N.º 20 | 14.11.2021
A terceira “resolução” significativa do PCCh foi adotada na sexta sessão plenária do 19º Comitê Central do PCCh em Beijing. [Xie Huanchi (谢环驰) / Agência de Notícias Xinhua]
Regulamentando a tecnologia financeira (fintech) e a importância de incentivar a inovação enquanto os riscos são minimizados
Wu Xiaoling
Wu Xiaoling (吴晓灵) é ex-vice-governadora do Banco Popular da China (PBC)
Ding Anhua
Ding Anhua (丁安华) é Economista-Chefe do China Merchants Bank

Os observadores estão de olho no "Dia dos Solteiros" ou "Duplo 11" deste ano (双十一 shuāng shíyī), o grande festival de compras online que acontece a cada 11 de novembro. O Dia dos Solteiros foi originalmente criado pela Alibaba de Jack Ma em 2009, que, juntamente com o Ant Group, estava entre as empresas visadas pelos regulamentos de Big Tech do governo chinês neste ano. Wu Xiaolin e Ding Anhua acreditam que, como as críticas às empresas fintech têm aumentado desde 2020, é importante que a China permaneça racional e objetiva, cultivando um melhor entendimento da inovação e do desenvolvimento do setor. Wu apresenta três vantagens principais das empresas fintech. Em primeiro lugar, podem servir, a um custo menor, às micro e pequenas empresas (小微企业 xiǎo wēi qǐyè), que são negligenciadas pelas instituições financeiras tradicionais. Este modelo de serviço inclusivo contribui muito para o desenvolvimento da economia real da China. Em segundo lugar, as empresas fintech têm desempenhado um papel de liderança no atendimento às necessidades dos clientes e no aprimoramento da experiência do cliente. Elas atendem de forma inovadora aos "sem banco" (白户 bái hù), aqueles que não possuem conta bancária ou aplicativos de pagamento móveis, o que amplia a inclusão financeira no país. Em terceiro lugar, as empresas fintech estão conduzindo à transformação digital do sistema financeiro. A China agora lidera o setor de fintech em todo o mundo, especialmente em pagamento móvel, empréstimos e crédito ao consumidor e gestão de patrimônio digital. As empresas fintech, no entanto, trouxeram novos desafios para os formuladores de políticas públicas, desde monopólios de plataforma, manipulação incorreta de dados pessoais, estilos de vida alimentados por dívidas até algoritmos enviesados. Além disso, as empresas fintech também podem representar novos riscos sistêmicos para o sistema financeiro. Portanto, a fim de mitigar esses riscos e, ao mesmo tempo, estimular a inovação, os autores recomendam que a China implemente uma "regulamentação macroprudencial".

Governança de base da China: um estudo de caso nos esforços antipandemia em Wuhan
Liu Wei
Liu Wei (刘伟) é professor da Escola de Política e Administração Pública da Universidade de Wuhan
Liu Yuanwen
Liu Yuanwen (刘远雯) é doutoranda na Escola de Relações Internacionais e Assuntos Públicos da Universidade Fudan

Até novembro de 2021, a pandemia COVID-19 já ceifou mais de cinco milhões de vidas, com 251 milhões de casos registrados em todo o mundo. A forma como a China lidou com a pandemia continua sendo uma questão importante, nacional e internacionalmente. Liu Wei e Liu Yuanwen se concentram em como a governança de base do país desempenhou um papel na luta contra a epidemia em Wuhan em 2020. Mesmo em circunstâncias normais, as comunidades de base de bairro (社区 shèqū) e subdistritais (街道 jiēdào) enfrentam há muito tempo a realidade de tarefas pesadas, poucos recursos e poucos poderes. No contexto da pandemia, Wuhan demonstrou sua capacidade de melhorar a eficiência de seu sistema administrativo, estrutura de gestão e responsabilidade e mobilização de base, o que permitiu que a cidade concluísse tarefas extraordinárias e difíceis. Com relação ao primeiro ponto, Wuhan reajustou continuamente seu sistema administrativo à medida que a epidemia se desenrolava: em 20 de janeiro de 2020, o Comando Municipal de Wuhan para Prevenção e Controle da Epidemia de COVID-19 (武汉疫情防控指挥部 wǔhàn yìqíng fáng kòng zhǐhuī bù) criou oito grupos de trabalho, incluindo segurança de emergência, comunicação pública, transporte e tratamento médico; em 16 de fevereiro daquele ano, quatro novos grupos foram estabelecidos em Wuhan, incluindo um responsável pelos leitos hospitalares e pela coordenação com as equipes médicas de ajuda de outras regiões; em 21 de fevereiro, um novo grupo de tratamento médico para casos descartados de COVID-19 foi constituído. Em segundo lugar, Wuhan melhorou gradualmente sua estrutura de gestão e responsabilidade. Por exemplo, um grande número de quadros do Partido foi enviado para a linha de frente (下沉 xià chén) para lutar contra a epidemia. No entanto, eles enfrentaram limitações devido à estrutura de poder hierárquica, resultando na confusão administrativa decorrente da existência de múltiplos líderes. Em resposta, Wuhan decidiu criar sucursais temporárias do Partido e alocar quadros despachados sob o comando de organizações comunitárias do Partido. Essa estrutura organizacional reformulada garantiu que as tarefas fossem executadas com eficiência. Finalmente, o Comitê do Partido Municipal de Wuhan e o governo municipal publicaram uma carta aberta aos membros do PCCh para encorajar e enfatizar que os quadros deveriam desempenhar um papel de liderança no processo. Além disso, quadros de todos os níveis de inspeção disciplinar e dos órgãos de supervisão foram enviados para fiscalizar o trabalho realizado no terreno. A mobilização do Partido e a sua disciplina interna permitiram que membros e quadros do PCCh fossem ao terreno e lutassem contra a epidemia, considerada sua missão política mais importante. De acordo com os autores, esses fatores levaram ao sucesso do controle e superação da pandemia em Wuhan.

