tarifas de importação sobre veículos elétricos chineses para 38,1%. No ano passado, a União Europeia lançou uma investigação anti-dumping acusando a China de subsidiar a sua indústria de automóveis elétricos e de promover “concorrência desleal”. Fabricantes de veículos elétricos que cooperaram com a investigação serão taxados em 21%, enquanto aqueles que não o fizeram enfrentarão um imposto de 38,1%. As empresas não chinesas que produzem alguns veículos elétricos no país, incluindo as que são de países da União Europeia (UE), como a BMW, também serão afetadas. A Alemanha se opôs aos aumentos tarifários da UE aos veículos elétricos chineses. Seus fabricantes de automóveis serão os mais atingidos. Em maio, os Estados Unidos aumentaram as tarifas sobre os carros elétricos chineses de 25% para 100%. 

Segundo analistas entrevistados pelo Financial Times, mesmo com as tarifas, os carros elétricos chineses ainda são mais competitivos que os europeus. A BYD poderá ver as suas margens de lucro reduzidas (para 8%), mas ainda assim será mais lucrativa do que as suas vendas na China.

Por sua vez, a China abriu uma investigação antidumping sobre carne suína importada e seus subprodutos do bloco europeu. Em 2023, o país importou 6 bilhões de dólares (R$ 33,5 bi) em carne de porco.

A China e a União Europeia mantêm conversações para aumentar consultas sobre a investigação anti-subsídios da UE e tentar conter a escalada das tensões comerciais.

Comércio entre Austrália e China bate novos recordes após normalização das relações

O premiê da China, Li Qiang, fez uma visita de quatro dias à Austrália em junho, onde visitou regiões mineradoras e vitivinícolas e se reuniu com o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese. Numa conferência de imprensa, anunciaram, entre outras medidas, a isenção de visto em viagens para chineses e australianos.

O comércio bilateral totalizou 145 bilhões de dólares (R$ 811 bi) em 2023, o nível mais elevado da história, superando o recorde de 2019, último ano antes do início da pandemia e da imposição de tarifas e sanções. A recuperação foi impulsionada, em particular, pelo aumento dos preços do minério de ferro, o produto de exportação mais importante da Austrália, e pela retomada das viagens e do turismo. 

Investigação da Reuters alega operação do Exército dos EUA para questionar credibilidade de vacinas chineses entre as pessoas nas Filipinas

No auge da pandemia da COVID-19, os militares dos EUA lançaram uma campanha clandestina, focada principalmente nas redes sociais, para lançar dúvidas sobre a eficácia e gerar medo em relação às vacinas chinesas. Esta campanha começou em 2020 e durou até meados de 2021, tendo um alcance além do Sudeste Asiático e chegando à Ásia Central e Oriente Médio.

Em 2019, Trump autorizou a Agência Central de Inteligência (CIA) a lançar uma campanha encoberta – que continuou sob Biden – nas redes sociais chinesas com o objetivo de transformar a opinião pública dos chineses contra o governo. Como parte desse esforço, um pequeno grupo de agentes utilizou identidades online falsas para espalhar narrativas contra o governo de Xi Jinping.

A investigação da Reuters foca nos detalhes da campanha nas Filipinas. Naquele país, notícias falsas sobre a China encontraram terreno fértil numa população já suscetível à questão das vacinas. Dos 114 milhões de filipinos, apenas 2,1 milhões foram totalmente vacinados. Também reforçaram o ressentimento de parte da população filipina em relação à China devido às disputas marítimas entre eles.

Recentemente, a Guarda Costeira Chinesa interceptou navios filipinos que entraram ilegalmente em águas perto de Ren’ai Jiao, na China (também conhecido como Segundo Thomas Shoal).

A indústria nuclear da China continua crescendo e procura avançar internacionalmente

De acordo com dados da Administração de Informação Energética dos EUA e da Agência Internacional de Energia Atômica, a capacidade das centrais nucleares da China mais do que dobrou na última década

Em abril deste ano, a China tinha 55 reatores com capacidade instalada de 53 gigawatts, em 2014 a cifra era menos de 20 GW. Os EUA continuam liderando nesse setor, com 94 reatores e capacidade instalada de 96 GW. No entanto, a China está construindo novos reatores mais rápido do que qualquer outro país. Possui 26 reatores em construção, com capacidade instalada de cerca de 30 GW. Para além do seu objetivo original de aumentar a segurança energética do país, expandir a energia nuclear é cada vez mais importante na redução das emissões de gases com efeito de estufa.

No ano passado, a energia nuclear representou cerca de 5% da energia da geração de eletricidade da China. Segundo a Associação de Energia Nuclear da China, esta contribuição deverá aumentar para cerca de 10% até 2035 e 18% até 2060. 

Em junho, o primeiro projeto de fornecimento de vapor de energia nuclear para uso industrial da China entrou em operação. Chamado Heqi No.1, está localizado em Lianyungang, na província de Jiangsu. Seu fornecimento anual de vapor de carbono limpo pode atingir até 4,8 milhões de toneladas, equivalente a uma redução da queima padrão de carvão de 400.000 toneladas por ano. 

Primeiro projeto industrial de fornecimento de vapor de energia nuclear da China, Heqi No. 1 em Lianyungang, província de Jiangsu [CNNC]

O vapor produzido pela energia nuclear pode ser usado na fabricação de produtos químicos, reduzindo significativamente o uso de carvão e as emissões de carbono, ao tempo que ajuda as empresas a reduzir custos e aumentar a eficiência.

