N.º 11 | 05.09.2021
Vários mal-entendidos comuns sobre como alcançar a neutralidade de carbono
Liu Ke
Liu Ke (刘 科) é especialista em energia, professor catedrático do Departamento de Química e diretor do Instituto de Energia Limpa da Universidade de Ciência e Tecnologia do Sul em Shenzhen, ex-vice-presidente e Diretor-Chefe de Tecnologia do Instituto Nacional de Energia Limpa e Baixo Carbono do Grupo de Energia da China.
Como a China pode conseguir a neutralidade de carbono quando suas emissões de carbono atingiram 10,3 bilhões de toneladas em 2020, sendo 92% geradas a partir de combustíveis fósseis? Em um discurso recente, Liu Ke apontou vários mal-entendidos comuns sobre como alcançar a neutralidade de carbono. Em resposta à presunção de que a energia eólica e solar possam substituir completamente a energia térmica, Liu indica que a energia eólica e solar geradas anualmente pelo sistema de rede elétrica da China podem compensar apenas cerca de 12,5% da geração total de energia a carvão; além disso, o fornecimento desse tipo de fontes é instável, de forma que não devemos alimentar expectativas excessivamente altas para a tecnologia de armazenamento de energia. No que concerne à conversão de dióxido de carbono em produtos químicos, tais como plástico filme e cosméticos, Liu respondeu com dados: mesmo que todos os produtos químicos no mundo fossem feitos de dióxido de carbono, isso só poderia ser responsável por 13% da redução de carbono nas emissões petroquímicas. Em relação à proposta de captura, reciclagem e armazenamento de dióxido de carbono em grande escala, Liu argumentou que a dependência do atual CCUS (tecnologia de captura, utilização e armazenamento de carbono) não é econômica nem frutífera. No grande impulso por veículos elétricos (EVs), Liu apontou que os EVs podem apenas reduzir parcialmente a poluição; por exemplo, grande parte da eletricidade usada pelo leste do país é gerada no oeste, em regiões como a Mongólia Interior e Xinjiang, que arcam com os custos das emissões de carbono da energia das regiões orientais. Enquanto a maior parte da eletricidade na rede ainda for térmica, os veículos elétricos terão impacto limitado na redução de carbono e na mudança climática global. Liu propôs, então, cinco medidas exequíveis para a redução de carbono.
É hora de os afegãos criarem seu próprio destino
Yue Xiaoyong
Yue Xiaoyong (岳晓勇) foi recém-nomeado Enviado Especial da China para Assuntos Afegãs. Ele trabalhou como embaixador da China no Catar, Jordânia e Irlanda. Eric Li (李世默) é um investidor de risco e cientista político chinês.
Em entrevista dada a Eric Li, Yue Xiaoyong destaca que a melhor estratégia para a China, enquanto vizinha do Afeganistão, é dialogar com o Talibã, independentemente de este mudar ou não seu comportamento. Yue revelou que a China tem mantido processos de consulta estreitos com o Talibã por meio de vários canais. Por exemplo, Yue participou das negociações entre o Talibã e os políticos da ex-República afegã, e da reunião de Doha organizada pelos países vizinhos, incluindo a Rússia, Paquistão, Irã e Turquia. O Talibã prometeu trabalhar em conjunto com parceiros internacionais para combater o terrorismo. A China está preocupada com a maneira como o Afeganistão pretende enfrentar esta crise, uma vez que o Movimento Islâmico do Turquestão (MIT), grupo terrorista listado pela ONU, tem representado uma enorme ameaça para as fronteiras ocidentais da China e seu povo. Yue afirma que a China estará mais envolvida no processo de paz e reconciliação do Afeganistão, garantindo que este país não se torne um berço e refúgio para organizações terroristas. A China apela à comunidade internacional para que aprenda com o fracasso estadounidense no Afeganistão, respeite a soberania de outros países e não interfira em seus assuntos internos. De acordo com Yue, embora o Afeganistão esteja numa situação de emergência, o contexto atual consiste igualmente em uma oportunidade única para os afegãos traçarem seu próprio destino.
Compreender a cultura popular de “fã clube” entre os jovens chineses
Beijing Cultural Review ( Wénhuà zònghéng)
Beijing Cultural Review (Wénhuà Zònghéng) é uma revista chinesa bimestral que oferece comentários de alta qualidade. A revista é dedicada à reformulação da história e da cultura da China, fornecendo uma visão crítica dos valores ocidentais dominantes e explicando os pontos de vista chinesas sobre questões globais.
O governo chinês impôs novas medidas regulatórias para controlar a caótica cultura do “fã clube”(饭 圈 fàn quān), ou comunidades que se organizam on-line criadas para idolatrar celebridades, sobretudo aquelas que têm mais influência digital. Esses fã-clubes têm se transformado numa grande indústria, com profundo impacto sobre o bem-estar da juventude chinesa. As regras vieram depois da detenção do cantor chinês naturalizado canadense Kris Wu (吴亦凡) por acusações de estupro, gerando enorme atenção nas mídias. O artigo explica que a popularidade de uma década da cultura de “fã-clube” surgiu como resultado da intensa competição, alta pressão e ausência de valores sociais dominantes entre os adolescentes, levando-os a constituir “fã-clubes”, em busca da construção de identidades coletivas e autoexpressão. Erigidas do capital, as celebridades se tornaram commodities, em uma economia centrada no lucro. Os fãs expendem um enorme esforço e dinheiro em iniciativas como obter votos para subir o ranking de celebridades, aumentar cliques nas redes sociais, comprar produtos endossados por ídolos e organizar campanhas off-line para criar imagens positivas de seus ídolos. Em vez de uma mera relação de idolatria, como antigamente, a influência dos fãs sobre os ídolos tem aumentado também em razão da crescente interação entre ambos que ocorre por meio de plataformas de mídia social, tais como o Weibo. No entanto, devido à competição acirrada de ídolos e à influência do capital, os fãs costumam comportar-se de forma irracional, desde violência cibernética até divulgação de boatos, criando um “fenômeno de caos on-line”. Para resolver o problema, as medidas do governo incluem a regulamentação de agências de celebridades, limitação da participação de adolescentes, proibição de conteúdos nocivos e violentos e restrição de atividades de marketing voltadas para o consumo excessivo. O artigo sugere que, além das restrições, é preciso melhorar o ambiente social e a visão de mundo dos adolescentes.
