N.º 56 | 14.08.2022
Nancy Pelosi em encontro com líder regional Tsai Ing-wen, durante sua visita a Taiwan [Profimedia]
Como a visita de Pelosi a Taiwan permitiu que a China redefinisse as regras do jogo
Míng Jīnwéi (明金维)
Ming Jinwei trabalhou como correspondente estrangeiro para a Agência de Notícias Xinhua na principal agência do Oriente Médio, no Cairo, e como diretor adjunto (2008) do Escritório de Finanças do Departamento Internacional. Depois de sair da Xinhua, o autor tornou-se um famoso blogueiro, sob o nome de “Tio Ming” (明叔), e é popular nas redes sociais chinesas.

Contexto:

A presidenta da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, terceira política mais poderosa do aspaís, visitou Taiwan, apesar da forte oposição e das múltiplas advertências da China a respeito. No entanto, Ming Jinwei acredita que a visita de Pelosi, cujo objetivo era impulsionar o movimento separatista de Taiwan, é uma oportunidade que permite que a China redefina as regras do jogo como forma de responder adequadamente à agressão dos Estados Unidos, além de acelerar o processo de reunificação nacional.

Pontos-chave:

  • O Exército de Libertação Popular (ELP) era plenamente capaz de abater o avião de Pelosi; mas se o avião tivesse sido abatido, a consequência poderia ter sido um conflito militar direto entre os Estados Unidos e a China, o que poderia ter levado à Terceira Guerra Mundial. O objetivo tanto do ELP quanto da República Popular da China (RPC) é, antes de tudo, a reunificação da China sem entrar em guerra com os Estados Unidos. A China só se envolverá militarmente com os Estados Unidos se eles tentarem impedir pela força a reunificação da China.
  • Permitir a aterrissagem do avião de Pelosi em Taiwan também mostrou que o foco da China não era impedir sua visita a qualquer custo, mas conquistar uma posição estratégica mais favorável na luta militar contra o movimento separatista de Taiwan. A resposta da China à visita é análoga à sua reação ao chamado evento de nacionalização das Ilhas Diaoyu, feito pelo Japão em 2012. Nesse caso, a estratégia da China não foi tomar as ilhas imediatamente e provocar uma guerra com o Japão. Em vez disso, a China escolheu uma resposta tardia, mas mais persistente, que foi enviar navios da Guarda Costeira para patrulhar de forma regular as águas territoriais das Ilhas Diaoyu. Com essa estratégia, a China tem acesso frequente às 12 milhas náuticas ao redor das ilhas e tem defendido seu direito à soberania.
  • A partir do momento em que Pelosi pisou em território chinês — na província de Taiwan — as regras do jogo mudaram: a chamada "linha do meio” do Estreito de Taiwan foi eliminada, como indicado pelos seis locais designados para os exercícios militares do PLA. Diante do crescente conluio entre os Estados Unidos e o movimento separatista de Taiwan, a China finalmente decidiu romper o acordo tácito e suas restrições em relação à "linha do meio".
  • A reunificação de Taiwan com a China é um de seus principais objetivos estratégicos. Já os Estados Unidos estão usando o movimento separatista para minar e reduzir a velocidade do desenvolvimento da China. Isso significa que a determinação estratégica e os recursos que a China e os Estados Unidos podem dedicar a essa questão não têm a mesma magnitude. Portanto, se há um lado que é um "tigre de papel", são os Estados Unidos.
  • Para resolver a questão de Taiwan de uma vez por todas, o governo central deve escolher o momento mais adequado para fazer avançar os interesses nacionais da China. Muitos chineses podem se sentir sufocados durante esse período de espera. Mas esta não é a primeira vez que o governo central tem que esperar para implementar a melhor opção estratégica. Em 2019, durante as violentas ondas em Hong Kong, muitos exigiram que o governo "reprimisse". No entanto, o governo central, em vez disso, introduziu a "Lei de Segurança Nacional", cuja implementação levou quase um ano, mas que foi uma resposta definitivamente estratégica e muito mais eficaz. Graças à imprudente visita de Pelosi, a China ganhou agora o impulso histórico para redefinir as regras do jogo na luta pela reunificação!
Três lições da visita de Pelosi a Taiwan
Huáyǔ Think Tank (华语智库)
O Huayu Think Tank (Huayu), fundado em fevereiro de 2017, reúne mais de 160 especialistas e estudiosos de alto nível dos meios de comunicação (especialmente da Agência de Notícias Xinhua), dos departamentos militares e do serviço diplomático da RPC, das instituições de pesquisa e das principais universidades, entre outros. Desde sua criação, Huayu tem lutado conscientemente para proteger os interesses nacionais da China e tem tido um impacto positivo na sociedade.

Contexto:

Como resultado da insistente visita de Pelosi a Taiwan, o autor do artigo identificou três pontos principais nos quais a China deveria prestar atenção ao formar sua estratégia de reunificação com Taiwan e, especialmente, sua atitude em relação à interferência dos Estados Unidos.

Pontos-chave:

  • Primeiro, o fato de Pelosi ter visitado Taiwan apesar dos reiterados duros protestos e sérias advertências da China, é um indicativo de que, aos olhos dos Estados Unidos, a China ainda não possui poder de dissuasão suficiente. Sua visita a Taiwan violou seriamente os interesses centrais da China, e o país deve definir calmamente sua resposta estratégica retaliatória.
  • Em segundo lugar, a visita de Pelosi prova que os Estados Unidos podem estar dispostos a entrar em guerra com a China por causa da questão de Taiwan. Embora os Estados Unidos tenham tomado a posição de não participar militarmente de forma direta no conflito ucrano-russo devido aos riscos de uma guerra nuclear, alguns dizem que os Estados Unidos temem um conflito militar direto com outras potências nucleares. Portanto, não desafiarão a China militarmente para defender Taiwan. O autor acredita que essa avaliação é perigosa e que poderia paralisar a prontidão da China para o combate. A China deve se preparar para enfrentar a hostilidade dos Estados Unidos, como o fez na Guerra da Coréia, resistindo à aliança de agressão liderada pelos Estados Unidos. O interesse central dos Estados Unidos é a hegemonia global, e a China é o único país que tem o potencial de desafiá-los em todas as frentes. Portanto, o futuro indica que os Estados Unidos, definitivamente, vão provocar cada vez mais a China, e que um grupo de aliados dos EUA os seguirão nesse caminho perigoso.
  • Em terceiro lugar, à medida que o jogo estratégico entre a China e os Estados Unidos se aprofunda em todas as direções e atinge níveis superiores, com o passar do tempo, a possibilidade de uma reunificação pacífica se reduz drasticamente. A visita de Pelosi a Taiwan deixou claro que a solução da "questão separatista de Taiwan" dependerá em última análise apenas da força militar; uma decisão que não poderá ser adiada por muito mais tempo. Os Estados Unidos forçaram a China a agir antes do tempo, e com sua interferência explícita na soberania chinesa, acabou determinando a forma militar da reunificação.

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N.º 55 | 07.08.2022
BRICS – Pavimentar caminhos, não construir muros [China Daily]
O significado da 14ª Cúpula dos BRICS nesta Conjuntura Crucial
Xú Bù (徐步)
Xu Bu é o Diretor e Secretário do Comitê do Partido do Instituto de Estudos Internacionais da China em Pequim, e membro do Comitê Consultivo de Alto Nível do Secretário-Geral das Nações Unidas.

Contexto:

O futuro da sociedade humana chegou a um ponto crítico, pois a recuperação econômica mundial desde a pandemia de Covid-19 tem sido extremamente irregular e desigual, e as questões de segurança se tornaram mais urgentes. Nesse contexto, o mecanismo dos BRICS tem demonstrado resiliência e vitalidade, e a cooperação tem feito progressos positivos e alcançado muitos resultados. Em 23 de junho, a 14ª Cúpula dos BRICS foi realizada de forma virtual com a China como presidente rotativo. Em entrevista com Guancha, Xu Bu explica os papéis únicos e construtivos que os países dos BRICS poderiam desempenhar na conjuntura crítica de hoje. Ele discorda dos pontos de vista críticos de alguns meios de comunicação ocidentais, segundo os quais os BRICS teriam “perdido o encanto”.

Pontos-chave:

  • As razões pelas quais os BRICS podem desempenhar um papel único e importante podem ser resumidas da seguinte maneira: 1) os BRICS enfrentam desafios de segurança globais tradicionais e não tradicionais, apoiam um multilateralismo genuíno e se opõem à hegemonia; 2) os BRICS se tornaram uma parceria de desenvolvimento através da cooperação mútua em logística e energia, e da estreita coordenação nas cadeias de abastecimento e produção; portanto, essa plataforma é capaz de administrar os riscos de choques externos; 3) os BRICS são pioneiros no campo da cooperação inovadora no Sul Global; e 4) os BRICS promovem a melhoria da governança global existente de forma a ser mais inclusiva e amigável com os países em desenvolvimento.
  • A plataforma de cooperação dos BRICS não mostra sinais de "rachaduras" ou de "perda de brilho". Isso fica demonstrado pelos seguintes pontos: 1) Todos os países dos BRICS estão lidando com o déficit de governança global e querem tornar esse sistema mais eficaz. Por exemplo, seu Novo Banco de Desenvolvimento aprovou mais de 80 projetos de investimento no valor total de US$30 bilhões; 2) todos os países BRICS têm no desenvolvimento econômico sua prioridade; 3) todos eles apoiam a tendência da multipolaridade no sistema mundial e apoiam a democratização da política internacional opondo-se à política hegemônica; 4) os BRICS estão no processo de incorporação da "nova economia digital"; todos eles querem aproveitar as oportunidades de inovação trazidas pela revolução tecnológica em desenvolvimento. Cada país dos BRICS tem seu próprio sistema de educação sólida e diferentes capacidades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. A diversidade e a estrutura básica da plataforma BRICS oferecem um importante espaço para a cooperação em apoio financeiro, novas formas de energia, transferência de tecnologia e digitalização.
  • Nessa conjuntura única, os BRICS estão se tornando cada vez mais influentes internacionalmente, e muitos países em desenvolvimento esperam se somar. O BRICS+ é um conceito inovador que abre possibilidades para expandir a plataforma de cooperação, ajudando assim a resolver as necessidades de desenvolvimento global. Apesar da propaganda da mídia ocidental, as economias dos BRICS continuarão a encontrar seu caminho para alcançar o desenvolvimento sustentável.
  • Olhando para o futuro, os principais pontos de cooperação dos BRICS são os seguintes: primeiro, promover o desenvolvimento agrícola nos países membros e contribuir para os objetivo globais de erradicação da pobreza e de fome zero; segundo, promover o comércio e os investimentos de modo a desempenhar um papel de liderança no desenvolvimento sustentável e verde global; terceiro, fortalecer a cooperação no campo da ciência e tecnologia e criar uma reserva de talentos para uma maior colaboração, a fim de desenvolver ainda mais a inovação e o empreendedorismo; quarto, fortalecer a cooperação no campo das finanças e enfraquecer a hegemonia do dólar dos Estados Unidos; e quinto, fazer avançar o intercâmbio e a cooperação interpessoal e cultural.
Como o Partido Comunista da China (PCCh) se renova e se aprimora?
Huáng Píng (黄平)
Huang Ping é pesquisador sênior da Academia Chinesa de Ciências Sociais (ACCS); nela, ele já foi diretor do Instituto de Estudos Europeus e diretor do Instituto de Estudos Americanos. Sua principal área de pesquisa é a sociologia política e a política internacional da China.

Contexto:

Já se passaram 100 anos desde a fundação do PCCh e, sob sua liderança, a China produziu um "milagre" econômico que atraiu a atenção mundial. Em entrevista ao Economic Herald em julho passado, Huang Ping fez uma análise profunda sobre a história de como o PCCh desenvolveu sua prática de autorrenovação e autorrevolução, e sobre como essas boas práticas permanecem até hoje.

