N.º 07 | 08.08.2021
A China como o “inimigo imaginário” dos EUA: a inevitável contradição primordial do mundo
Beijing Cultural Review ( Wénhuà zònghéng)
A Beijing Cultural Review ( Wénhuà zònghéng) é uma revista bimensal chinesa que apresenta comentários de alta qualidade. A revista é dedicada a rever a história e a cultura da China, reavaliando os principais valores ocidentais e explicando a visão do país sobre questões globais.
No encontro do vice-ministro das Relações Exteriores da China Xie Feng com a vice-secretária de Estado estadunidense Wendy Sherman em Tianjin, o líder chinês declarou: “Exortamos os Estados Unidos a mudarem suas concepções extremamente equivocadas e suas políticas de ameaça à China”, ao retratá-la como um “inimigo imaginário”. Este artigo argumenta que a dramática mudança no estilo diplomático da China para um tom mais conflituoso consiste em resposta direta à estratégia dos EUA de conter a China em escala real. Desde os anos 90, a China tem tentado evitar um confronto direto com os Estados Unidos. Agora, embora a China não tenha nenhum interesse em exportar seu modelo institucional e ideologia, seu poder crescente representa um desafio substancial à hegemonia dos EUA. Se os EUA perdessem seu domínio, também perderiam o controle em larga escala dos recursos naturais mundiais, o que a elite governante americana não tolerará, constituindo a principal contradição do mundo de hoje.
As leis de segurança transfronteiriças criam um “catch-22” para as empresas chinesas que pretendem se habilitar no exterior
Liu Yang
Liu Yang é professor associado da Faculdade de Direito da Universidade Renmin da China e pesquisador da Academia Nacional para o Desenvolvimento e Estratégia da mesma instituição, e de seu Instituto de Direito e Tecnologia. Sua principal área de investigação é o Direito Internacional.
Desde julho, a Administração do Ciberespaço da China (Cyberspace Administration of China- CAC) tem conduzido análises de segurança cibernética de várias empresas chinesas no ramo da Internet que recentemente se tornaram públicas nos EUA. Em resposta, a Comissão de Valores Mobiliários e Câmbio dos EUA (US Securities and Exchange Commission – SEC) suspendeu a aprovação de solicitações de “oferta pública inicial” (initial public offering- IPO) por parte de empresas chinesas. Neste artigo, Liu Yang ressalta como as leis de segurança dos EUA e da China podem ser incompatíveis entre si. Por exemplo, a norma estadunidense conhecido como “Lei de Responsabilidade de Empresa Estrangeira” (Holding Foreign Companies Accountable Act-HFCAA), promulgada em dezembro de 2020, exige que as empresas estrangeiras listadas nos EUA divulguem informações adicionais à SEC, tais como relatórios de auditoria, transcrições de inspeção e registros das transações originais. No entanto, fornecer tais informações ao governo dos EUA pode violar a Lei de Segurança Cibernética e a Lei de Segurança de Dados chinesas, e pode colocar em risco a segurança nacional da China. Liu Yang expõe, assim, o dilema enfrentado pelas empresas chinesas que esperam atuar no exterior: o cumprimento das leis de segurança de um país pode constituir um risco à segurança nacional do outro.
Entendendo as relações campo-cidade na China desde 1949
Kong Xiangzhi
Kong Xiangzhi é professor da Escola de Economia Agrícola e Desenvolvimento Rural da Universidade Renmin da China, diretor do Instituto de Pesquisa Cooperativa da China e editor-chefe da Revista de Economia Cooperativa da China. Sua pesquisa se concentra em política agrícola e em economia cooperativa rural.