Em 2023, reatores fabricados na China entraram em operação em Paradise Point, em Karachi, Paquistão, representando as primeiras exportações nucleares da China. Durante a próxima década, a China planeja construir e financiar reatores na Ásia, no Médio Oriente e na África.

Trinta e três funcionários de alto escalão investigados ou sancionados em esforços anticorrupção este ano

De acordo com anúncios oficiais do Comitê Central do Partido, um total de 33 funcionários de alto escalão chineses estão sob investigação ou já foram condenados, enquanto departamentos em todo o país estão realizando educação disciplinar partidária

Novas regulamentações para combater o cyberbullying após vários casos de suicídio

A Administração do Ciberespaço da China (ACC), principal órgão fiscalizador da Internet na China, emitiu novos regulamentos destinados a combater o cyberbullying, na sequência de uma proposta dos delegados às Duas Sessões deste ano e de vários casos de suicídio que suscitaram preocupação pública. 

Os regulamentos referem-se à violência cibernética como “texto, imagens, áudio, e vídeos” que sejam “insultantes, caluniosos, difamatórios, incitem ao ódio, ameacem, violem a privacidade e ridicularizem, degradem, e discriminem outras pessoas, afetando sua saúde física e mental.”

A China ainda não possui uma lei específica contra o cyberbullying. Regula a violência online através de diretrizes emitidas por vários departamentos governamentais e disposições dispersas em outras leis. 

Combinar a luta contra a desertificação com iniciativas de carbono zero

A China tem a maior área de terras desertificadas do mundo, totalizando 300 milhões de hectares e impactando a vida de 400 milhões de pessoas. Como parte do objetivo global de atingir a degradação do solo zero líquida até 2030, China trabalhou sobre mais de 22 milhões de hectares de terras arenosas na última década. Ao mesmo tempo, foram criados 32 milhões de hectares de novas florestas, além de restaurar 85 milhões de hectares de pastagens degradadas.

Campo de arroz na aldeia Daleng do condado de Zhangwu, cidade de Fuxin, província de Liaoning, 14 de junho de 2023 [Xinhua/Pan Yulong].

Algumas inovações no combate à desertificação incluíram a transformação dos desertos em áreas férteis. No deserto de Taklimakan, na zona autônoma uigure de Xinjiang, está sendo realizada a primeira colheita de trigo de 400 hectares, com rendimentos superiores a 250 kg por mu. Na mesma região, a Rodovia do Deserto de Tarim abriga o maior projeto de irrigação solar do país, com mais de 86 estações de energia solar (3,5 mW) e 109 poços que ajudam a substituir geradores movidos a diesel para bombeamento de água. Este projeto ajudou a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 3.410 toneladas anuais.

Mulheres chinesas têm mais trabalho não remunerado por dia do que os homens, enquanto o trabalho voluntário é praticamente o mesmo para homens e mulheres

A Universidade da Mongólia Interior e a Universidade do Sudoeste de Finanças e Economia realizaram enquetes com 20.500 famílias em 29 regiões. A exemplo do que acontece no resto do mundo, as mulheres chinesas dedicam uma média de 2,94 horas de trabalho não remunerado por dia (EUA 2,76, Alemanha 2,51) e 1,17 horas menos em trabalho remunerado do que os homens. O trabalho não remunerado refere-se principalmente a cuidados infantis, cuidados de idosos e tarefas domésticas. Nos últimos anos, o governo chinês começou a implementar alguns programas para enfrentar o problema, incluindo subsídios, creche, e licença maternidade estendida.

Número recorde de estudantes que fazem o exame Gaokao, onde a solidariedade com a Palestina também se fez presente

Nos dias 7 e 8 de junho, um recorde de 13,42 milhões de estudantes chineses participaram do exame anual de admissão à universidade, ou gaokao, representando um aumento de 510.000 alunos em relação ao ano passado. Como parte da tradição de fazer um desejo pessoal ao finalizar o gaokao, alguns alunos aproveitaram a oportunidade como plataforma para expressar solidariedade com a Palestina. Vários vídeos foram compartilhados nas redes sociais chinesas. 

Estudante chinês diz “Do rio ao mar, a Palestina será livre” após terminar seu exame de admissão à universidade (gaokao)

Como parte do programa plurianual de reforma do ensino superior para dar conta das mudanças demográficas e das necessidades de desenvolvimento do país, a China tem feito esforços para impulsionar o ensino técnico-profissional. Em 2023, as matrículas no ensino técnico-profissional aumentaram 17,8% em relação ao ano anterior, enquanto as matrículas nas universidades aumentaram apenas 2,2%. Este ano, o Ministério de Educação planeja estabelecer 33 novas universidades de graduação, metade das quais serão escolas profissionais atualizadas.

Uma estudante de ensino médio profissionalizante de moda, de 17 anos, Jiang Ping, surpreendeu o país. Ela ficou em 12º lugar no Concurso Global de Matemática Alibaba de 2024, ao lado de estudantes das principais instituições universitárias, incluindo o MIT, a Tsinghua, e a Universidade de Pequim.

Renomado cineasta chinês Zhang Yimou irá dirigir a versão para cinema de O problema dos três corpos

Finalmente, o célebre romance de ficção científica de Liu Cixin de 2008, O problema dos três corpos, se tornará um filme pelas mãos de um dos maiores diretores da China, Zhang Yimou. A notícia chega depois que a trilogia foi adaptada como uma série animada, uma série de TV de ação ao vivo, um drama de rádio e uma produção de grande orçamento da Netflix lançada no início deste ano, que gerou um debate na China e em nível internacional. 


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