Pontos-chave:

  • Os partidos políticos ocidentais representam em geral os interesses de um determinado grupo de pessoas ou classe social. A natureza e os programas dos partidos mudam com bastante frequência, geralmente em resposta ao ambiente político. O PCCh, por outro lado, não é uma associação ou agrupamento paroquial, e não representa os interesses particulares de apenas um determinado segmento da população. Desde a fundação do partido em 1921 até o estabelecimento da República Popular da China em 1949, o PCCh passou por 28 anos de guerra e revolução, formando uma organização altamente disciplinada e treinada de membros do partido com rica experiência.
  • Xi Jinping, o Secretário Geral do PCCh, enfatizou nitidamente, em seu discurso comemorativo do centenário do partido, em 1° de julho de 2021, que "o PCCh… não tem seus próprios interesses especiais e nunca representa os interesses de qualquer grupo específico, estabelecimento, ou de qualquer classe privilegiada".
  • Assim, o PCCh é um novo tipo de partido político. Mas é preciso fazer um trabalho muito melhor de comunicação para o resto do mundo sobre o sistema teórico e a prática do PCCh, para que seja bem conhecido e compreendido.
  • Ao longo de sua longa e difícil história, o PCCh desenvolveu uma caixa de ferramentas madura, na qual os elementos mais importantes são: 1) a busca da verdade a partir dos fatos (实事求是), 2) a linha das massas (群众路线), e 3) a autoconfiança e independência (自力更生). Durante os anos da guerra revolucionária, o Partido também desenvolveu três grandes formas de trabalho: "vincular teoria e prática, manter laços estreitos com as massas, e crítica e autocrítica". A constante reafirmação desses "três elementos" e "três estilos" fornece uma guia e confiança para o atual processo de autorrevolução e autorrenovação do PCCh.
  • Após o nascimento da Nova China, o Ocidente recorreu a uma subversão política "pacífica" do Estado liderado pelo PCCh, esperando poder influenciar a próxima geração da China. Naquela época, Mao Tse Tung e outros líderes do PCCh sempre se concentraram na educação ideológica dos membros do Partido para impedir o "caminho da subversão pacífica". Hoje, na nova era, o PCCh sob a liderança de Xi herda esses ensinamentos; eles enfatizam a "manutenção da nossa missão revolucionária de maneira firme na mente", mantendo o caráter político do Partido, e levando adiante a linha de massas de modo a exigir que todos os membros cumpram os requisitos de entrada e adiram aos padrões e normas de comportamento definidos pela constituição do Partido.
  • Para garantir a conexão do partido com o povo, o PCCh sempre realizou ativamente críticas e autocríticas dentro de sua vida democrática. Isso não pode ser entendido como uma espécie de luta de poder político ao estilo ocidental, e muito menos como uma batalha pessoal. É antes uma análise crítica e reflexões sobre tendências que ignoram o propósito do Partido, interpretam mal as políticas políticas e, portanto, prejudicam os interesses gerais do país.
  • O PCCh é uma organização de aprendizado que mantém uma discussão aberta internamente entre seus membros e externamente entre o PCCh e o povo. Ele constantemente avalia e elabora as lições tanto de seus sucessos quanto de seus fracassos. Através do aprendizado, ele reconhece problemas e encontra lacunas, adere à verdade e corrige seus erros. Na verdade, esse é o segredo da vitalidade do PCCh — o constante esforço para melhorar o conhecimento e a prática.

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N.º 54 | 01.08.2022
Pode a nova Parceria para Infraestrutura e Investimento Global de Biden, que conta com US$ 600 bilhões, “substituir” o papel da China na África?
Mǎ Hànzhì (马汉智)
Ma Hanzhi é pesquisador assistente no Departamento de Países em Desenvolvimento do Instituto de Estudos Internacionais da China. Suas principais áreas de pesquisa são questões de desenvolvimento da África e relações sino-africanas.

Contexto:

O lançamento da Parceria para Infraestrutura e Investimento Global (PIIG) na recente cúpula do G7 é outro exemplo do esforço incessante do governo Biden para tentar minar a iniciativa da Nova Rota da Seda (NRS) liderada pela China. Para financiar a PIIG, o Ocidente declarou sua intenção de fornecer US$ 600 bilhões em investimentos em infraestrutura para países em desenvolvimento até 2027. Guancha entrevistou Ma Hanzhi para conhecer sua avaliação sobre os possíveis impactos do PIIG no continente africano.

Pontos-chave:

  • A meta de alocação de US$ 600 bilhões do PIIG é mais confiável do que a iniciativa B3W lançada na cúpula do G7 do ano passado, com um número obviamente inverossímil de US$ 40 trilhões. Do ponto de vista do financiamento, o PIIG inclui os US$ 300 bilhões prometidos pela iniciativa Global Gateway da UE, por meio dos quais US$ 150 bilhões são destinados a investimentos em projetos africanos. Seu foco está em quatro áreas principais: energia limpa, sistemas de saúde, igualdade de gênero e tecnologia da informação e comunicação (TIC). A PIIG também apresenta uma abordagem mais pragmática.
  • Os EUA esperam usar o PIIG como uma base para competir contra a NRS, reformular sua posição em termos de poder brando no campo do desenvolvimento global e abrir caminho para que o capital dos EUA entre no mercado africano, tentando enfraquecer a posição da China no desenvolvimento de projetos de infraestrutura.
  • Washington quer reafirmar sua política externa com "diplomacia orientada por valores", especialmente nos setores prioritários. Sob o lema de "tecnologia de comunicação justa e transparente", os EUA estão tentando excluir as empresas chinesas de TIC do mercado africano, para que os gigantes da tecnologia dos EUA possam estabelecer uma hegemonia digital e obter acesso fácil aos ativos de dados na África. No geral, isso resultará em uma onda de privatização de projetos públicos chave, como demonstrado, nos últimos anos, pela “Iniciativa Eletricidade para a África”.
  • Os principais projetos-piloto de investimento anunciados pelo PIIG estão todos na África, porque o continente tem um potencial muito grande para investimento no mercado de construção de infraestrutura transfronteiriça. Também tem uma população jovem particularmente grande e, em geral, sua economia está crescendo rapidamente. No entanto, os EUA concentram-se em países que já são mais estruturalmente desenvolvidos. Esta escolha deliberada de projetos-piloto levará a um agravamento ainda maior das lacunas no desenvolvimento regional.
  • A estratégia PIIG é uma resposta direta contra a recém-lançada Iniciativa de Desenvolvimento Global (IDG) da China. Em vez de trabalhar com a NRS nas quatro áreas prioritárias, o programa PIIG forçará alguns países a rejeitar propostas de projetos chineses, a menos que estejam dispostos a enfrentar diferentes formas de sanções dos EUA, incluindo a desestabilização do governo.
  • A China deve melhorar seus esforços da NRS de três maneiras: 1) entender e atender às necessidades reais da população local, especialmente por meio de conquistas tangíveis em projetos locais de pequena escala, 2) explorar e aprimorar a sustentabilidade de ferramentas de financiamento para reduzir o peso da dívida de longo prazo dos países africanos, e 3) se possível, tentar trabalhar com algumas empresas europeias e aproveitar seus conhecimentos em uma possível cooperação.
  • Finalmente, a África deve escolher seus próprios parceiros para o desenvolvimento econômico. O Ocidente, liderado pelos EUA, deve desistir de sua mentalidade neocolonial e de Guerra Fria, querendo ditar à África o que deve ou não fazer. Mais investimentos são bem-vindos na África, e todas as partes devem mudar o foco para que esses investimentos possam gerar benefícios reais e ganhos tangíveis em termos de desenvolvimento para o povo africano.
De 2008 até agora: mudanças na China e no mundo
Yáo Zhōngqiū (姚中秋)
Yao Zhongqiu é professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Renmin e professor do Instituto Avançado de Estudos Confucionistas da Universidade de Shandong. Depois de 2008, tornou-se o principal intelectual a ter abandonado a escola neoliberal. Atualmente, trabalha na criação de um marco para a nova escola de pensamento chinesa chamada Política Histórica.

Contexto:

Quatorze anos se passaram entre os Jogos Olímpicos de Verão de Pequim de 2008 e os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim de 2022 e o zeitgeist e a mentalidade nacional da China mudaram drasticamente durante esse período. Do ponto de vista de Yao, as razões fundamentais para isso são três: 1) o sistema capitalista mundial está passando por significativas crises econômicas e políticas; 2) A posição da China no mundo está se tornando central e de liderança; e 3) a percepção do povo chinês sobre seu próprio país, o Ocidente e os EUA em particular, passou por uma reviravolta dramática.

Pontos-chave:

  • Nos últimos dois séculos, o sistema mundial passou por várias mudanças estruturais. A mais recente começou nos Jogos Olímpicos de Verão de 2008 em Pequim, onde o mundo testemunhou as incríveis conquistas do povo chinês. Na mesma época, eclodiu a maior crise financeira global desde a Grande Depressão, que minou profundamente a confiança no sistema capitalista e em seus valores liberais.
  • Nos primeiros anos após 2008, a cooperação entre China e EUA continuou inabalável. As elites chinesas ainda acreditavam que uma China próspera e em ascensão poderia ser integrada à chamada comunidade internacional. No entanto, em 2014, a relação China-EUA evoluiu gradualmente para uma "rivalidade entre grandes potências". Por temer perder seu papel dominante na velha ordem mundial, o Ocidente mudou sua política de cooperação para a de contenção e passou a combater significativamente a agenda de desenvolvimento da China.
  • O poder econômico da China também é a base para a construção da autoconfiança cultural e política e, desde o 18º Congresso Nacional do PCCh, o país demonstrou firmemente a vontade de continuar no caminho do socialismo. As elites políticas e culturais dos EUA então reverteram sua política e defenderam uma estratégia de dissociação – tanto econômica quanto tecnológica. A China se voltou para uma estratégia de desenvolvimento de circulação dual para continuar seu progresso econômico. Dessa forma, as economias chinesa e estadunidense, de fato, se dissociaram parcialmente.
  • Desenvolver o marxismo dentro de um contexto chinês e reviver o “DNA da cultura chinesa” – especialmente no que diz respeito à nova interpretação política do confucionismo – está emergindo como a principal direção dos esforços intelectuais. Isso demonstra que o círculo acadêmico da China começou a restabelecer sua própria base filosófica para as disciplinas das ciências sociais e a se “libertar” da doutrina neoliberal.
  • Como o maior país produtor industrial e de comércio de commodities do mundo, a China propôs a Nova Rota da Seda, o conceito de Comunidade com Futuro Compartilhado para a Humanidade e a Iniciativa de Desenvolvimento Global. Um novo "sistema para o mundo em desenvolvimento" está tomando forma. Em oposição a esse internacionalismo, os EUA defendem sua agenda America First, baseada no racismo como valor dominante nas políticas domésticas e internacionais. Isso tira dos EUA seu apelo moral universal e sua tutela da ordem internacional.
  • O sistema mundial capitalista unipolar e neoliberal está entrando em colapso. No futuro, veremos o surgimento de dois sistemas: um é o ""sistema para o mundo em desenvolvimento" liderado pela China, tendo a igualdade como valor central e o desenvolvimento como objetivo, fornecendo o suporte tecnológico e industrial necessário ao Sul Global; o outro é o sistema capitalista encolhido e moribundo liderado pelos EUA, lutando para proteger os interesses adquiridos de alguns países desenvolvidos e exercendo seu monopólio tecnológico e industrial.
  • A era pós-epidemia será marcada por uma luta feroz e de longo prazo entre os dois sistemas. Somente através da Grande Luta que quebre o monopólio militar, tecnológico e econômico liderado pelos EUA, poderemos unir mais povos e países e iluminar o caminho a seguir na construção de uma nova forma de civilização humana.

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N.º 53 | 24.07.2022
O impasse estratégico entre a China e os EUA permanece à medida que o equilíbrio de poder muda.
Por que a batalha da China contra o poder hegemônico dos EUA está entrando em uma fase de impasse estratégico?
Huang Renwei (黄仁伟)
Huang Renwei é vice-presidente executivo do Instituto do Cinturão e Rota e Governança Global da Universidade de Fudan. Foi vice-presidente da Academia de Ciências Sociais de Xangai. Ele estuda há muito tempo a estratégia internacional da China, as relações sino-americanas e a economia internacional. Ele é o autor de “A opção histórica do caminho de desenvolvimento pacífico da China” (“The Historical Choice of China’s Peaceful Development Path”), “Tempo e espaço da ascensão da China” (“Time and Space of China’s Rise”), “Política externa independente e pacífica” (“Independent and Peaceful Foreign Policy”) e “A evolução do sistema de terras no oeste estadunidense” (“The Evolution of Land Systems in the American West”).

