N.º 36 | 13.03.2022
A quinta sessão da XIII Assembleia Nacional Popular (ANP) é iniciada no Grande Salão do Povo em Beijing, capital da China, em 5 de março de 2022. [Foto/Xinhua]
A China está acelerando sua contribuição para o crescimento global
Fu Minjie
Fu Minjie(付敏杰) é pesquisador adjunto do Instituto de Economia, Academia Chinesa de Ciências Sociais

Contexto

Em 2022, a China estabeleceu uma meta de crescimento econômico de cerca de 5,5%, a mais baixa das últimas décadas. Desde 2010, a economia chinesa vem desacelerando, o que tem despertado preocupações entre alguns economistas. Com base em estudos comparativos internacionais, Fu Minjie acredita que o contexto da desaceleração do país corresponde, de fato, à "década perdida" da economia mundial. Além disso, de 1980 a 2020, a contribuição econômica da China para a economia mundial acelerou enormemente e não foi afetada pela desaceleração econômica desde 2010.

Pontos-chave

  • A média de dez anos de crescimento do PIB da China desacelerou de 10,38% em 2000-2010 para 7,19% em 2010-2020, uma desaceleração de cerca de 30%. No mesmo período, o crescimento econômico mundial caiu 70% (Dólar atual) e diminuiu 30% (Dólar constante de 2010). Isso revela uma questão comum no mundo, ou seja, uma economia lenta, especialmente a estagnação econômica nos países desenvolvidos.
  • Em Dólares circulantes, a contribuição da China para o crescimento mundial aumentou 1,48%, 7,81%, 14,99% e 46,57% nas últimas quatro décadas (1980-1990, 1990-2000, 2000-2010, e 2010-2020).
  • Medida em Dólares estadunidenses constantes em 2010, a contribuição econômica da China para a economia mundial chegou a 36,18% entre 2010 e 2020, acima dos 4,84% durante 1980-1990.
  • A contribuição da China para o crescimento econômico mundial, medida pela paridade do poder de compra em 2017, também tem aumentado. De 5,7% em 1980-1990 e 11,21% em 1990-2000, ela aumentou para 21,94% em 2000-2010 e 28,21% em 2010-2020, embora a aceleração tenha se tornado mais lenta.
  • A contribuição dos EUA para a economia mundial atingiu um pico em 1990-2020 e caiu pela metade durante 2010-2020.

Resumo

Desde 1978, a economia chinesa tem estado profundamente integrada à economia global. Segundo Fu, a contribuição do país para a economia mundial, e portanto sua influência internacional, não é creditada apenas às políticas econômicas domésticas, mas também a fatores exógenos. Observar a desaceleração do crescimento econômico da China isoladamente tende a conduzir a conclusões pessimistas. Na verdade, o aumento da contribuição econômica do país e a aceleração da recuperação tecnológica no cenário de desaceleração econômica pós-2010 mostram a força da base do PIB e a tendência de crescimento da China, que é o que sustentará o crescimento de sua economia nas próximas três décadas.

Interpretando a crise na Ucrânia em dupla perspectiva: geopolítica e jogo financeiro
Wang Xiangsui
Wang Xiangsui (王湘穗)é professor e diretor do Centro de Pesquisa de Assuntos Estratégicos da Universidade de Pequim, e coronel aposentado sênior do Exército de Libertação do Povo

Contexto

A crise na Ucrânia não tem apenas causado um choque no cenário político mundial, mas também está impactando enormemente a economia mundial. De acordo com Wang Xiangshui, essa situação deve ser analisada tanto do ponto de vista geoeconômico quanto geopolítico. A crise na Ucrânia é em grande parte uma continuação do conflito geopolítico de longa data entre a Rússia e a Europa e os Estados Unidos, bem como um reflexo da competição entre os sistemas monetários do Dólar estadunidense e do Euro.

Pontos-chave

  • No final do século XX, a Europa lançou a União Europeia e a Zona do Euro, que começaram a romper com o domínio do sistema do Dólar estadunidense; desde a crise financeira de 2008, especialmente, o crescimento da Zona do Euro tem consistido em um desafio cada vez mais sério à hegemonia do Dólar estadunidense.
  • A União Europeia e a Rússia têm fortes laços econômicos, e, se a Rússia se integrasse à Zona do Euro, faria da Europa um pólo importante no mundo, o que seria difícil de desconstituir. Portanto, os EUA estão usando a crise da Ucrânia para despertar tensões entre a UE e a Rússia.
  • Não há solução rápida para essa questão: o Ocidente não pode resolvê-la rapidamente por meios militares, especialmente porque a Ucrânia e a UE são fortemente dependentes dos recursos russos; a Rússia está limitada pelos sistemas monetários tanto do Dólar como do Euro no comércio internacional. Cada lado tem seus próprios pontos fortes e fracos. A Ucrânia poderia tornar-se uma "úlcera" de longa duração que afetaria a Europa.
  • A eclosão da crise na Ucrânia arrastou a Europa de volta, em certa medida, às tradicionais disputas de soberania territorial. Além disso, causou uma desaceleração no impulso do desenvolvimento europeu e dá aos EUA uma importante alavanca para influenciar a política e a economia europeias.
  • A crise na Ucrânia promove objetivamente o aprofundamento da cooperação sino-russa, a qual deslocará ainda mais o centro de gravidade do continente eurasiático para a Ásia, uma tendência de grande importância para frear a hegemonia global encabeçada pelo Ocidente e favorecer uma ordem mundial pluralista.

