


Na cúpula do G7, em junho de 2021, os EUA lançaram um plano global de desenvolvimento de infraestrutura, tentando unir seus aliados para competir com a Iniciativa do Cinturão e da Rota (BRI, por sua sigla em inglês) liderada pela China (一带一路 yīdài yīlù). Além de lidar com a pressão do G7 sobre a China, a cooperação qualificada sob o BRI precisa enfrentar riscos e desafios, tais como a pandemia. Apesar desta situação, a execução da iniciativa não parou, de acordo com um relatório divulgado por Wang Wen e sua equipe de pesquisa. Primeiramente, o BRI continuou a expandir-se e, até julho de 2021, a China havia firmado 206 documentos de cooperação com 140 países e 32 organizações internacionais, e iniciativas como a "Parceria do Cinturão e da Rota para Cooperação em Vacinas contra a COVID-19" também receberam o apoio das Nações Unidas. Em segundo lugar, muitos projetos marcantes foram concluídos com sucesso durante a pandemia, tais como a abertura da Rodovia Vientiane-Boten no final de 2020 e a Ferrovia China-Laos no final de 2021, o que contribuiu para a conectividade e, portanto, para a recuperação econômica ao longo do Cinturão e da Rota. Em resposta à pandemia, o Trem Expresso China-Europa transportou 9,39 milhões de peças, ou 76.000 toneladas, de suprimentos médicos, fornecendo ajuda médica essencial aos países do BRI. Em terceiro lugar, a nova infraestrutura está contribuindo para a digitalização dos países ao longo do Cinturão e da Estrada de Ferro. Em maio de 2020, por exemplo, a China Mobile iniciou a construção do 2Africa, um cabo submarino de fibra óptica ligando o Oriente Médio e o continente africano, em cooperação com a Telecom Egito e a South Africa Telecom. Até o momento, a China concluiu um sistema de cabo terrestre transfronteiriço com doze países vizinhos e quatro cabos submarinos internacionais, e apoiou o "Projeto de Acesso à TV Via Satélite para 10.000 Vilas" ( 万村通 wàn cūn tōng) nigeriano, voltado para a conexão global de comunidades no continente africano. Além disso, a partir do final de 2020, o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB, por sua sigla em inglês), uma instituição financeira multilateral, expandiu seus membros para 103 países e facilitou a cooperação dos países BRI. Desde o início da pandemia da COVID-19, o AIIB estabeleceu um fundo de emergência para fornecer apoio financeiro às necessidades de saúde pública dos países membros, que beneficiou 19 países, incluindo Vietnã, Geórgia, Paquistão, Turquia e Cazaquistão.

A economia chinesa cresceu a uma taxa de 8,1% em 2021, muito mais rapidamente do que sua meta de 6+% para o período, apesar dos desafios da pandemia da COVID-19. Economistas em todas as partes estão tentando entender porque a economia chinesa tem sido tão resiliente. Huang Zongzhi explica, a partir da perspectiva do Socialismo com Características Chinesas, como um fator importante contribui para esta resiliência. Ele afirma que, ao contrário dos países do Ocidente, a capitalização da terra vem sendo uma das fontes principais de acumulação de capital que tem levado ao crescimento da China. O crescimento contínuo do país nos últimos quarenta anos beneficiou-se de um modelo de governança de outorga-contratação, no qual o governo central outorga terras aos governos locais; por sua vez, estes passam a obter financiamento através da transferência do direito de uso da terra (土地使用权出让 tǔdì shǐyòng quán chūràng) a desenvolvedores do setor imobiliário, e estes investem esse capital em infraestrutura. Devido aos enormes benefícios criados em tal processo de capitalização de terras, a cooperação ganha-ganha entre o governo central e os governos locais (medida pelo crescimento do PIB), e os desenvolvedores (medida pelo aumento do lucro) torna-se a chave para o modelo de sucesso e estabilidade. O modelo de governança de outorga-contratação, entretanto, também levou os governos locais a estarem menos dispostos a melhorar os serviços públicos como bem-estar social, educação, saúde pública e proteção ambiental. Desde 2018, a China deixou o objetivo de "permitir que algumas pessoas enriqueçam primeiro" e passou a perseguir a prosperidade comum, uma transformação mais socialista. Por exemplo, em 2021, a China conseguiu tirar quase 100 milhões de pessoas da pobreza extrema e lançou uma campanha de revitalização rural. Atualmente, o país está empenhado em realizar a modernização das áreas rurais até 2050. Outro exemplo é que o governo chinês também exortou as empresas estatais a transferir 10% de sua participação financeira para o Fundo Nacional de Seguridade Social (NSSF), proporcionando, assim, mais benefícios sociais a todos os chineses. O autor afirma que, em comparação com o Ocidente, a China pode fazer mais para a socialização do capital, já que o capital estatal representa uma parte maior da economia da China. Huang conclui que a prática de desenvolvimento econômico do país – a capitalização da terra e a socialização do capital – é um novo caminho com características chinesas, combinando métodos chineses e ocidentais.