Contexto:

À medida que a China ascende econômica e politicamente, sua luta com os EUA se torna mais feroz. Huang Renwei aponta a fraqueza inerente da estrutura de poder dos EUA e argumenta que, a partir de 2020, e possivelmente pelos próximos 30 anos, a China e os EUA estarão em uma fase de impasse estratégico que terá oscilações.

Pontos-chave:

  • O conceito de "fase de impasse estratégico" foi cunhado por Mao Zedong em "Sobre a Guerra Prolongada". A teoria de Mao era que a guerra contra o Japão consistia em três estágios: a ofensiva japonesa, o impasse estratégico sino-japonês e a contra-ofensiva chinesa. Já a atual fase de impasse China-EUA é de natureza diferente: a competição estratégica entre a China e os EUA ainda não entrou em um estado de guerra quente; e a China não estabeleceu o objetivo estratégico de derrota militar completa dos EUA. O objetivo da China é lutar por uma nova ordem mundial justa e igualitária com prosperidade comum para todos os países.
  • A razão pela qual essa relação está entrando em um impasse estratégico está na chamada “dualidade” de suas respectivas estruturas de poder. A “dualidade” dos EUA é caracterizada pelo fato de que, por um lado, o país está passando por um processo de declínio econômico e político, mas por outro lado ainda é uma potência militar relativamente forte. A dualidade da China é o oposto: está em processo de ascensão, mas também apresenta muitas fraquezas próprias. A “dualidade” evolui gradualmente ao longo do tempo.
  • Historicamente, a hegemonia do dólar estadunidense tem beneficiado muito os interesses estratégicos dos EUA. No entanto, os EUA já ultrapassaram os limites desse poder e sua credibilidade foi posta em questão.
  • Nos próximos 30 anos, a China enfrentará a dura realidade de que os países ocidentais liderados pelos EUA rejeitarão e difamarão o papel e a participação da China na ordem do velho mundo. A China deve tomar a iniciativa de mudar o cenário internacional existente para criar uma nova ordem mundial. Pode levar gerações até que esse novo sistema seja estabelecido.
  • Os EUA podem ganhar com essa estratégia de dissociação? É incerto, já que a capacidade dos EUA de confrontar a China é limitada. Se os EUA se envolverem em uma agressão militar contra a China, os custos relacionados à guerra seriam astronômicos. A guerra pode trazer um colapso dos mercados financeiros dos EUA. Em última análise, os EUA não podem derrotar a China militarmente, desde que não haja guerra nuclear.
  • A duração da fase de impasse estratégico depende de quão rápido o equilíbrio de poder mudar. Supõe-se que a década entre 2030 e 2040 verá uma mudança decisiva no equilíbrio de poder global à medida que a economia da China, medida em PIB, supere a dos EUA. Huang acredita que na década entre 2040 e 2050, a China alcançará os EUA nas áreas de ciência e tecnologia.
  • Ele também acredita que, nessa fase de impasse estratégico, os EUA farão maior uso das vantagens de seu poder brando, cuja relação custo-benefício supera em muito a do confronto com o poder duro. Assim, espera-se que a intensidade da competição de poder brando entre EUA e China torne-se central.
O 25º aniversário da reunificação de Hong Kong com a China continental: algumas reflexões sobre o princípio “Um País, Dois Sistemas”
Shao Shanbo (邵善波)
Shao Shanbo atuou como membro do Comitê de Estratégia e do Comitê Executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong e foi nomeado chefe da Unidade Central de Políticas, servindo ao chefe do executivo. Ele agora é consultor em tempo integral da Unidade Central de Políticas.

Contexto:

O 25º aniversário da reunificação de Hong Kong é o ponto médio do dos 50 anos do princípio “Um País, Dois Sistemas”. Este é um novo capítulo na reforma do governo e do Conselho Legislativo de acordo com o novo regulamento eleitoral. Porém, incidentes separatistas como "Ocuppy Central" em 2014 e as ondas de violência em 2019, que bloquearam o funcionamento da cidade durante meses, exigem que reflitamos sobre o passado e olhemos para o futuro.

Pontos-chave:

  • Em 1997, quando a soberania de Hong Kong foi legitimamente devolvida à República Popular da China, o governo central de Pequim estava muito preocupado em manter a estabilidade da sociedade de Hong Kong. Consequentemente, decidiu que toda a estrutura do governo e seu sistema de funcionários públicos permanecessem inalterados. Alguns anos antes da devolução, as forças políticas que representavam os “antigos governantes coloniais” introduziram o chamado sistema político democrático, fraturando os partidos políticos e complicando o processo eleitoral para a nomeação do chefe do Executivo e do Conselho Legislativo de Hong Kong. Esta foi uma mudança fundamental para a ilha de orientação exclusivamente comercial até então. Essas mudanças lançaram as bases para a polarização dos últimos 25 anos. No ano passado, o governo central propôs e implementou novas mudanças no processo eleitoral, o que garantiu o alinhamento político do governo de Hong Kong.
  • Tem havido um debate acalorado em Hong Kong e em Pequim sobre se o governo central deveria intervir nos assuntos políticos locais de Hong Kong. Nos primeiros dias após a entrega de Hong Kong, Pequim restringiu-se a uma política de “não intervenção”. A história mostrou, no entanto, que essa política cautelosa não conseguiu impedir as atividades separatistas e contra o governo central. Isso inclusive levou à explosão em larga escala das ondas violentas do movimento separatista em 2019, que interrompeu o funcionamento da cidade por meses. Após os distúrbios de 2019, o governo central finalmente interveio. Mudou a lei de segurança nacional e equipou as agências encarregadas do cumprimento da lei e os policiais com novas ferramentas para agilizar a apresentação de acusações contra indivíduos do movimento separatista e prendê-los quando necessário. Também mudou o sistema eleitoral, garantindo que apenas pessoas comprovadamente leais e patriotas pudessem concorrer a cargos políticos. As intervenções ajudaram o povo de Hong Kong a compreender o papel positivo do governo central nos assuntos políticos locais.
  • O princípio “Um País, Dois Sistemas” permitiu que Hong Kong operasse sob um sistema capitalista por 50 anos para maximizar sua localização única como uma cidade portuária de livre comércio e, assim, agregar valor à construção socialista do continente. Shao acredita que o “Um País, Dois Sistemas” em si não causou os problemas da ilha, mas que foram as forças políticas antagônicas que se opõem à intervenção do governo central as responsáveis pelas rupturas políticas. Recentemente, Xi Jinping pediu ao PCCh que estudasse profundamente este conceito, porque também poderia fornecer o quadro político transitório quando, no futuro, a ilha de Taiwan for unificada com o continente. Segundo Shao, 2047 pode não ser o fim de "Um País, Dois Sistemas" se sua vitalidade e superioridade puderem ser comprovadas pela práxis.

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N.º 52 | 17.07.2022
Jovens quadros se oferecem para ajudar os produtores de uvas no povoado de Rongjin, cidade de Zhangjia. [China Daily]
“O trabalho duro traz oportunidades”: O processo de promoção de quadros jovens de base
Yang Hua (杨华)
Yang Hua (nascido na década de 1980) é professor na Escola de Sociologia da Universidade de Wuhan. Dedicou-se à pesquisa sobre o campo em 2007, visitou quase 20 províncias e cidades na China e publicou um livro intitulado 县乡中国:县域治理现代化 Condado e município na China: a modernização da governança do condado, em 2022, que se tornou imediatamente um bestseller nacional.

Contexto:

Em um novo contexto político, a partir de 2013, jovens quadros de base de toda a China estão avançando numa direção positiva, como exemplificado pela sua proatividade e trabalho junto ao povo. No entanto, o caminho para ser promovido a posições mais elevadas nem sempre é fácil, pois alguns quadros ainda lutam com pensamentos de "auto proteção" e de "aversão a riscos". O relatório de investigação de Yang Hua analisa o processo de promoção de jovens quadros e a compreensão do que isso significa para eles .

Pontos-chave:

  • Antes do 18º Congresso Nacional do Partido Comunista da China (CPC) no final de 2012, a perspectiva dominante dos jovens quadros era a de que as "relações pessoais" eram o principal fator, dentro das fileiras do Partido, para uma promoção bem sucedida em algumas regiões da China. Embora isto não seja verdade no processo de promoção como um todo, esta percepção fez com que os quadros que não foram promovidos se sentissem prejudicados e desapontados, o que levou a muitas queixas.
  • Após o 18º Congresso Nacional do CPC, o mecanismo de seleção e nomeação de pessoal foi corrigido através de uma série de iniciativas lançadas pelo Comité Central do PCCh, que transformaram o clima político interno do partido e do governo.
  • O ambiente para o desenvolvimento dos jovens quadros melhorou significativamente nas quatro formas seguintes: 1) Líderes de unidade (单位 dānwèi) ou setor tomaram a iniciativa de construir um ambiente de trabalho positivo e unificado para que os jovens quadros trabalhassem em conjunto e cooperassem estreitamente. 2) Os líderes de unidade ou setor construíram intencionalmente um mecanismo de desenvolvimento dentro do qual os jovens quadros podem crescer e ser mais cuidadosamente orientados. 3) Os líderes da unidade prestam frequentemente atenção ao trabalho, vida, aprendizagem e desenvolvimento dos jovens quadros. 4) Competência e atitude no trabalho são considerados como os únicos critérios para a seleção e nomeação de pessoal, o que gera um novo ambiente e um novo pensamento – quem trabalhar arduamente, terá uma oportunidade de promoção.
  • Desde 2000, jovens quadros de base, nascidos nos anos 80 e 90, foram promovidos a muitos cargos de liderança. Eles são reflexivos, experientes, enérgicos e ambiciosos, mas ainda sentem muita pressão decorrente de assumirem "responsabilidade política", uma exigência que muitas vezes é projetada nos jovens quadros.
  • De acordo com o inquérito conduzido por Yang, em certas regiões, os jovens quadros sentem-se desmoralizados por esta prestação de contas equivocada; alguns disseram na entrevista da pesquisa que se sentiam como se existisse uma espécie de Espada de Dâmocles, que podia cair sobre eles a qualquer momento: se os seus esforços não conseguirem produzir os resultados esperados, poderiam ser substituídos, realocados e desclassificados rapidamente.
  • Normalmente, esta pressão desmoralizante deriva das seguintes quatro práticas erradas: 1) Os direitos e responsabilidades estão frequentemente em descompasso. 2) Por vezes, há demasiadas tarefas dadas a quadros de base que são consideradas como "tem de cumprir": qualquer tarefa não cumprida significa que o quadro não é promovido e possivelmente é rebaixado. 3) O mecanismo de prestação de contas pode ser manipulado por quadros superiores, que estão habituados a se desresponsabilizar das tarefas e a culpar os seus subordinados. 4) Os quadros de base podem se esgotar por pedidos para cumprirem todas as suas tarefas no mais alto nível de qualidade.
“O sistema de produção estadunidense”: ascensão e fragmentação de um Império industrial
Yan Peng (严鹏)
Yan Peng é professor associado do Instituto de História Moderna da China, Universidade Normal Huazhong, e diretor adjunto do Centro de Pesquisa da Cultura Industrial Chinesa. Ele publicou vários artigos sobre a relação entre o processo histórico de industrialização e o socialismo na China. Ele também publicou um livro intitulado Guerra e Industrialização: A mudança no setor chinês de fabricação de equipamentos durante a Guerra Anti-Japonesa.

Contexto:

As tensões comerciais no mundo se concentram em torno do setor manufatureiro. Durante os últimos cinco anos, a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos se intensificou e continuará a aumentar ainda mais. Yan Peng oferece um ponto de vista baseado em uma análise histórica dos acontecimentos: a base da hegemonia política dos Estados Unidos era um forte setor manufatureiro. Nas últimas décadas, a manufatura dos Estados Unidos tem mostrado um declínio irreversível, apesar dos esforços do governo para reativá-la. Esse declínio se tornou uma das fontes importantes para as tensões políticas e econômicas globais de hoje.

Nota do editor: embora o autor tenha apontado como a fraqueza competitiva contribuiu para o declínio da produção norte-americana, uma análise mais profunda das regras que regem a produção na era do imperialismo é necessária. Desde meados dos anos 90, com o domínio do capital financeiro para maximizar os lucros, o imperialismo americano acelerou a mudança de sua base industrial para o exterior, especialmente para o Sul Global e para a China em particular. Paralelamente, havia outros fatores em jogo: os ganhos de produtividade eliminaram muitos empregos nos Estados Unidos e a falta de investimento em manufatura resultou de investimentos de capital financeiro onde os lucros foram maiores.

