Desde que tomou posse, a administração Biden fortaleceu o Diálogo de Segurança Quadrilateral – também conhecido como “Quad” – entre os EUA, Japão, Índia e Austrália, como um elemento central de sua estratégia Indo-Pacífico, visando a conter a ascensão da China, geopolítica e economicamente. Ao revisitar e revisar o contexto histórico que lastreia o desenvolvimento do Quad, Cao Pengpeng e Shi Bin apontam que os interesses divergentes e as prioridades políticas dos Estados membros têm limitado o processo de construção da aliança. Por exemplo, como um país fortemente dependente de recursos importados e exportação, o Japão mantém uma estratégia "livre e aberta" em vez de uma estratégia "conflituosa" para a região Indo-Pacífico, a fim de servir a seus interesses nacionais. Assim como o Japão, a Austrália, em várias ocasiões, tem focado no fortalecimento de sua autonomia estratégica e enfatizado a natureza não confrontativa do Quad. A Índia ainda não consolidou uma postura estratégica de alinhamento total com os Estados Unidos, mesmo após o conflito fronteiriço com a China, e espera que o Quad permaneça uma organização informal sem obrigações vinculantes. De acordo com o autor, embora Japão, Índia e Austrália tenham preocupações e conflitos geopolíticos distintos em relação à China, os três expressaram hesitação quanto à contenção do país. Uma razão fundamental é que todos os membros do Quad têm a China como seu maior parceiro comercial. Além disso, a exclusividade desta aliança está fadada a aumentar a instabilidade regional e as tensões políticas e militares, o que não serve aos interesses de países não-membros. Em particular, a ASEAN, um importante motor da cooperação regional, não está interessada em "escolher lados" entre a China e os EUA. De acordo com os autores, as ambições do Quad não se alinham aos interesses de segurança regional, o que dificulta a realização do objetivo da aliança de conter a ascensão da China na região.
O processo de globalização econômica não terminou; ao invés disso, um novo paradigma está surgindo. Em 1º de janeiro de 2022, o maior acordo de livre comércio do mundo, a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, por sua sigla em inglês), entrará em vigor para dez países – seis membros da ASEAN, juntamente com a China, Japão, Nova Zelândia e Austrália. Yu Miaojie e Jiang Haiwei observam que esse novo mercado integrado compreenderá cerca de um terço da economia mundial, expandindo ainda mais a influência econômica da China na região. Isso, por sua vez, ajudará a impulsionar a recuperação econômica na Ásia-Pacífico e no mundo. De acordo com os autores, o fluxo de importações e exportações de mercadorias da China em relação aos países da RCEP cresceu em média 10% ao ano nas duas últimas décadas. Durante o mesmo período, o comércio da China com os países membros vem sendo responsável de forma consistente por mais de 30% das importações totais da China e mais de 20% de suas exportações. Desde 2017, o investimento da China nesses países também cresceu 32,9% ao ano. Notavelmente, os altos padrões e regulamentações da RCEP permitirão à China otimizar sua configuração de comércio exterior e investimentos e estabelecer um "novo sistema para uma economia aberta de alto nível" (高水平开放型经济新体制 gāo shuǐpíng kāifàng xíng jīngjì xīn tǐzhì). Além disso, a RCEP pode aumentar as vantagens comparativas da China e promover o desenvolvimento da estratégia de "dupla circulação" do país. Por exemplo, a RCEP irá harmonizar as regras de origem, tornando os produtos intermediários da China elegíveis para o comércio livre de tarifas, promovendo, assim, o fluxo desses produtos. A China poderá ter acesso a mercados terceiros dos países do Sudeste Asiático e expandir o comércio de reexportação para evitar as tarifas impostas pelos EUA. Em termos de tarifas, a RCEP terá seu maior impacto sobre a China e o Japão. Em seu âmbito, a China removerá as tarifas incidentes sobre 85% dos produtos industriais do Japão – que correspondem a mais de 8% – tornando-a um importante mercado para as importações regionais.
Com o objetivo de desenvolver a inovação independente do país (自主创新 zìzhǔ chuàngxīn), a China vem se concentrando em tecnologias essenciais em áreas-chave, incluindo semicondutores e controle numérico computadorizado (CNC, por sua sigla em inglês ). A forma pela qual resolver os "problemas de estrangulamento" do país (卡脖子问题 qiǎ bózi wèntí), no entanto, segue em debate, com alguns agentes governamentais defendendo um maior investimento em pesquisa básica. Ao contrário da pesquisa de tecnologia aplicada, a pesquisa básica é um estudo científico que não se concentra no desenvolvimento de aplicações ou produtos específicos. Lu Feng, no entanto, insiste que investir em pesquisa básica para resolver os problemas centrais do país é equivocado, por acreditar que a inovação tecnológica deve ser desenvolvida por meio da prática. A China conseguiu desenvolver seu próprio circuito integrado em 1965, que não se tornou uma indústria competitiva devido ao seu foco no desenvolvimento militar e nacional. Nos anos oitenta, a China começou a mudar sua estratégia de autossuficiência em indústrias como o desenvolvimento de semicondutores e aeronaves de grande porte, passando a uma baseada na importação de tecnologias avançadas de outros países, a fim de recuperar sua competitividade. Por esse motivo, o setor de smartphones da Huawei foi duramente atingido, após seu fornecimento de chips do exterior haver sido cortado em razão das sanções dos Estados Unidos e de seus aliados. Lu acrescenta que os fabricantes chineses estão atualmente integrados em todos os estágios da cadeia global de suprimentos de chips. Ainda assim, eles atuam como fornecedores para clientes internacionais com base em seus próprios padrões, resultando em uma indústria de chips doméstica fragmentada, tornando-a vulnerável e com maior probabilidade de ser afetada pelo ambiente internacional hostil. De acordo com Lu, redesenhar a cadeia de fornecimento nacional de semicondutores é a chave para resolver o estrangulamento no abastecimento de chips. Para conseguir isso, somente o governo pode intervir para conectar a cadeia de abastecimento doméstica do país e atender ao seu mercado interno.