A quem se devem as emissões de carbono da China, a “fábrica do mundo”?
Wen Jiajun
Wen Jiajun (文佳筠) é pesquisadora visitante no Instituto Chongyang de Finanças, Universidade Renmin da China.

Na cúpula climática de Glasgow, a China foi alvo de críticas e serviu de bode expiatório para o câmbio climático. Wen Jiajun aponta que uma das principais razões para o dramático aumento das emissões de carbono da China é porque ela serve de "fábrica do mundo". Os países desenvolvidos exportam suas indústrias manufatureiras para países em desenvolvimento, como a China, e, assim, terceirizam suas emissões de carbono e a poluição a elas associada. Por exemplo, 7 a 14% das emissões de carbono da China provêm da produção de bens para o mercado consumidor dos Estados Unidos. Com a China produzindo bens para o mundo, a questão de "a quem realmente se devem as emissões de carbono da China" precisa ser levada em consideração. Ao mesmo tempo, existe uma enorme disparidade geográfica entre os emissores de carbono e os países afetados pelo câmbio climático. Wen aponta o fato de que, em 2000, 28% das emissões globais de carbono vieram da América do Norte, mas apenas 0,09% da África Central, que vem sofrendo graves desastres relacionados ao clima. Os países desenvolvidos representam apenas 20% da população mundial, mas respondem por 75% das emissões de carbono acumuladas globalmente. Os EUA são o maior emissor cumulativo e per capita de carbono, mas se retiraram de todos os acordos sobre câmbio climático, incluindo o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris. Apesar de ser uma vítima do câmbio climático, como outros países em desenvolvimento, a China tem cumprido seus compromissos de redução de emissões nos últimos anos. Ela introduziu o "Novo Conceito de Desenvolvimento" (新发展理念 xīn fāzhǎn lǐniàn), que propõe a harmonia entre natureza e desenvolvimento verde, uma estratégia de "duplo carbono" (双碳 shuāng tàn) – pico de emissões e meta de neutralidade –, e está desenvolvendo novas tecnologias de energia e transporte público. Segundo Wen, embora as ONGs ambientais tenham crescido nos últimos anos na China e melhorado a conscientização pública, parte de sua classe média ainda mantém como padrão o estilo de vida de alto consumo similar ao dos EUA, enquanto negligencia as catástrofes climáticas que afetam regiões e populações vulneráveis na China. Por exemplo, o número de proprietários de automóveis particulares no país correspondia aproximadamente a 244 milhões no final de 2020, com uma taxa de crescimento de média de 13,6% por ano nos últimos cinco anos. Explorar as possibilidades reais de uma economia de baixo carbono requer o rompimento com a aspiração ao "sonho americano" e repensar o modelo de desenvolvimento de que a China precisa.