Pontos-chave:

  • Como resultado de sua incapacidade de fabricar bens de primeira necessidade durante a Guerra da Independência da Grã-Bretanha, os líderes militares e políticos americanos aprenderam rapidamente a importância vital de ter um setor manufatureiro forte, que pudesse fornecer materiais estratégicos e bens manufaturados. Assim, nasceu o "sistema de produção estadunidense", primeiro desenvolvido pelos militares, e depois introduzido no setor industrial dos EUA, onde continuou a se desenvolver.
  • O "sistema estadunidense" tem duas conotações: a primeira se refere às idéias e práticas protecionistas econômicas dos Estados Unidos do século XIX contra o livre comércio britânico, conhecido como o "sistema institucional estadunidense"; a segunda se refere à ascensão do sistema de produção em massa dos Estados Unidos do século XIX.
  • A mecanização da produção em massa – um sistema de produção padronizado baseado em peças e módulos intercambiáveis – é uma das principais características na evolução da fabricação dos Estados Unidos.
  • A hegemonia militar e política alcançada pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial tornou-se, com o passar do tempo, um paradoxo para a manufatura estadunidense. Para manter sua hegemonia política, os Estados Unidos foram obrigados a fazer concessões econômicas a seus aliados, abrindo seu mercado interno aos bens manufaturados dos aliados. Como resultado, os concorrentes estrangeiros ganharam maior participação no mercado e isso contribuiu para o declínio de indústrias como a automobilística, a siderúrgica e a de máquinas-ferramentas.
  • Os Estados Unidos, entretanto, mantiveram sua liderança inovadora e de longo prazo nas indústrias militar, aeroespacial e de informação eletrônica, o que gerou altas margens de lucro ao alavancar a grande quantidade de capital de conhecimento acumulado.
  • Para o governo dos Estados Unidos, os problemas de desemprego, a perda de trabalhadores qualificados, a falta de auto-suficiência em bens estratégicos de defesa, e a deterioração das economias regionais provocada pelo declínio da manufatura doméstica são graves. Desde os anos 80, os Estados Unidos vêm travando guerras comerciais, primeiro contra seus aliados e depois contra potências emergentes em desenvolvimento.
  • As contradições econômicas dentro dos Estados Unidos representam uma importante razão pela qual a ordem política e econômica mundial entrou numa era de conflito e turbulência, que o poder hegemônico dos Estados Unidos não consegue resolver.

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N.º 51 | 10.07.2022
Taiwan faz parte da China, independentemente do que os EUA afirme [China Daily]
As linhas vermelhas da China em Taiwan são nítidas, independentemente da política de ambiguidade estratégica dos EUA
Zhou Bo (周波)
Como membro sênior do Centro de Segurança e Estratégia Internacional da Universidade de Tsinghua, o Coronel Sênior (reformado) Zhou Bo tem sido uma voz frequente na mídia internacional. Zhou foi diretor do Centro de Cooperação em Segurança do Escritório de Cooperação Militar Internacional do Ministério da Defesa Nacional da China.

Contexto:

Durante sua visita a Tóquio no final de maio, Biden afirmou que os EUA defenderiam Taiwan se fosse atacado pela China. Essa aparente gafe provocou um debate sobre se os EUA estão se afastando de sua política de longa data em relação a Taiwan. No entanto, não foi a primeira vez que Biden enviou “sem querer” sinais errados sobre a questão de Taiwan. O autor sugere que as repetidas “gafes” de Biden precisam ser levadas a sério, e que qualquer intenção oposta ao Princípio de Uma Só China não pode ser tolerada.

Pontos-chave:

  • Apesar de o Exército de Libertação Popular (ELP) ter três porta-aviões e mais navios do que a Marinha dos EUA, Biden continua insistindo em provocar uma guerra com a China, à diferença de sua atitude em relação à Rússia, que é a de evitar o conflito direto. A razão para isso provavelmente esteja no fato de que Moscou ameaçou a Otan com ataques nucleares, enquanto Pequim promete que nunca será a primeira a usar armas nucleares em nenhuma circunstância. Se isso for verdade, Pequim pode ter que mudar sua doutrina militar oficial de ter um arsenal nuclear “pequeno e eficaz” para um de grande escala para, em tese, possibilitar um segundo ataque de retaliação eficaz após sobreviver a um primeiro ataque do inimigo.
  • A suposta gafe de Biden em Tóquio a terceira em nove meses parece sinalizar uma política crescente dos EUA de “clareza estratégica” na questão de Taiwan, o que representa uma mudança em sua política de décadas de “ambiguidade estratégica”. No entanto, a China tem forte confiança na eventual reunificação pacífica com Taiwan, o que fica demonstrado em seu orçamento de defesa para 2022, que se mantém dentro dos 2% do PIB, como tem sido nos últimos anos.
  • Seguindo a Lei Antissecessão da China de 2005, que declarou que qualquer ação separatista de Taiwan é ilegal e punível, o governo nunca permitiria a "independência de Taiwan". A possibilidade de o país recorrer a meios não pacíficos para se reunificar com Taiwan só existe porque, nos últimos anos, Washington vem tentando criar, de forma reiterada, “incidentes” para impedir os esforços do continente de se reunificar pacificamente. Os “incidentes” deram a Pequim uma boa razão para suspeitar que o respeito de Washington ao princípio de Uma China não passa de promessa vazia.
  • A reunificação com Taiwan é um dos principais interesses da China. Isso significa que o ELP não pode se permitir perder uma guerra que luta pela soberania da China. O ELP estará preparado para quaisquer conflitos que os EUA queiram liderar no Estreito de Taiwan e lutará até o fim para impedir a secessão de Taiwan.
A Nova Economia da China: há 20 anos e daqui a 20 anos
Eric Li (李世默)
Eric Li é cientista político, presidente do Conselho Consultivo do Instituto da China da Universidade Fudan e fundador e sócio-gerente da Chengwei Capital. Ele também é o fundador do Guancha — a mais influente plataforma de mídia de esquerda, não governamental, para assuntos atuais e da política na China. Eric Li é um autor famoso, que escreve artigos em que explica o sistema político chinês e sobre governança comparada no mundo anglófono. Seus dois últimos artigos são “Sobre o sucesso da China, o fracasso dos Estados Unidos e a rivalidade irracional” (The Wire China, novembro de 2020), e “Sobre o fracasso da democracia liberal e a ascensão do caminho chinês” (The Economist, dezembro de 2021).

Contexto:

Atualmente, a economia mundial está enfrentando uma pressão descendente e o desenvolvimento econômico doméstico da China está enfrentando muitos desafios. Em seu discurso na Conferência Global de Capital de Risco de 2022, Eric Li discutiu as características do desenvolvimento da Nova Economia da China nas duas primeiras décadas do século XXI e as mudanças esperadas para as duas seguintes.

Pontos-chave:

  • A primeira fase do desenvolvimento da Nova Economia foi de 2000 a 2019 e foi caracterizada por menos regulação estatal do capital, ou seja, o Estado apoiou o rápido crescimento econômico e o capital cresceu com a expansão da escala econômica; no entanto, o investimento em pesquisa e desenvolvimento cresceu de forma relativamente lenta. A nova economia digital foi impulsionada menos pela tecnologia e mais pela maximização dos benefícios externos criados pelo Estado socialista, como o aumento da renda disponível das pessoas, a melhoria na logística e transporte e a expansão da infraestrutura de informação digital. O Estado teve que absorver todos os impactos sociais negativos, incluindo o aumento na diferença de renda.
  • A partir de 2020, a nova economia caracteriza-se por um significativo aumento da regulação estatal do capital, o que significa que tanto investidores como empresários da Nova Economia devem seguir os princípios definidos pelo Estado de promoção do “desenvolvimento de qualidade” e de "sociedade inclusiva".
  • Eric Li sugere que os investimentos neste novo período se concentrem em três prioridades: 1) otimização inteligente da cadeia de suprimentos, 2) substituição de importações de tecnologias, especialmente em áreas como fabricação de chips específicos industriais e 3) desenvolvimento sustentável, especialmente em relação àquelas tecnologias que facilitam o uso de energia verde.
  • O setor chinês de investimentos não deve perseguir cegamente o jogo das finanças na nova economia. Devem estar atentos ao desenvolvimento qualitativo da economia, com base numa compreensão mais profunda de toda a cadeia de suprimentos.
  • Os empresários, e especialmente os tomadores de decisões de investimentos, devem alinhar os benefícios dos retornos de seus investimentos aos interesses do país e o bem-estar do povo e contribuir para o desenvolvimento sólido da economia de mercado socialista.

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N.º 50 | 03.07.2022
A África, um continente em ascensão, deve se comprometer cada vez mais com a Iniciativa do Cinturão e Rota conduzida pela China. [CGTN]

Caro leitor/a,

O Vozes Chinesas está de volta. A partir de agora, publicaremos somente dois artigos por semana, em formato semelhante ao que sempre fizemos. Esta semana, excepcionalmente, temos um resumo mais longo, baseado em um debate crítico entre acadêmicos sobre a presença chinesa na África – com seus avanços, contradições e potenciais – que acreditamos que vocês podem se interessar.

Esperamos que vocês gostem das mudanças.

—Coletivo Editorial Dongsheng

Os impactos do conflito russo-ucraniano na economia mundial
Ding Yifan
Ding Yifan (丁一凡) é pesquisador sênior do Taihe Think Tank e do Instituto de Desenvolvimento Mundial do Centro de Pesquisa de Desenvolvimento do Conselho de Estado. Publicou sete livros sobre globalização econômica, euro, economia em geral, crise financeira internacional, hegemonia dos EUA, hegemonia do dólar e crise da dívida europeia. Ele editou 权力20讲 (Vinte Lições sobre o Poder), publicou dezenas de trabalhos acadêmicos e centenas de artigos em vários jornais e revistas nacionais e contribuiu para volumes internacionais sobre desenvolvimento, taxas de câmbio, proteção ambiental e comércio internacional, entre outros.

Contexto:

O conflito russo-ucraniano está tendo um impacto dramático na economia mundial. À medida que os preços globais de energia e alimentos aumentam, a inflação nos Estados Unidos, Europa e outros países desenvolvidos permanece em níveis elevados, levando à possível eclosão de uma crise financeira. Além de prejudicar sua própria economia, as sanções do Ocidente contra a Rússia não foram capazes de esmagar o país. O aumento dos preços da energia após o conflito aumentou os ganhos em divisas da Rússia e as receitas do governo. A capacidade militar da Rússia não foi afetada pelos custos da operação especial militar.

Pontos-chave:

  • No curto prazo, as indústrias de energia e militar dos EUA se beneficiaram muito do conflito russo-ucraniano, mas o conflito também ampliou os impactos negativos sobre os EUA no médio e longo prazo. Os EUA confiscaram e congelaram ativos russos, censuraram todas as opiniões pró-Rússia e silenciaram vozes críticas, como as que defendem o “Não à Nova Guerra Fria”, expondo assim a verdadeira natureza fascista dos Estados Unidos com nações soberanas.
  • Os países europeus usam uma falsa moral superior no conflito russo-ucraniano. No entanto, se o conflito for prolongado, a Europa pode se tornar o maior perdedor. A UE perderá o seu acesso à energia a preços acessíveis e a sua reputação de lugar seguro para investir, caindo numa era de agitação social causada por crises financeiras e de refugiados.
  • No longo prazo, o conflito remodelará o cenário econômico mundial. Os EUA excluíram as principais transações financeiras da Rússia do SWIFT, mas, em resposta, a Rússia exigiu que as compras de energia russa com o Ocidente sejam realizadas em rublos, o que restaurou a taxa de câmbio normal e fortaleceu a percepção de estabilidade da moeda. Com a deterioração da situação financeira dos EUA e a inevitável desvalorização do dólar, a hegemonia do dólar pode entrar em colapso.
  • Os Estados Unidos pediram a outros países que se unam na implementação de sanções contra a Rússia, e ameaçaram impor "sanções secundárias" aos países que não cooperarem. Os países do Oriente Médio têm grandes ativos em dólares, mas também têm fortes laços econômicos e comerciais com a Rússia, de onde importam mais de 80% de seus alimentos. Na verdade, os EUA não podem impor sanções como quiserem.
  • O comércio entre a Rússia e a China vem sendo realizado em moeda local há um bom tempo, e o volume de negócios continua crescendo. Para combater a "nova Guerra Fria" do Ocidente, a Rússia provavelmente convidará empresas chinesas a participar do desenvolvimento energético na Sibéria e em outras regiões e aceitará o RMB chinês como moeda de investimento.