A forte regulamentação do governo chinês sobre a expansão desordenada do capital (资本无序扩张 ziīběn wú xù kuòzhāng) em 2021 despertou preocupação nos âmbitos doméstico e internacional. Do ponto de vista do desenvolvimento do Socialismo com Características Chinesas, Jiang Yu explica as razões para essa regulamentação, argumentando que a expansão desordenada do capital acabará por levar a crises econômicas. Ele aponta que a crise financeira internacional de 2008 é um excelente exemplo, cuja causa principal remonta às reformas neoliberais lideradas pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido nos anos oitenta. Desde a Reforma e Abertura da China, especialmente desde o 18º Congresso do PCCh, o governo tem desenvolvido gradualmente uma abordagem que permite ao capital desempenhar um papel positivo, mas ao mesmo tempo coíbe seus efeitos negativos. Em outras palavras, o investimento de capital deve funcionar no marco do apoio à liderança do PCCh para desenvolver o Socialismo com Características Chinesas. Jiang Yu salienta a importância de reconhecer o fato de que, desde a Reforma e a Abertura, a expansão desordenada do capital surgiu em alguns setores industriais chineses, trazendo consequências negativas. Por exemplo, o recrudescimento desregulado de certas empresas do setor financeiro e imobiliário criou grandes riscos econômicos no âmbito da economia chinesa. O comportamento monopolista de algumas plataformas da Internet e os abusos de algoritmos têm infringido os interesses dos consumidores e pondo em risco a inovação entre pequenas e médias empresas. Algumas empresas têm até influenciado indiretamente as operações do governo, subornando funcionários e formando alianças irregulares. No campo cultural, o capital privado desenfreado obteve enormes lucros ao moldar a chamada cultura de "fã clube", o que distorceu os valores de alguns jovens, criou tensão social e minou a solidariedade social. A expansão desordenada do capital nos segmentos do serviço público também levou a um fardo mais pesado sobre os cidadãos comuns em termos de assistência médica, educação e habitação. O autor acredita que o governo chinês pode desempenhar um papel institucional único na gestão da expansão desordenada do capital privado, seguindo a liderança do PCCh, construindo uma relação estreita, mas transparente, entre o governo e empresas, a qual apoie crescimento econômico, porém elimine a corrupção, reconhecendo o papel de liderança do capital público, melhorando leis e regulamentos, entre outros.

Com o rápido desenvolvimento da economia digital, o número de entregadores na China aumentou drasticamente, tornando-os os novos trabalhadores industriais da era digital. Sun Jie analisa a situação atual e os problemas dos direitos trabalhistas dos entregadores com base em um estudo realizado em maio de 2021 pelo Comitê de Assuntos Sociais e Jurídicos da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CPPCC, por sua sigla em inglês), o principal órgão consultivo político do país. Em 2020, a China tinha 3,35 milhões entregadores expressos tradicionais e cerca de 8 milhões de entregadores vinculados a plataformas online (incluindo 7,7 milhões de entregadores de comida). A maioria desses entregadores tem entre 20 e 45 anos, são trabalhadores migrantes do sexo masculino, cujo nível educacional está abaixo do Ensino Médio. Nas grandes e médias cidades, os entregadores ganham, em média, US$ 944 (6.000 RMB) por mês. No entanto, eles enfrentam múltiplos problemas, tais como seguridade social insuficiente, ausência de seguro por acidentes de trabalho, carga de trabalho pesada e longas jornadas de trabalho. Sun acredita que uma das causas da falta de proteção reside no alto grau de mercantilização do setor, com 90% dos participantes sendo empresas privadas ou estrangeiras. Sem a obrigatoriedade da assinatura de contratos de trabalho com os entregadores, muitas plataformas adotam a terceirização ou a prestação de serviços como meios de contratação; além disso, a fim de melhorar a eficiência da entrega e competir por pedidos, elas usam grandes algoritmos de dados rigorosos para controlar os entregadores, aumentando, assim, sua carga de trabalho, infrações de regras de trânsito e acidentes. Caso um consumidor reclamar dos entregadores, ou as entregas estiverem atrasadas, a remuneração deles será reduzida. Nos últimos anos, porém, o governo chinês tem prestado muita atenção ao desenvolvimento dessa indústria e introduzido metodicamente uma série de regulamentos e políticas. Por exemplo, o Conselho de Estado emitiu uma diretriz em 2015 com o objetivo de promover o desenvolvimento da indústria de entregas expressas. Em 2018, ele aprovou o Regulamento Provisório sobre Entrega Expressa. Em 2020, a China adicionou " entregadores para plataformas de Internet sob demanda" (网约配送员wǎng yuē pèi sòng yuán) ao seu catálogo nacional de classificação ocupacional. Em julho passado, a fim de proteger os direitos e interesses dos entregadores, o Ministério de Recursos Humanos e Previdência Social também divulgou uma diretriz que estabelece requisitos claros sobre a remuneração, repouso, seguro social e segurança no trabalho dos entregadores.