Como jogar esportes eletônicos se tornou uma profissão na China
Ma Zhonghong
Ma Zhonghong (马中红) é professora da Escola de Comunicação da Universidade Soochow

No último 6 de novembro, o time de esportes eletrônicos chinês Edward Gaming (EDG) venceu o Campeonato Mundial da Liga das Lendas (LoL, por sua sigla em inglês), o qual se tornou uma sensação online entre os millennials. Ma Zhonghong aponta que, embora os esportes eletrônicos ou e-sports (电子竞技 diànzǐ jìngjì) – competições de videogame multiplayer – tenham sido classificados pelo governo como um esporte oficial em 2003, ainda carregam o estigma de ser um "ópio espiritual" ou um "vício da internet" voltado para os jovens do país. O reconhecimento também tem sido objeto de grande debate, com alguns argumentando que os e-sports são apenas "competição" ou "entretenimento", enquanto outros acreditam que é uma atividade esportiva "intelectual" da era da informação. No entanto, a indústria de esportes eletrônicos tem se desenvolvido rapidamente. Em 2020, o número de praticantes chegou a 520 milhões, e o valor de mercado ultrapassou os US$ 15,6 bilhões. Dominado por homens jovens, a idade média dos 130 jogadores de e-sports do Campeonato Mundial de LoL no ano passado era de 20,8 anos, dos quais 82,3% tinham menos de 23 anos. Por sua vez, quase metade dos jogadores profissionais do país possui apenas diplomas de ensino médio ou técnico (中专 zhōng zhuān). A pouca idade e o nível de escolaridade relativamente baixo desses jogadores, atraídos pelos altos salários do setor, também têm gerado críticas públicas. O salário médio dos 440.000 jogadores profissionais de e-sports da China ultrapassou US$ 1.720 por mês no primeiro semestre de 2019, superando a média salarial local. Alguns jogadores conhecidos podem ganhar até US$ 156.000 por ano. Em 2017, o Ministério da Educação acrescentou "esportes eletrônicos e gestão" à lista de cursos universitários e 131 universidades chinesas passaram a oferecer cursos de graduação até o momento. A autora afirma que os e-sports – como uma nova profissão que atrai os jovens e recebe o reconhecimento do governo – ainda precisam ser compreendidos e aceitos pela sociedade chinesa em geral.

As duas significativas “resoluções históricas” na história do Partido Comunista da China (PCCh)
Shi Zhongquan
Shi Zhongquan (石仲泉) é ex-vice-diretor do Escritório de Pesquisa da História do Partido do Comitê Central do PCCh e presidente da Sociedade para o Estudo do Pensamento de Mao Zedong e da Teoria de Deng Xiaoping

A sexta sessão plenária do 19º Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh), realizada de 8 a 11 de novembro, adotou a terceira "resolução histórica" (历史决议 lìshǐ juéyì) significativa, resumos oficiais da história do Partido que abordam as principais conquistas e norteiam as políticas futuras. Desde a fundação do PCCh em 1921, duas importantes resoluções históricas foram adotadas. A "Resolução sobre Certas Questões da História de Nosso Partido" de Mao Zedong (1945) foi o resultado teórico do Movimento de Retificação Yan'an (延安整风运动 yán'ān zhěngfēng yùndòng) (1942-1945), criticando as três linhas políticas “esquerdistas" e afirmando a posição de Mao na história do Partido. A resolução foi redigida e revisada pessoalmente por Mao ao longo de um período de 15 meses. Foi a primeira vez que o Pensamento de Mao Zedong , como uma teoria da sinicização do Marxismo (马克思主义中国化mǎkèsī zhǔyì zhōngguó huà), foi claramente apresentado sob a forma de um documento do Partido para guiar a Revolução Chinesa. Nesta resolução, o PCCh realizou a sua primeira autorrevolução interna (自我革命 zìwǒ gémìng) – descrevendo o espírito e a prática do Partido em se renovar e se aperfeiçoar. Aderindo ao objetivo de "clareza ideológica e unidade entre camaradas", a Resolução também lançou as bases políticas, ideológicas e organizacionais para a união do Partido na guerra vitoriosa contra a agressão japonesa. A "Resolução sobre Certas Questões Históricas do Partido desde a Fundação da República Popular da China" (1981) de Deng Xiaoping forneceu um resumo científico das principais questões históricas após a fundação da Nova China. Ela incluiu uma avaliação muito positiva do período de completude básica da transformação socialista (1949-1956) e o destaque dos principais erros da "Revolução Cultural" (1966-1976). A Resolução avaliou factualmente o status histórico de Mao e afirmou a importância do Pensamento de Mao Zedong como a ideologia norteadora do Partido, enfatizando que sua teoria deveria ser distinguida dos erros dele durante seus últimos anos. A Resolução também apresentou, pela primeira vez, a ideia de "Estágio Primário do Socialismo" (社会主义初级阶段 shèhuì zhǔyì chūjí jiēduàn), levantando questões sobre a forma e os meios para construir o Socialismo, o que foi fundamental para definir posteriormente o caminho para o Socialismo com características chinesas. Até hoje, as duas resoluções históricas permanecem sendo uma base importante para que o PCCh – o maior partido político do mundo com mais de 90 milhões de membros – ajude a estabelecer um consenso sobre suas próprias questões históricas.

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