Resumo:

Desde o conflito russo-ucraniano, a grave situação internacional provocada por Washington entre China, Estados Unidos e Rússia ganhou mais destaque. Para isolar a China e a Rússia, os EUA se retirarão da globalização econômica e tentarão estabelecer novos pactos econômicos com seus aliados, que reduzirão o comércio global, levarão a perdas para corporações multinacionais e aumentarão o peso das dívidas dos governos e a estagflação. Cada vez mais, os países em desenvolvimento precisam de investimento e assistência da China para a industrialização, em vez de produtos manufaturados de alta qualidade dos países desenvolvidos. O Ocidente também intensificará sua competição com a China e outros países emergentes por mercados na Ásia, África e América Latina, o que significa que a próxima rodada de competição de grandes potências mudará o foco para os países da Iniciativa do Cinturão e Rota.

O Déficit Cognitivo e o Reposicionamento Estratégico das Relações Sino-Africanas
Beijing Cultural Review (BCR)
Esta revista foi fundada em 2008 para fins de “Reconstrução Cultural”, dedicada a reorientar e revigorar a cultura e os valores chineses em tempos de mudança da ordem mundial, explorando o novo sistema ético e moral da China e avançando no desenvolvimento da civilização humana. A revista se tornou uma das principais plataformas para intelectuais e profissionais chineses compartilharem seus pensamentos sobre projetos socialistas na China e no mundo.
Associação de Pesquisa Científica do Sistema Eurasiano (ESSRA)
Lançada em abril de 2009, a APCSE é uma organização acadêmica nacional formada por especialistas e acadêmicos envolvidos na pesquisa científica do sistema eurasiano. Seu objetivo é promover o trabalho de pesquisa, reunir e absorver os recursos inovadores do mundo e fazer contribuições importantes para melhorar sistematicamente a capacidade de inovação da China

Contexto:

Depois que a Rússia lançou sua operação militar especial contra a Ucrânia em 24 de fevereiro, as abrangentes sanções ocidentais contra a Rússia mergulharam o sistema internacional pós-Segunda Guerra Mundial em uma crise sem precedentes. A China enfrenta o grande desafio de se reposicionar de forma independente do sistema internacional liderado pelos EUA e se unir aos países em desenvolvimento para construir um novo sistema internacional de desenvolvimento comum, de igualdade e benefício mútuo. O conflito russo-ucraniano também está empurrando a geopolítica africana para a fronteira da grande competição de poder e transformando profundamente as relações China-África.

Neste contexto, em 27 de maio de 2022, a BCR e a APCSE organizaram o seminário Crise da Ucrânia e Questões Africanas no Novo Sistema Internacional, no qual especialistas em questões africanas discutiram três temas principais: África no conflito russo-ucraniano e competição entre grandes potências, O “déficit cognitivo” e o reposicionamento estratégico das relações sino-africanas e o pivô africano na construção de um novo sistema internacional; eles delinearam a importância de um maior desenvolvimento da China e alinhamento de sua estratégia para a África.

Pontos-chave:

Primeira Questão: África no conflito russo-ucraniano e a competição entre grandes potências

Li Xiaoyun (Professor Sênior de Artes Liberais, Universidade Agrícola da China):

  • A direção atual e futura da paisagem geopolítica da África durante esta grande reestruturação do mundo unipolar é caracterizada pelos seguintes pontos: a África mantém bons laços com a China, os Estados Unidos, a União Européia, a Rússia e outros países e regiões; mas a África ainda não entrou no círculo central da competição das grandes potências. A África tende a manter diversos competidores externos, mas precisará “tomar partido” no futuro, aumentando o poder de seus recursos e as possibilidades de aproveitamento da situação geopolítica.

Zhang Hongming (Pesquisador, Instituto de Estudos da Ásia Ocidental e Africana, Academia Chinesa de Ciências Sociais):

  • O jogo geopolítico atual já substituiu a diversidade de potências externas no continente. Os Estados Unidos fortalecerão as relações com os principais países para fortalecer sua posição e tentar alcançar seus objetivos estratégicos na África. Na medida em que a competição entre a China e os EUA na África se tornou mais evidente, o momento tornou-se o melhor para testar as relações sino-africanas.

Zheng Yu (Professor, Escola de Relações Internacionais e Relações Públicas, Universidade de Fudan):

  • O conflito russo-ucraniano reforçou a rivalidade das grandes potências na África, o que poderia fazer com que a China se voltasse mais para o Terceiro Mundo em meio às crescentes tensões entre o Ocidente liderado pelos EUA e a China; também aumentou a força centrípeta do Ocidente como um todo e deslocou o comércio global para blocos comerciais regionais. A Europa e a China aceleraram suas estratégias econômicas e comerciais na África. Em termos de volume de comércio, a China está alcançando o maior parceiro comercial da África, a Europa, e superou em muito os Estados Unidos. As estratégias dos EUA e da UE não alcançaram os resultados esperados, e a China tem agora uma importante janela estratégica para atuar.

Segunda Questão: O "Déficit Cognitivo" e o Reposicionamento Estratégico nas Relações Sino-Africanas

Shu Zhan (Diretor do Centro de Estudos Africanos, Instituto de Estudos Internacionais da China):

  • Em relação à África, o impasse estratégico entre a China e Europa e Estados Unidos já vem de longa data. Mas o povo chinês ainda precisa desenvolver sua compreensão da parceria sino-africana para atender às necessidades estratégicas da África e da China. Somente tendo uma compreensão completa, seremos capazes de colocar as relações sino-africanas na direção certa.

Li Xiaoyun (Professor Sênior de Artes Liberais, Universidade Agrícola da China):

  • No que diz respeito à cooperação sino-africana, os primeiros passos foram dados na década de 1960 através do desenvolvimento da fraternidade próxima entre as nações; o segundo passo foi um maior aprimoramento da amizade sino-africana, começando na década de 1980; e o terceiro é o desenvolvimento atual da parceria econômica e social. A África ainda se encontra numa fase em que o desenvolvimento econômico é a maior prioridade. A opções de investimento, comércio e ajuda da China permanecem cruciais para manter a relação positiva entre a China e a África.
  • Quanto às preocupações com a possível insensibilidade cultural por parte da China, com ênfase estrutural nas relações econômicas, a China tem sido vista amplamente como uma “nova potência rica” no continente. Não podemos, no entanto, abandonar o papel fundamental dos nossos “irmãos ou irmãs africanos” na diplomacia chinesa. Mais importante, precisamos tratar a África como um “parceiro estratégico para o desenvolvimento” realista.

Zhang Chun (Pesquisador, Centro de Estudos Africanos, Universidade de Yunnan):

  • Duas percepções da cooperação sino-africana precisam ser mudadas: primeiro, a forma em que o Ocidente liderado pelos EUA tem respondido e administrado as mudanças das potências internacionais, reviveu a importância estratégica dos países em desenvolvimento como parte integrante da diplomacia chinesa; segundo, há uma falta de análise precisa dos benefícios da Iniciativa do Cinturão e Rota para a África e isso precisa ser remediado.
  • A importância estratégica da China para a África precisa ser melhorada; o atual quadro estratégico baseado no Fórum de Cooperação China-África precisa ser aprimorado; o nível das políticas sino-africanas precisa ser aprofundado; e novos pontos de crescimento para o comércio sino-africano precisam ser fortalecidos.

Yan Hailong (Professora do Instituto Tsinghua de Estudos Avançados em Humanidades e Ciências Sociais):

  • Os objetivos da Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR) são determinados pelos países participantes, mas as incertezas da Iniciativa precisam ser reconhecidas ao mesmo tempo. Aqueles que a criticaram não consideraram o fato de que a China e os países participantes estão passando por uma curva de aprendizado acentuada devido às grandes diferenças culturais e discussão ainda limitada sobre a implementação do pré-projeto.
  • Com o crescimento maciço do comércio bilateral e o influxo de capital privado sob a ICR, a China e as empresas chinesas devem continuar aprendendo e se adaptando, e levando em conta ainda mais as metas sociais e ambientais dos países participantes, além dos objetivos econômicos.

Questão Três: O Pivô Africano para Construir um Novo Sistema Internacional

Zheng Yu (Professor, Escola de Relações Internacionais e Relações Públicas, Universidade de Fudan):

  • O comércio da China com os países da ICR está crescendo rapidamente. Para reduzir os riscos geopolíticos, promover os padrões de infraestrutura chineses e integrar ainda mais a capacidade de produção chinesa com a industrialização africana, a China deve aproveitar esta janela de tempo para estabelecer o Acordo de Livre Comércio Chinês-Africano (TLC), que tem importância estratégica geopolítica e econômica.

Xu Xiangping (Presidente do Conselho de Promoção Econômica e Comercial China-África na Província de Hunan):

  • Atualmente, Hunan está promovendo a cooperação prática com a África em cooperação econômica e comercial e realizando projetos pilotos de comércio em moeda local na África.
  • Diante das dificuldades atuais, mais esforços devem ser feitos para estabelecer e melhorar dez mecanismos de longo prazo na operação, arbitragem, apoio financeiro, logística e prevenção de riscos, entre outras áreas, para a cooperação econômica e comercial sino-africana.

Wang Luo (Diretora do Instituto de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, Instituto de Pesquisa do Ministério do Comércio):

  • A cooperação econômica e comercial sino-africana foi enfraquecida nos últimos anos devido a problemas nos mecanismos de avaliação e compartilhamento de informações entre as partes interessadas relevantes. Os gargalos e barreiras institucionais encontrados pelos departamentos governamentais ao orientar a cooperação das empresas com a África não puderam ser resolvidos em tempo hábil, levando a problemas mais profundos. Devemos fortalecer ainda mais a construção de parcerias entre as partes interessadas nacionais relevantes, como governo, empresas, ONGs e instituições de pesquisa.

Xu Xiuli (Professora da Faculdade de Humanidades e Estudos de Desenvolvimento, Universidade Agrícola da China):

  • Como inovar nos mecanismos globais de fornecimento e governança de bens públicos tornou-se um desafio fundamental. A China deve dar um passo à frente e elevar a prática da cooperação sino-africana para o desenvolvimento de um novo paradigma de governança do desenvolvimento global, fornecendo novos mecanismos e soluções para questões de desenvolvimento e redução da pobreza para a maioria dos países e populações em desenvolvimento.

Hailong Yan (Professora do Instituto Tsinghua de Estudos Avançados em Humanidades e Ciências Sociais):

  • Sob a teoria do sistema-mundo de Wallerstein e o modelo de desenvolvimento de dependência, os projetos e investimentos de infraestrutura da China no exterior geralmente não causaram a desindustrialização local, mas se alinharam às metas de desenvolvimento dos países participantes. Assim, a ICR facilitou a transição de países periféricos para países semiperiféricos, mitigou ao máximo os efeitos desiguais do neoliberalismo e permitiu à China reduzir relativamente o caráter periférico de sua própria economia.

Liu Haifang (Professora associada, Escola de Estudos Internacionais, Universidade de Pequim):

  • A China é atualmente o país mais influente na África por causa de suas excelentes contribuições para a construção e fabricação de infraestrutura, mas os Estados Unidos ainda são considerados o melhor modelo de desenvolvimento para a África. Isso mostra que a China precisa aumentar seu "poder brando". A China deve concentrar-se em estudar e compreender as aspirações da África para um desenvolvimento independente e autônomo, assim como aumentar a sua consciência sobre a posição estratégica de África. Com uma prática mais refinada e aprofundada de cooperação ganha-ganha, o "poder brando" será fortalecido naturalmente.

Resumo:

Em relação ao caminho de desenvolvimento ideológico, China e África têm muito em comum. No entanto, não temos conduzido suficientemente bem a relação entre a China e África, o que levou a uma compreensão insuficiente das necessidades reais de África, a um comércio e outras formas de ajuda ineficazes. Não alinhamos as políticas domésticas africanas com as forças do mercado em jogo, causando má conduta por parte das empresas e entidades chinesas na África, levando ao perigo de inviabilizar os objetivos estratégicos nacionais africanos. Não lidamos adequadamente com a relação entre a China e outros grandes países fora da África, subestimando a ruptura, a contenção e até a supressão dos Estados Unidos e seus aliados. Isso afetou profundamente o bom desenvolvimento da cooperação sino-africana.