Como a educação para o trabalho na China pode resolver o problema dos alunos que executam poucos trabalhos manuais?
Wang Yuxiang
Wang Yuxiang (王玉香) é professora e decana da Escola de Política e Gestão Pública do Instituto de Política da Juventude de Shandong onde Yang Ke (杨克) e Wu Lizhong (吴立忠) são professores.
Quase 30.000 alunos foram entrevistados entre janeiro e março de 2021 pelo Centro de Pesquisa sobre Jovens e Crianças da China. O estudo intitulado “Pesquisa sobre o Trabalho Manual de Estudantes Adolescentes” constatou que a quantidade de trabalho manual realizado por estudantes de escolas e universidades é muito limitada. Mais de 85% dos 13.991 entrevistados no grupo de alunos da escola primária e secundária levam a cabo em média duas horas ou menos de serviço doméstico por semana. A grande maioria dos alunos da escola primária e secundária sabe desempenhar tarefas domésticas simples, tais como fazer limpeza (96,10%) e lavar louça (84,4%), mas muito poucos conseguem executar trabalhos um pouco mais complicados, como jardinagem (27%), e simples manutenção de utensílios domésticos (19,4%). Os resultados da pesquisa sobre o trabalho manual nas escolas são semelhantes. Do ponto de vista da educação para o trabalho (劳动教育 Láodòng jiàoyù), a educação para o trabalho familiar carece de regras rígidas e, no espaço escolar, conta com incentivos, recursos e instalações insuficientes. A educação para o trabalho é um componente importante do sistema educacional socialista chinês, sobretudo no âmbito da educação básica, na medida em que ensina aos alunos habilidades básicas de trabalho manual e os educa para valorizar os trabalhadores. De acordo com a pesquisa, a grande maioria dos universitários é extremamente relutante em executar qualquer trabalho manual, preferindo o trabalho mental. De acordo com Wang Yuxiang, Yang Ke e Wu Lizhong, o fato de os alunos com maior escolaridade terem menor disposição para fazer tarefas domésticas e dar contribuições aos programas comunitários causa grande preocupação. Os autores apelam para uma maior promoção do e sensibilização para o trabalho manual e criativo, tanto no sistema de educação familiar, como no escolar.
Por que o PCCh prioriza a “Prosperidade Comum”: uma perspectiva histórica
Huang Ping
Huang Ping (黄平) é vice-presidente executivo do Instituto Chinês de Hong Kong e ex-diretor do Institutos de Estudos Americanos e Estudos Europeus da Academia Chinesa de Ciências Sociais.
Em uma entrevista recente, Huang Ping enfatizou que o Partido Comunista da China (PCCh) difere-se da definição de partido político existente no mundo ocidental. O PCCh representa os interesses fundamentais do povo e do país. Huang destaca que o Socialismo representa a crença e a convicção do PCCh, o qual não pode ser perdido. Caso o fosse, a hegemonia do capital, a disparidade entre ricos e pobres, a corrupção e até mesmo a divisão do país estariam justificadas. Além disso, a prosperidade comum é o objetivo final a ser conquistado por um grande país socialista moderno. Reconhecendo a necessidade de elevar os padrões de vida ainda baixos na China nos primeiros anos da era da Reforma, Deng Xiaoping declarou que “pobreza não é Socialismo” (1978) e que “o desenvolvimento é o princípio absoluto”(1992, 发展是硬道理Fāzhǎn shì yìng dàolǐ). Ele também enfatizou que “a essência do Socialismo é libertar e desenvolver as forças produtivas, eliminar a exploração e a polarização e, finalmente, alcançar a prosperidade comum”; portanto, “se nossa política levasse à polarização, isso significaria que falhamos.” Huang observa, então, que a China tem se centrado na construção econômica nos últimos 40 anos, havendo obtido grandes avanços no desenvolvimento e erradicado a pobreza absoluta. Entretanto, o país nunca abandonou o compromisso com o Socialismo e com o povo, nomeadamente através da meta de alcançar a “prosperidade comum”. Para resolver a pobreza relativa, segundo Huang, o país precisa remover as novas “quatro grandes montanhas” que recaem sobre o povo chinês: educação, saúde, moradia e pensões. Se estes problemas não forem resolvidos ou não forem resolvidos de forma apropriada, representarão um duro golpe sobre o entusiasmo da juventude patriótica em construir a modernização socialista e o rejuvenescimento nacional. A fim de endereçar tais desafios devidamente, a cúpula do PCCh tem ratificado o objetivo de conquistar prosperidade comum.

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