Com base nos dados do sétimo censo demográfico nacional da China, divulgados no primeiro semestre de 2021, Li Qiang oferece uma perspectiva diferente sobre o senso comum de "estratificação consolidada" (阶层固化 jiēcéng gùhuà) – ou falta de mobilidade social. Desde a Reforma e Abertura, sobretudo a partir de 2000, a "mobilidade intergeracional" (代际流动率 dàijì liúdònglǜ) do povo chinês tem aumentado e mantido um nível relativamente alto em nível global. Na década de 1990, a taxa de mobilidade intergeracional da China era semelhante à dos EUA, mas o país asiático a ultrapassou após os anos 2000. Por meio de uma análise comparativa dos nascidos antes de 1934, de 1975 a 1979, e de 1980 a 1989, Li mostra que, quanto mais jovem a geração, maior a mobilidade social – a qual continua subindo ano a ano. Na análise de Li, a mobilidade social considera fatores empregatícios, financeiros e educacionais. Citando uma pesquisa conduzida pela equipe de Lu Xueyi (陆学艺), Li aponta que apenas 15,4% dos administradores públicos e estatais de hoje são filhos de quadros do Partido Comunista, gerentes de negócios e proprietários de empresas. O restante provém de outros contextos familiares, incluindo 46,2% de famílias camponesas. Da mesma forma, os casos dos "funcionários do governo de segunda geração" (官二代 guān èrdài) e "ricos de segunda geração" (富二代 fù èrdài), que atraem significativa atenção do público e normalmente são usados como exemplos de declínio da ascendência social, são, de fato, incomuns. Li também destaca que a classe média da China, agora excedendo 300 milhões de pessoas e representando 25% de todos os grupos de empregados, expandiu significativamente, devido ao rápido crescimento econômico do país. No entanto, as pessoas desse grupo podem estar suscetíveis a cair novamente na faixa de baixa renda. Dessa forma, o autor enfatiza a necessidade de melhorar as vias para a efetiva mobilidade social, tais como educação, tecnologia e oportunidades de emprego.
Em 1917, os levantes armados nas cidades russas de Petrogrado (7 de novembro) e Moscou (15 de novembro) lograram vitórias. Sob a bandeira da Revolução de Outubro, floresceu a luta pela libertação dos povos do mundo. De acordo com Yang Zhenwen, a razão por trás da grande vitória da Revolução de Outubro foi o surgimento de um Marxismo-Leninismo “russificado”, desenvolvido a partir da realidade da Rússia. Em vez de ser dogmático, Lenin foi um marxista criativo, que aprofundou as teorias do Socialismo. De acordo com ele, "A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Do que se deduz que é possível que o socialismo comece triunfando somente nalguns países capitalistas, ou mesmo em um só país isoladamente." A atitude científica de Lenin em relação ao Marxismo também influenciou muito Mao Zedong, que também se opôs ao culto ao livro (本本主义 běnběn zhǔyì) e ao dogmatismo (教条主义 jiàotiáo zhǔyì), insistindo, “sem investigação, sem direito de falar” (没有调查就没有发言权 méiyǒu diàochá jiù méiyǒu fāyánquán). Mao enfatizou a aplicação e o desenvolvimento contínuo do Marxismo-Leninismo na solução dos problemas reais da Revolução Chinesa, o que levou ao desenvolvimento do Pensamento de Mao Zedong (毛泽东思想 máozédōng sīxiǎng) – a sinicização do Marxismo. Mao buscou um caminho revolucionário adequado às condições nacionais da China e à construção socialista, fazendo valiosas contribuições teóricas, que incluíam "cercar as cidades do campo e tomar o poder por meio da luta armada" (农村包围城市武装夺取政权 nóngcūn bāowéi chéngshì wǔzhuāng duóqǔ zhèngquán). O autor aponta que três palavras-chave, “pôr em prática” (实践 shíjiàn), “prática” (实际shíjì) e “independência” (独立dúlì), representam o espírito da Revolução de Outubro – e a interpretação que lhe conferiu Mao – que guiou a Revolução Chinesa até à vitória.
Inscreva-se para receber Vozes Chinesas. O resumo é publicado todos os domingos em inglês, espanhol e português.Baixe o PDF dos artigos completos (traduzidos automaticamente) deste número. As opiniões dos artigos não são necessariamente compartilhadas pelo coletivo editorial Dongsheng.
Siga nossas redes sociais:
- Twitter: @DongshengNewsBR (português), @DongshengNews (inglês), @DongshengNewsES (espanhol)
- Telegram: Notícias da China, News on China, Noticias de China
- Instagram: @DongshengNews (inglês)
- YouTube: Dongsheng News