De que maneira o Marxismo construiu seu fundamento na China constitui a questão fundamental de sua sinicização. Jin Minqing esmiuça acerca do como, nos primeiros anos da fundação do Partido Comunista da China, essa possibilidade se transformou em realidade, com a combinação do Marxismo e das condições chinesas, tanto em teoria como na prática. Do ponto de vista teórico, a natureza prática, de desenvolvimento e abrangente do Marxismo pode ser continuamente combinada com a história, a cultura e as características de cada nação, com o objetivo de transformar o mundo. Como Mao Zedong assinalou: "O grande poder do Marxismo-Leninismo reside no fato de que ele está atrelado à prática revolucionária concreta de cada país". Na realidade, no início do século XX, a nação chinesa, confrontada com uma crise existencial, precisava urgentemente de uma orientação teórica avançada. Desde as Guerras do Ópio (1839-42, 1856-60), a invasão e pilhagem das potências imperialistas e do sistema autocrático feudal foram quebradas da noite para o dia pela Revolução Xinhai de 1911, que pôs o fim do regime monárquico na China. Entretanto, a restauração do sistema imperial e as guerras entre os caudilhos militares que se seguiram aprofundaram a realidade semicolonial e semifeudal do país. Os primeiros intelectuais avançados perceberam que a sociedade chinesa precisava ser radicalmente mudada, mas não havia escolha clara em termos de qual caminho se adequaria à realidade chinesa. O triunfo da Revolução Russa de Outubro de 1917 fez com que a sinicização do Marxismo passasse da possibilidade à realidade. Li Dazhao, Mao Zedong, e outros intelectuais pioneiros chineses perceberam que com a liderança do Partido, uma ideologia norteadora(Marxismo), uma adesão avançada ao Partido, e o apoio dos trabalhadores e camponeses, a Revolução de Outubro teria sido bem-sucedida, e que essas condições também seriam necessárias para uma transformação revolucionária completa da China. O Movimento de 4 de maio de 1919 lançou as bases iniciais para o desenvolvimento da sinicização do Marxismo. Os intelectuais chineses começaram a traduzir um grande número de obras clássicas, propagar teorias marxistas, criar grupos comunistas, publicar revistas, e inspirar a consciência de classe dos trabalhadores. Durante esse período, um grupo de teóricos representados por Li Dazhao, Chen Duxiu, Mao Zedong, Zhou Enlai e Qu Quibai emergiu, e o Marxismo passou de uma teoria social geral para o pensamento dominante. Com a fundação do PCCh em 1921, a sinicização do Marxismo adquiriu um nível prático. Os primeiros comunistas chineses começaram a usar o Marxismo para analisar e orientar a realidade concreta da revolução chinesa, os quais passaram a desenvolver suas primeiras análises sobre a sociedade de classes, liderança proletária e questões camponesas e fundiárias, marcando o início da jornada da sinicização do Marxismo.
(Este é o segundo artigo da série sobre a sinicização do Marxismo, na qual o “Vozes Chinesas” continuará a interpretar seu contexto histórico e sua lógica de desenvolvimento.)
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