As atividades da China na África, e até mesmo o desenvolvimento da ICR, são muitas vezes sujeitas a um duro escrutínio ocidental e interpretações distorcidas. Não fornecemos uma forte liderança cultural no exterior, o que exige que construamos rapidamente um marco sistêmico de narrativas condutoras em futuras pesquisas e práticas sobre tópicos africanos. Na prática, precisamos nos concentrar em maneiras concretas de alinhar melhor as metas da ICR com as agendas de desenvolvimento e as necessidades dos países africanos.

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N.º 49 | 19.06.2022

Queridos/as leitores/as,

Atualmente, estamos revisando o formato do Vozes Chinesas para poder trazer mais análises e debates públicos interessantes e de qualidade da China.

Assim, faremos uma pausa nas próximas duas semanas e lançaremos a nova versão em 3 de julho.

Esperamos que gostem e estamos ansiosos para ouvir seus comentários!

—Coletivo Editorial Dongsheng

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N.º 47 | 05.06.2022
O professor Li Xiaoyun e funcionários agrônomos pesquisam o cultivo de culturas na Tanzânia, em março de 2018. [Universidade Agrícola da China]
O novo paradigma da ajuda externa da China na África
Li Xiaoyun
Li Xiaoyun (李小云) é professor no Colégio de Estudos de Humanidades e Desenvolvimento, Universidade Agrícola da China

Contexto

De acordo com o Livro Branco sobre a Cooperação China-África (2021), entre 2013 e 2018, a ajuda externa da China foi de 270,2 bilhões de yuans, dos quais 45% foram fornecidos à África. No entanto, a ajuda internacional do país é frequentemente mal compreendida e injustificadamente criticada pelo Ocidente. Através do estudo de campo dos Centros de Demonstração de Tecnologia Agrícola da China, ou ATDC, por sua sigla em inglês, na África, Li Xiaoyun explica como a Demonstração de Novo Desenvolvimento, com base na própria experiência de um país, contribui para o desenvolvimento agrícola na África e é superior ao modelo de ajuda ocidental.

Pontos-chave

  • A ajuda ao desenvolvimento ocidental se baseia em um quadro teórico que combina neoliberalismo e neo-institucionalismo, uma abordagem para explorar como as instituições restringem as escolhas e ações dos indivíduos. A ideia é que a pobreza global é o resultado de sistemas de governança política deficientes, e que mudá-los e prestar serviços aos pobres exige o desenvolvimento de um sistema capitalista industrial. Essa lógica clássica de desenvolvimento tem sido usada para justificar o colonialismo ocidental ao ajudar a "civilizar" sociedades subdesenvolvidas.
  • A ajuda ocidental, como uma das principais formas de expansão de sua cultura, é fornecida aos países em desenvolvimento apenas sob fortes condicionalidades. Em comparação, o modelo de ajuda chinesa é um processo de transferência e localização de suas experiências de desenvolvimento similares, sem quaisquer condicionalidades políticas prévias.
  • No final dos anos 70, a China introduziu o sistema de responsabilidade doméstica (家庭联产承包责任制 jiātíng lián chǎn chéngbāo zérèn zhì). Em 1985, especialistas de agricultura chineses usaram a mesma abordagem para desenvolver três áreas de recuperação de arroz em Burkina Faso, com direitos de propriedade da terra indo para o Estado e direitos de uso da terra sendo divididos entre os camponeses. Depois de 2000, o modelo, que era liderado por centros de demonstração agrícola com treinamento técnico, tornou-se a principal forma de ajuda agrícola da China ao continente africano.
  • A ajuda chinesa não segue as normas da ajuda ao desenvolvimento da OCDE aos países em desenvolvimento, mas responde a demandas especiais destes. Enquanto isso, o país se concentra no papel de liderança dos governos e usa meios comerciais e tecnologia moderna para melhorar a sustentabilidade do desenvolvimento.

Resumo

Li assinala que, motivados pela missão nacional e pelos interesses econômicos, os ATDCs da China e os países africanos estabeleceram uma relação mutuamente benéfica. Os centros de demonstração assumiram a missão nacional de orientar as empresas chinesas no setor agrícola africano para investimentos, e fornecer treinamento tecnológico e técnicas de demonstração em larga escala. Essa metodologia tem inspirado os africanos a começar a refletir sobre seus próprios problemas de desenvolvimento e a explorar o caminho de desenvolvimento de sua própria agricultura.

A relação entre o Estado e os camponeses na luta contra a pobreza
Zhou Feizhou
Zhou Feizhou (周飞舟) é professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Pequim

Contexto

Desde o ano de 2021, a China vem avançando em sua estratégia de revitalização rural (乡村振兴 xiāngcūn zhènxīng), depois de ter conseguido a erradicação da pobreza absoluta. Por meio de pesquisas em aldeias pobres em todo o país entre 2018 a 2020, Zhou Feizhou constata que a campanha de alívio da pobreza demonstra uma relação entre o Estado e os camponeses que reflete o Socialismo com características chinesas – a relação da "família e Estado como um só" (家国一体 jiā guó yī tǐ).

Pontos-chave

  • No pensamento tradicional chinês, o Estado é o progenitor e os camponeses são o seu próprio povo (子民 zǐ mín). Ao mesmo tempo, o Estado, como "família grande", precisa cuidar de muitas "famílias pequenas". A luta da China contra a pobreza sempre foi liderada pelo governo, em cujo contexto os quadros da linha de frente (扶贫干部 fúpín gànbù) representam o Estado. A relação entre o Estado e os camponeses na campanha adveio da, mas também mudou a relação tradicional entre a família e o Estado, destacada pela atual dinâmica camponês-Estado (ou camponês-quadro do PCCh).
  • Como "pioneiro" no alívio da pobreza, o investimento em infraestrutura da China ajuda a introduzir capital e tecnologia externos em áreas rurais remotas. Isso, por sua vez, permite que os camponeses encontrem empregos fora das vilas. Por sua vez, o desenvolvimento das indústrias locais ajuda aqueles que não podem sair de suas comunidades a gerarem renda localmente.
  • A maioria das indústrias baseadas em vilas menos desenvolvidas são de mão-de-obra intensiva, e a maior parte da força de trabalho deixada para trás nas áreas rurais são idosos e mulheres. O Estado direciona o capital corporativo para administrar os níveis superior e inferior das cadeias industriais, deixando as cadeias produtivas médias para os camponeses, cuja operacionalização é controlada por famílias. A forte "base social" do campo é mantida com cuidado.
  • A “oficina de alívio da pobreza" (扶贫车间 fúpín chējiān) na vila de Gujia, província de Hebei, é um bom exemplo do alívio da pobreza industrial liderado pelo governo. A oficina oferece oportunidades de trabalho para mulheres locais que foram deixadas para trás. Considerando suas necessidades de atendimento às famílias, a gestão é flexível no tempo e observa com cuidado o folclore e costumes. Essa oficina acabou se enraizando no campo e ajudou as empresas a transformar as perdas em lucros.
  • Para aqueles que têm capacidade para trabalhar, mas estão presos na pobreza por motivos como falta de motivação ou habilidades incompatíveis, o país conta com o apoio de quadros do PCCh alocados nas vilas, bem como com moradores locais para fornecer as ferramentas necessárias para os inspirar a trabalhar. As políticas em si mesmas não podem resolver facilmente os problemas de "pobreza oculta", os quais decorrem de relacionamentos familiares rompidos, por exemplo, pela separação devido à migração de membros da família em razão de questões laborais. Parte do trabalho de combate à pobreza é promover a ética familiar e práticas sociais mais saudáveis.

Resumo

O autor destaca que a luta contra a pobreza revelou um aspecto muito singular da relação entre o Estado e os camponeses: o Estado apoia os camponeses e os inspira a passar de responder a ele para amá-lo. Ao mergulhar no campo, o governo não apenas ajudou a manter a estrutura social rural familiar, mas também deu aos camponeses e às famílias do campo o impulso e o apoio para participar de sua revitalização.

Por que menos mulheres chinesas querem ter filhos?
Wei Nanzhi
Wei Nanzhi(魏南枝)é pesquisadora associada do Instituto de Estudos Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais (CASS)

Contexto

Entre todas as principais economias globais, a China tem uma das maiores taxas de emprego feminino (60,57% em 2019). Recentemente, o governo chinês introduziu uma política de terceiro filho, desencadeando uma discussão acirrada sobre como encontrar um equilíbrio entre carreira e família e como proteger os direitos e interesses das trabalhadoras. Como mãe nascida na década de 1970, Wei Nanzhi analisa o desenvolvimento da emancipação das mulheres chinesas nos últimos 70 anos desde a fundação da República Popular da China, e as complexas razões pelas quais muitas mulheres chinesas estão relutantes em ter filhos.

Pontos-chave

  • As mulheres são uma grande força a ser considerada na causa revolucionária, uma importante lição exemplificada pela liderança do Partido Comunista da China (PCCh) nas revoluções chinesas. O auge do status das mulheres na China ocorreu durante a era do Mao Zedong. Por meio de equipes de produção (生产队 shēng chǎn duì) nas áreas rurais e instituições (单位 dān wèi) nas cidades, as mulheres podiam acompanhar os homens para participar do trabalho social e produtivo. A existência de creches em centros urbanos ou organizações rurais de ajuda mútua para crianças desempenhou um papel fundamental no apoio às trabalhadoras.
  • Após a Reforma e Abertura, os sistemas de apoio social, como creches, desapareceram. As mulheres se tornaram mães em tempo integral ou recorreram às sogras para cuidar dos filhos. Isso faz com que as mulheres voltem à estrutura tradicional das relações familiares, que é mantida pelos direitos de propriedade. Nestas circunstâncias, não é apenas o marido, mas também a sogra que tende a pedir às jovens que desempenhem um papel tradicional. Nesse sentido, a emancipação das mulheres chinesas sofreu um retrocesso.
  • Existem duas visões extremas na discussão atual do feminismo na China: uma é competir com os homens em todos os aspectos, o que é, de fato, um endosso da supremacia masculina. A segunda é ser completamente antagônica aos homens, o que inclui a recusa a casar e ter filhos. Mas a questão da emancipação feminina e da mudança social precisa levar em conta as normas sociais, e o problema não pode ser resolvido simplesmente por meio da ampliação do antagonismo de gênero.
  • A essência da recusa em ter filhos é baseada em lógica econômica, ou seja, mais pessoas custarão mais para administrar. Na relação tradicional entre sogra e nora chinesas, a geração mais jovem de mulheres é reprimida e, depois de aceitar a lógica econômica moderna, a recusa de ter filhos se torna uma forma de rebelar-se contra a repressão tradicional.

Resumo

A autora ressalta que, como país socialista, o governo e o povo chineses deveriam promover conjuntamente a proteção dos direitos da mulher. Além de melhorar leis como a Lei do Matrimônio e a Lei do Trabalho, também é necessário empoderar as mulheres. O governo deve reconstruir os serviços públicos e as organizações de solidariedade social que lhes dão apoio. Por outro lado, é importante estimular ainda mais a energia de 700 milhões de mulheres, e construir mais consenso entre elas, a fim de que tenham mais espaço para equilibrar sua vida pessoal e seu trabalho.

O confronto entre a coalizão Indo-Pacífico dos EUA e a cooperação Ásia-Pacífico da China
Tian Feilong
Tian Feilong (田飞龙) é professor associado do Instituto de Estudos Avançados e da Escola de Direito da Universidade de Beihang

Contexto

No contexto do conflito russo-ucraniano, os Estados Unidos estão promovendo ativamente a "estratégia Indo-Pacífico" através de uma série de meios diplomáticos. Tian Feilong acredita que a viagem de Biden à Ásia não trará paz e desenvolvimento, e levará, ao contrário, a uma situação geopolítica mais arriscada.