À medida que a China começa a implementar seu plano de revitalização rural, Kong Xiangzhi afirma que uma filosofia equilibrada de governança e desenvolvimento é essencial para relações campo-cidade saudáveis. No período pré-Reforma, estas relações eram caracterizadas por uma tendência à indústria e aos centros urbanos, longe da agricultura e do campo. De fato, os camponeses fizeram grandes contribuições para preparar o caminho para a industrialização e urbanização da China. Depois de 1978, o PCCh introduziu reformas no sistema fundiário, na fixação de preços dos produtos agrícolas e na gestão da mão-de-obra, aumentando significativamente a renda dos camponeses e aliviando as tensões na relação campo-cidade. O século XXI vem testemunhado uma melhoria substancial nesta dinâmica. Sob a liderança de Xi Jinping, a China encontrou um caminho para o desenvolvimento integrado. A chave é superar a cisão campo-cidade no nível local. Isto pode ser feito através do fortalecimento das capacidades de fornecimento de serviços integrais no nível dos municípios e vilas, a fim de abranger as zonas rurais; construção de interligações e redes de complementaridade através dos municípios, distritos e vilas; e redução das lacunas de desenvolvimento e renda rural e urbana.
A China, para além de buscar o ouro olímpico, deve promover os esportes coletivos
Beijing Cultural Review(Wénhuà zònghéng)
A Beijing Cultural Review (Wénhuà zònghéng) é uma revista bimensal chinesa que apresenta comentários de alta qualidade. A revista é dedicada a rever a história e a cultura da China, reavaliando os principais valores ocidentais e explicando a visão do país sobre questões globais.
Desde que estabeleceu sua meta “voltada para medalha de ouro” (奥运夺金为中心 àoyùn duó jīn wéi zhōngxīn) para os Jogos Olímpicos nos anos 90, a China adotou um sistema esportivo competitivo “bifacetado” (双轨 shuāngguǐ), no qual planejamento governamental e mercantilização coexistem. Para os esportes nos quais a China tem um histórico de medalhas, como tênis de mesa, natação e halterofilismo, o governo expande o investimento e seleciona os melhores atletas a partir das competições de massa. Para as modalidades nas quais a China tem poucas chances de medalhas, como esportes equestres e remo, o governo reduz os investimentos, mas permite que organizações privadas, como clubes e associações esportivas, operem. Alguns departamentos esportivos no nível local promovem oficiais e fornecem apoio financeiro baseado no princípio dos “Jogos Olímpicos em primeiro lugar” (奥运优先 àoyùn yōuxiān) ou usando um sistema de pontos que os concede de acordo com as medalhas obtidas. O artigo afirma que tais mecanismos levaram a um desenvolvimento incompleto dos esportes coletivos. Como resultado, a distribuição de recursos entre os esportes tornou-se desequilibrada. Nos recentes Jogos Olímpicos, por exemplo, quase todas as medalhas de ouro da China foram concedidas a indivíduos ou duplas em vez de equipes. Para resolver o problema, o artigo sugere que as autoridades esportivas deveriam mudar sua mentalidade orientada para a medalha de ouro e impulsionar o desenvolvimento dos esportes coletivos.
Como a “Reorganização Sanwan” de Mao Zedong deu forma ao exército revolucionário e às bases do Partido hoje
Wang Zhigang
Wang Zhigang é pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa Kunlunce. O Kunlunce é um instituto independente fundado por veteranos militares aposentados, acadêmicos e empresários.
O único objetivo do Exército de Libertação do Povo Chinês (People’s Liberation Army-PLA, por sua sigla em inglês) é servir à população de todo o coração sob a liderança do Partido Comunista da China. A origem da liderança absoluta do exército do Partido data de 29 de setembro de 1927, quando Mao Zedong liderou a “Reorganização Sanwan” (三湾改编 sān wān gǎibiān) no distrito de Yongxin, província de Jiangxi. Este remodelamento levou os membros do Partido a se aprofundarem na estruturação da hierarquia do exército, estabelecendo o princípio do trabalho político em seu âmbito. Por meio deste princípio, “as sucursais do partido foram organizadas em rede” (支部建在连上 zhībù jiàn zài lián shàng), de modo que o trabalho do partido pudesse ser realizado entre as unidades mais básicas do exército, onde os soldados lutavam, treinavam e viviam. Wang observa que a Reorganização Sanwan implantou no exército um gene revolucionário, transformando-o no exército do povo com altos ideais e disciplina. Oficiais e soldados entenderam, assim, o porquê de haverem se alistado no exército e por quem estavam lutando, estabelecendo as bases ideológicas e organizacionais para a vitória da revolução. Esta prática de trabalho do Partido de base acabaria se espalhando por todos os âmbitos da vida na construção socialista.
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