Pontos-chave

  • A estratégia geopolítica dos Estados Unidos frente à China e à Rússia como seus principais adversários foi planejada por muito tempo. Os Estados Unidos haviam considerado a política de "aliar-se à Rússia para conter a China". Dada sua política interna, a miríade de divergências com a Rússia, e o foco na manutenção de sua hegemonia global, a elite governante americana finalmente decidiu atacar simultaneamente e lutar em duas frentes.
  • A "Frente Ocidental" da hegemonia dos Estados Unidos se baseia no sistema da OTAN e no liberalismo atlântico, e seu alvo geopolítico é a Rússia. O conflito na Ucrânia é uma consequência geopolítica da expansão da OTAN para o leste. O objetivo da operação militar especial da Rússia era tentar reconstruir um sistema de equilíbrio, ordem e segurança baseado nos princípios de defesa da soberania nacional e do multilateralismo. Entretanto, os Estados Unidos e a OTAN aumentaram o fornecimento de armas à Ucrânia e estão exacerbando a situação ao admitir a Suécia e a Finlândia na aliança.
  • A China é o alvo geopolítico da "Frente Oriental" da hegemonia dos Estados Unidos, empenhados em criar uma estrutura de "Estratégia Indo-Pacífico" para cercar e conter o país asiático, tentando impedir sua contínua ascensão e o desenvolvimento de sua liderança política regional. Entretanto, a situação geopolítica na "Frente Oriental" é mais complexa do que na "Frente Oeste" e há um risco de fracasso para a Estratégia Indo-Pacífico dos Estados Unidos.
  • O Quadro Econômico Indo-Pacífico (IPEF, por sua sigla em inglês) não é uma simples alternativa à Parceria Trans-Pacífico (TPP, por sua sigla em inglês), mas um novo projeto da estratégia hegemônica global de Biden. O IPEF é centrado nos Estados Unidos e visa a fragmentar as cadeias industriais Indo-Pacífico/Ásia-Pacífico e criar conflitos geopolíticos.
  • Um grande número de países em desenvolvimento e países desenvolvidos que não estão alinhados com a estratégia dos Estados Unidos e preferem um desenvolvimento pacífico tem uma compreensão profunda, e até mesmo uma experiência direta, de sua hegemonia e de seus perigos a longo prazo. Eles têm uma necessidade legítima de contrabalanceá-la, e seguir um caminho de desenvolvimento independente e soberano. É por isso que 149 países assinaram acordos de cooperação com a China sob a Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative), com base nos princípios do multilateralismo e da independência de nações soberanas.

Resumo

Na luta contra a hegemonia dos Estados Unidos, a China não defende apenas por sua própria segurança e desenvolvimento, mas também interesses fundamentais de todos os países e povos oprimidos e reféns. Aderindo a um caminho de desenvolvimento pacífico, a China não é um país isolado, nem pode ser facilmente isolada. Os valores da paz e de uma comunidade com um destino compartilhado para a humanidade (人类命运共同体 rénlèi mìngyùn gòngtóngtǐ) são opostos às políticas imperialistas baseadas na diplomacia da Guerra Fria, na contenção dos adversários e no unilateralismo.

Como a priorização do desenvolvimento da indústria pesada acelerou a transição socialista da China?
Zhu Jiamu
Zhu Jiamu (朱佳木) é presidente da Associação de História Nacional da República Popular da China e ex-vice-presidente da Academia Chinesa de Ciências Sociais

Contexto

Após a fundação da República Popular da China em 1949, os líderes chineses previram que a transição da nova democracia para o Socialismo levaria de 10 a 15 anos; no entanto, foram necessários apenas três anos (1953-1956). Zhu Jiamu analisa como o PCCh adotou a estratégia de priorizar o desenvolvimento da indústria pesada, de acordo com o preceito marxista de que "deve ser dada prioridade ao desenvolvimento das indústrias geradoras de meios de produção". Ele destaca que foi essa estratégia que acelerou a transição socialista e a industrialização da Nova China.

Pontos-chave

  • O PCCh decidiu concluir a transição para o Socialismo antes do previsto, tanto em resposta à necessidade de priorizar a indústria pesada para desenvolver as forças produtivas, quanto à assistência da União Soviética para apoiar as prioridades econômicas da China.
  • Por volta de 1952, por meio de repetidas comparações e discussões sobre os caminhos de industrialização da União Soviética e dos países capitalistas, a China abandonou sua ideia anterior de desenvolver a indústria leve antes da indústria pesada e propôs o "Primeiro Plano Quinquenal" (“一五”计划 “yīwǔ” jìhuà), aprendendo com a experiência soviética e priorizando o desenvolvimento das indústrias pesada e de defesa. Este plano recebeu garantias explícitas de assistência por parte da União Soviética.
  • O desenvolvimento da indústria pesada exigiu um grande investimento de capital, e a base industrial muito fraca da China tornou ainda mais necessária a implementação de uma economia planejada altamente centralizada para que o capital limitado e outros recursos pudessem ser concentrados na construção da indústria pesada. Como resultado, a China acelerou a transformação da indústria e do comércio capitalistas em empresas estatais e cooperativas agrícolas.
  • Em 1957, a produção industrial da China representava 56,7% de sua produção industrial e agrícola bruta, o que respondia por cerca de 60% da meta de industrialização socialista do PCCh no período de transição. Além disso, ao final do Primeiro Plano Quinquenal, a China lançou as bases iniciais para o estabelecimento de um sistema industrial independente e completo. A tarefa do período de transição foi cumprida antes do previsto.

Resumo

O ponto de partida para uma rápida transição ao Socialismo está na adaptação das relações da produção interna e do sistema econômico às necessidades da estratégia de priorizar o desenvolvimento da indústria pesada, quanto rápido possível. A China aproveitou a oportunidade favorável da desescalada da Guerra da Resistência à Agressão dos EUA e Ajuda a Coreia (抗美援朝 kàng měi yuán cháo) e a promessa da União Soviética de auxiliá-la na construção do Primeiro Plano Quinquenal para acelerar a industrialização. De 1953 a 1956, a produção industrial total do país aumentou em média 19,6% ao ano, enquanto sua produção agrícola total teve um acréscimo médio de 4,8% ao ano. As conquistas resultantes da priorização do desenvolvimento da indústria pesada lançaram uma base importante para continuar o desenvolvimento da modernização socialista com características chinesas.

(O “Vozes Chinesas” continuará a interpretar o contexto histórico e a lógica de desenvolvimento da sinicização do Marxismo)

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N.º 46 | 29.05.2022
Xangai está reabrindo aos poucos. Uma motorista de ônibus mostra um código QR para que uma passageira o escaneie antes de entrar no ônibus. 24 de maio de 2022. [China Daily]
Como a China pode atingir sua meta de crescimento diante da COVID-19?
Lin Yifu
Lin Yifu (林毅夫) é diretor do Instituto de Nova Economia Estrutural da Universidade de Pequim, e é o ex-economista chefe do Banco Mundial
Sheng Songcheng
Sheng Songcheng (盛松成) é um ex-chefe do Departamento de Pesquisa Financeira e Estatística do Banco Popular da China

Contexto

A economia chinesa enfrenta uma pressão descendente acentuada devido a choques negativos inesperados, incluindo uma nova rodada de surtos da COVID-19 e o conflito russo-ucraniano. Sheng Songcheng prevê que a economia da China se recuperará significativamente no segundo semestre do ano. Lin Yifu acredita que, se a China puder alcançar "dinâmica de infecção zero" (动态清零 dòngtài qīng líng) até o final de maio, é possível atingir a meta de crescimento de cerca de 5,5% este ano. A política dinâmica de infecção zero consiste na orientação chinesa na luta contra a COVID-19, e significa que todos os casos positivos têm sido detectados e são enviados ou para tratamento centralizado ou para quarentena a fim de quebrar a transmissão da COVID-19.

Pontos-chave

  • Ao criar uma "versão asiática da OTAN" e realizar uma cúpula da ASEAN, os Estados Unidos estão tentando persuadir outros países a se desligarem da China, perturbando assim o ritmo do rejuvenescimento nacional da China. Não há necessidade, porém, de se alarmarem. Como o maior país comercial do mundo, a China é um parceiro comercial justo e lucrativo, beneficiando, assim, economias menores e países em desenvolvimento.
  • Desde 2008, a contribuição da China para o crescimento econômico mundial tem sido entre 25 e 30%. Enquanto a China continuar crescendo a uma taxa mais alta e se abrir economicamente, os países europeus e os países da ASEAN não participarão da armadilha de desacoplamento dos Estados Unidos, a fim de assegurar seu crescimento econômico e criação de empregos.
  • No plano interno, o principal problema da economia chinesa é que a confiança empresarial enfraqueceu. Desde o ano passado, tem havido alguns efeitos negativos não intencionais causados pela implementação de certas políticas de médio e longo prazo que são benéficas para o desenvolvimento econômico de alta qualidade, tais como a regulamentação de plataformas on-line, o fortalecimento dos controles duplos sobre a intensidade energética e o consumo bruto de energia e o endurecimento das regras de financiamento para o setor imobiliário carregado de dívidas. A Conferência Econômica Central chinesa enfatizou repetidamente que o desenvolvimento é a base para resolver todos os problemas, e o governo deve manter um crescimento econômico rápido e reconstruir a confiança de maneira oportuna.
  • Depois de atingir zero infecções por COVID-19, a China deve rapidamente retomar a produção e voltar ao normal. Algumas PMEs e microempresas em cidades fechadas estão à beira da falência, e o governo deveria ajudá-las a permanecer à tona, introduzindo medidas como cortes de impostos, isenções fiscais e reduções de aluguel. A equipe de Lin também sugere um esquema de cupons de consumo incluindo 500 yuan vouchers e 500 yuan digitais para famílias de baixa e média renda nas áreas fechadas para apoiar o consumo das pessoas.
  • Sheng aponta que a regulamentação imobiliária pode ser moderadamente relaxada enquanto se adere aos princípios de prevenção de riscos e habitação não especulativa.

Resumo

Sheng assinala que o impacto econômico da epidemia se refletirá principalmente no segundo trimestre, já que se espera que o crescimento do PIB fique em torno de 2,1%, mas chegue a 3,5% no final do primeiro semestre do ano. Com a implementação de várias políticas para estabilizar o crescimento, a economia da China melhorará significativamente no segundo semestre do ano. De acordo com Lin, a China não deve ficar atrás do crescimento econômico dos Estados Unidos. Desde que todos os instrumentos econômicos sejam devidamente utilizados para superar as dificuldades que enfrenta, a China ainda poderá alcançar uma taxa de crescimento anual de 6% nos próximos 14 anos.

A estratégia Indo-Pacífico dos EUA está pressionando a ASEAN em seu jogo contra a China
Liu Zongyi
Liu Zongyi(刘宗义)é secretário-geral do Centro de Estudos da China e Ásia do Sul, Instituto de Estudos Internacionais de Xangai
Huang He
Huang He(黄河)é professor da Escola de Relações Internacionais e Assuntos Públicos da Universidade Fudan
Zhang Yuting
Zhang Yuting(张宇婷)é estudante de pós-graduação da Escola de Relações Internacionais e Assuntos Públicos, Universidade Fudan

Contexto

Alguns dias após a Cúpula da ASEAN, o Presidente Joe Biden visitou a Coreia do Sul e o Japão e anunciou o lançamento do "Quadro Econômico Indo-Pacífico" (IEPF, por sua sigla em inglês). Liu Zongyi assinala que essa moldura visa a ser o pilar econômico da "Estratégia Indo-Pacífico" dos Estados Unidos que serve a seus interesses geopolíticos. Huang He e Zhang Yuting explicam que os Estados Unidos respeitam ostensivamente a "centralidade da ASEAN", mas na verdade usam a "Estratégia Indo-Pacífico" para enfraquecer a coesão interna e a autonomia regional da ASEAN.

Pontos-chave

  • A IEPF foi criada para isolar a China e restabelecer os Estados Unidos como um ator central nas cadeias globais de abastecimento, trazendo outros países da região Ásia-Pacífico para a esfera de influência estadunidense.
  • Ao contrário da Parceria Transpacífico (TPP, por sua sigla em inglês), a IEPF não facilitará o acesso de outros países ao mercado dos Estados Unidos por meio da eliminação de tarifas e barreiras não-tarifárias ao comércio. É evidente que os Estados Unidos não querem proporcionar mais acesso ao mercado para os países asiáticos.
  • A "Estratégia Indo-Pacífico" divide os países em quatro categorias, de acordo com suas relações bilaterais e importância. Essa "abordagem estratificada" dificulta a estrutura original e o processo de cooperação da ASEAN, forçando os países membros a "escolher um ou outro". Ao mesmo tempo, os Estados Unidos escolhem como aliados os países mais fortes dentro da ASEAN, e carecem de interesse em países com níveis de desenvolvimento mais baixos, reforçando ainda mais a lacuna de desenvolvimento entre os Estados-membros.
  • A "Estratégia Indo-Pacífico" se concentra na segurança, defesa e cooperação militar e minimiza as questões econômicas que preocupam a ASEAN. Durante 2010-2019, o comércio bilateral China-ASEAN mais do que duplicou, enquanto que o dos EUA-ASEAN aumentou em apenas 62,65%.
  • A "Estratégia Indo-Pacífico" é uma continuação da "diplomacia" da Guerra Fria dos Estados Unidos, politizando e militarizando disputas, o que entra em conflito com a filosofia da ASEAN de se opor à politização e buscar a cooperação.

Sumário

Liu Zongyi acredita que a posição da China como centro da cadeia de abastecimento asiática foi consolidada e a Parceria Econômica Integral Regional (RCEP) foi lançada, de forma que o "Quadro Econômico Indo-Pacífico" não pode deter a contínua ascensão da China. De acordo com Huang He e Zhang Yuting, da administração Obama à administração Biden, as práticas diplomáticas e regras estratégicas dos Estados Unidos foram limitadas na ajuda para que a ASEAN expandisse sua liderança e influência sobre assuntos regionais, enquanto a China forneceu apoio tangível ao processo de integração da ASEAN e à centralidade da organização através de cooperação prática.

Guerra russo-ucraniana: a União Europeia (EU) e a Ucrânia serão as maiores perdedoras
Chen Wenling
Chen Wenling (陈文玲) é Economista-Chefe do China Center for International Economic Exchanges, um think tank da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma

Contexto

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia já se arrasta por mais de dois meses, durante os quais o conflito vem se intensificando. Segundo Chen Wenling, embora o campo de batalha seja na Ucrânia, o confronto militar tem impactos regionais e globais, tendo tanto a Ucrânia como a União Europeia a perder mais.

Pontos-chave

  • Os Estados Unidos são os iniciadores do conflito russo-ucraniano e seu objetivo é "matar quatro coelhos com uma cajadada só": usar a Ucrânia como peão para provocar o conflito, fortalecendo, assim, uma OTAN controlada por eles, romper os laços entre a Europa e Rússia, para acelerar o fluxo do dólar estadunidense e fornecer contratos lucrativos para os cerca de 4.000 grupos de lobby do complexo militar-industrial dos EUA.
  • Em 2020, as reservas comprovadas de gás natural da Rússia de 37,4 trilhões de metros cúbicos, o que representa cerca de 20% das reservas globais, foram exportadas em grandes quantidades para a Europa por meio de gasodutos. Com o conflito russo-ucraniano instigado pelos EUA, no entanto, as empresas de gás natural dos EUA poderiam usurpar os russos, devido às sanções, e assumir esse lucrativo mercado europeu. Nesse sentido, uma das razões por trás do conflito russo-ucraniano é a batalha pela energia.
  • Os Estados Unidos amarraram seus aliados para sancionar a Rússia, causando um grande impacto na economia mundial, especialmente na Europa. A taxa de crescimento económico da UE caiu drasticamente e surgiu uma crise energética. Além disso, há um alto risco de que o euro seja desvalorizado como resultado da guerra.
  • Os EUA declararam a China seu maior concorrente estratégico e também estão prontos para enfrentar agressivamente este país, juntamente com a Rússia, ao mesmo tempo. O país norte-americano lançou uma guerra ideológica e tecnológica abrangente contra a China, mas não está pronto para uma guerra "quente", já que as economias estadunidense e chinesa estão intimamente ligadas. Além disso, os EUA ainda não fizeram progressos substanciais no fortalecimento de sua cadeia de suprimentos, notadamente em quatro campos principais, incluindo semicondutores. Taiwan, como vetor dos EUA para conter a China, pode ajudá-los a construir fábricas de semicondutores por meio da TSMC, uma gigante taiwanesa na fabricação de chips. Esse plano, no entanto, ainda não foi concretizado.
  • O conflito russo-ucraniano pode afetar a China em três aspectos. Primeiramente, como a Rússia é um dos maiores provedores de petróleo e gás chineses, a intensificação do conflito pode afetar o fornecimento de energia do país asiático. Em segundo lugar, o Ocidente impôs sanções sem precedentes contra a Rússia, e o silêncio da China pode resultar em retaliação dos EUA. Finalmente, o plano da China de construir a Iniciativa do Cinturão e da Rota (一带一路 yī dài yī lù) com a Ucrânia e os países da UE será afetado. No entanto, o impacto geral sobre a economia da China não será significativo.

Resumo

A autora argumenta que a Rússia, um grande exportador de recursos energéticos e alimentos, juntamente com sua indústria militar desenvolvida e seu controle das rotas marítimas do Ártico, é capaz de lidar com o estresse econômico. A Ucrânia, ao contrário, é mera forragem de canhão para manter a hegemonia dos EUA. Em vez de lançar ou provocar guerras, a China promove a paz, o desenvolvimento e o multilateralismo.

A história do C919 : O desenvolvimento do avião doméstico chinês
Lu Feng
Lu Feng (路风) é professor do Departamento de Economia Política da Escola de Governo da Universidade de Pequim
Zhao Yining
Zhao Yining (赵忆宁) é jornalista e autora do livro Megaprojetos em uma Grande Nação

Contexto

No dia 14 de maio, o avião chinês de grande porte C919 completou um voo de teste em Xangai. Construído pela empresa estatal Commercial Aircraft Corporation of China (COMAC, por sua sigla em inglês), o C919 rivaliza com o Boeing 737 e o Airbus 320, e, consequentemente, despertou a atenção generalizada da mídia. Como participante da fundamentação do projeto, Lu Feng relata os processos de tomada de decisão e as reviravoltas do projeto de grandes aeronaves da China, e enfatiza a importância do desenvolvimento independente do projeto diante da pressão dos Estados Unidos sobre o setor tecnológico do país.

Pontos-chave

  • Em 1970, Xangai iniciou o desenvolvimento do primeiro grande avião de passageiros da China, o Y-10, sob instruções de Mao Zedong. Depois de uma década, o Y-10 foi desenvolvido com sucesso e tornou-se uma conquista tecnológica equivalente às "Duas Bombas e um Satélite". Depois que o projeto parou em 1985, a plataforma de P&D, o desenvolvimento da cadeia de suprimentos e o treinamento de talentos também foram interrompidos.
  • Após a crise do Estreito de Taiwan (1995-1996) e o bombardeio da Embaixada chinesa na Iugoslávia pela OTAN (1999), os líderes chineses começaram a investir mais na indústria de defesa nacional, e o projeto de grandes aeronaves foi revitalizado em 2003.
  • O processo de justificativa para o projeto de grandes aeronaves foi árduo. Como as capacidades técnicas da China estavam menos desenvolvidas que as dos Estados Unidos e da Europa, Lu sugeriu aprender com a experiência do primeiro porta-aviões chinês, Liaoning, que foi desenvolvido usando uma velha aeronave ucraniana que a China havia adquirido, e permitindo que o pessoal técnico original da Y-10 retomasse o vôo. Mas a sugestão não foi aprovada.
  • Houve também disputas entre diferentes departamentos governamentais sobre a construção de um avião de transporte militar ou de um avião civil de passageiros. Após duas rodadas de discussão, o governo decidiu construir os dois projetos simultaneamente. Em 2007, a China anunciou o lançamento do projeto de aeronaves de grande porte, com o C919, em Xangai, e o avião de grande porte para transporte em Shaanxi.
  • Quando o projeto foi retomado, eles tiveram que começar do zero devido à falta de uma cadeia de suprimentos relevante e do talento necessário. O orçamento inicial do C919 era de 60-70 bilhões de yuanes, muito superior ao custo do Y-10 (537,7 milhões de yuanes).
  • É correto que o COMAC escolha o caminho independente para P&D, mas a China deveria aprender com as lições do Y-10 e ser mais paciente com os contratempos. O objetivo estratégico do país não deve ser apenas fazer produtos, mas estabelecer uma plataforma de P&D sustentada e realizar uma industrialização avançada.

Resumo

Lu Feng assinala que a conclusão da C919 e seu bem-sucedido voo inaugural certamente afetarão os interesses internacionais. A China não deve subestimar a determinação dos políticos e empresas europeias e estadunidenses em estrangular sua indústria da aviação civil. Mesmo que a Europa e os Estados Unidos não deem ao C919 o certificado de aeronavegabilidade, a China deve continuar o desenvolvimento de sua indústria. Se a aeronave não for autorizada a voar em rotas internacionais, ela ainda poderá fazer voos domésticos. O mercado da China é suficientemente grande para apoiar sua indústria aeronáutica civil.

Como a transformação socialista da China (1953-1956) inovou o Marxismo
He Ganqiang
He Ganqiang (何干强) é professor na Universidade de Finanças e Economia de Nanjing

Contexto

De 1953 a 1956, o Partido Comunista da China (PCCh) levou a cabo uma transformação socialista da propriedade social dos meios de produção na agricultura, artesanato e indústria e comércio capitalistas, também conhecida como "transição socialista" (社会主义改造 shèhuì zhǔyì gǎizào). As medidas foram tomadas de acordo com a linha geral do partido sobre o período de transição, o qual gradualmente estabeleceu um sistema econômico socialista, tendo a propriedade pública como fundação. De acordo com He Ganqiang, a transformação socialista da indústria e do comércio capitalistas (资本主义工商业的社会主义改造zīběn zhǔyì gōngshāngyè de shèhuì zhǔyì gǎizào) foi realizada pelo PCCh através da implementação criativa dos princípios da economia política marxista, os quais possuem um significado histórico e prático de grande alcance.

Pontos-chave

  • De acordo com os princípios marxistas, uma revolução proletária deve "eliminar a propriedade privada". Seguindo esse princípio, combinado às circunstâncias da China, o PCCh dividiu a burguesia em burocratas-compradores burgueses (官僚买办资产阶级 guānliáo mǎibàn zīchǎn jiējí) – os quais serviram ao imperialismo internacional – e à burguesia nacional (民族资产阶级 mínzú zīchǎn jiējí), a qual apoiou a revolução socialista. O Partido adotou uma expropriação direta dos bens do primeiro grupo, enquanto que, em relação ao segundo, adotou a diretriz de "uso, restrição e transformação" e a abordagem não conflituosa e pacífica da "redenção". Por exemplo, através da administração conjunta público-privada (公私合营 gōngsī héyíng), a transformação da propriedade privada capitalista em uma economia pública socialista foi gradualmente alcançada.
  • Durante o processo de transformação, Mao Zedong salientou que "temos agora duas alianças: uma com os camponeses e outra com a burguesia nacional". Ambas as alianças são importantes. Ambas as alianças consolidam a aliança dos trabalhadores e dos camponeses e guiam os capitalistas nacionais para o caminho do Socialismo".
  • A transformação socialista da indústria e do comércio capitalistas promoveu o desenvolvimento da industrialização socialista. Durante o Primeiro Plano Quinquenal (1953-1957), o valor total da produção industrial do país aumentou de 27,01 bilhões de yuanes (1952) para 62,82 bilhões de yuanes (1957), com uma taxa média de crescimento anual de 18%.
  • Após a Reforma e Abertura, a privatização em algumas áreas, especialmente no setor público, enfraqueceu a igualdade social e os interesses públicos. Portanto, devemos ser cautelosos e compreender plenamente que um aumento significativo na proporção de propriedade privada (o setor privado responde por cerca de 75% do emprego) poderia levar a consequências negativas, tais como o aumento da diferença de renda.

Resumo

A conclusão bem sucedida da transformação socialista da indústria e do comércio capitalistas em 1956 deveu-se ao enriquecimento e a inovação por parte do PPCh dos princípios marxistas da revolução comunista. De 1952 a 1956, a composição econômica do setor público socialista da China (incluindo a economia estatal, as cooperativas estatais e a economia cooperativa) aumentou de 21,3% para 92,9%. Deng Xiaoping comentou certa vez que "a conclusão triunfal da transformação socialista da indústria e comércio capitalistas é uma das vitórias mais gloriosas da história do socialismo na China e no mundo".

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