Resumo

O autor observa que o desdobramento da crise na Ucrânia prova que a ordem global liderada pelos EUA entrou em um período de desintegração. As ações dos Estados Unidos na crise da Ucrânia mostram que aquele país não é mais a superpotência que já foi. A estratégia estadunidense para a Ásia-Pacífico será contida por essa crise; ao provocá-la para atingir a Rússia, os EUA empurraram esta em direção ao Oriente. Os Estados Unidos também querem conter o desenvolvimento da Zona do Euro através da crise da Ucrânia, o que certamente levará à intensificação das contradições entre a Europa e o país norte-americano. Os EUA não são tão poderosos como costumavam ser, e se confrontarem a Rússia, China e Europa, cometerão o erro estratégico de fazer inimigos em todos os lugares.

Por que a China está regulando algoritmos da internet?
Xiong Jie
Xiong Jie(熊节)é um especialista em governança da internet e fundador de Maku Insight

Contexto

No dia 1º de março de 2022, entraram em vigor as Disposições sobre a Administração de Algoritmos de Serviços de Informação da Internet da China, a partir das quais os usuários poderão desativar recomendações personalizadas. O regulamento constitui um precedente mundial para a regulamentação de algoritmos específicos. Xiong Jie analisa a necessidade de regulamentação da tecnologia de algoritmos e o significado de tais disposições.

Pontos-chave

  • O regulamento constitui a primeira legislação no mundo que dispõe especificamente sobre os serviços de recomendações algorítmicas, os quais rastreiam as atividades dos usuários na internet com o objetivo de fornecer seus produtos personalizados.
  • As recomendações algorítmicas podem reforçar o efeito de "casulos de informação", e ser utilizadas para orientar propositalmente as pessoas, influenciando, assim, as percepções do público, e até mesmo as decisões políticas. A eleição de Trump e Brexit são exemplos notórios de manipulação política por meio de técnicas de recomendação algorítmica.
  • As medidas exigidas no regulamento em vigor, tais como a examinação e verificação dos mecanismos algorítmicos, a revisão ética da tecnologia, e a permissão aos usuários de desativarem tais recomendações, foram todas sugeridas em outros países há muito tempo. No entanto, os gigantes globais da internet nunca as colocaram em prática, argumentando muitas vezes que "algoritmos de aprendizagem profunda não podem ser revistos".
  • A aprendizagem profunda depende de ferramentas matemáticas que frequentemente têm uma mística "alquímica", e mesmo os próprios engenheiros não sabem por que os algoritmos funcionam. O Google, por exemplo, gaba-se de que seus algoritmos de reconhecimento de imagem usam uma rede neural de 19 camadas de profundidade (VGG19), embora seu serviço de fotografia venha sendo continuamente exposto por ser racializado e estereotipado.
  • As disposições, por um lado, obrigam as empresas de internet a estabelecer estruturas de auditoria algorítmica; por outro, exigem que revisem suas posturas, guiando as recomendações de algoritmos para o bem, obstando a criação de casulos de informação e proibindo a criação de modelos de algoritmos que violem leis e regulamentos ou a ética por induzirem os usuários a se tornarem viciados e consumirem em excesso.

Resumo

Xiong explica que as disposições são novas e estabelecem um precedente global em regulamentação de algoritmos, auditorias de mecanismos algorítmicos e revisão de ética tecnológica; no entanto, há uma alta possibilidade de que sua implementação possa ser um novo desafio para as agências reguladoras. Embora as empresas de internet sejam obrigadas a explicar o serviço de recomendação algorítmica e permitir aos usuários desativarem a opção de recomendação personalizada, elas ainda podem não informá-los de "maneira proeminente", e assim por diante. Isso comprometerá a eficácia do próprio regulamento. O autor espera que as disposições, juntamente com outras políticas regulatórias e medidas de implementação subsequentes, submetam a tecnologia algorítmica a um escrutínio razoável.

Como a economia coletiva rural contribui para alcançar a prosperidade comum?
Chen Xiwen
Chen Xiwen (陈锡文) é membro do Comitê Permanente da Assembleia Nacional Popular, presidente do Comitê de Agricultura e Rural da Assembleia Nacional Popular

Contexto

Recentemente, o governo central da China divulgou o "Documento Nº. 1", que se concentra nas questões rurais desde 2004. Ele pretende explorar o caminho de desenvolvimento de um novo tipo de economia coletiva rural. Chen Xiwen destaca que a economia coletiva rural tem desempenhado um papel enorme na redução do fosso de renda rural desde a Reforma e Abertura há mais de 40 anos, e pode continuar a contribuir para a prosperidade comum dos 770 milhões de pessoas das áreas rurais.

Pontos-chave

  • As experiências principais da China no âmbito do aumento da renda dos camponeses abrangem a prevenção do retorno à pobreza em larga escala, o fortalecimento da construção de infraestrutura rural, o apoio e proteção da agricultura e o fomento de novos negócios no campo.
  • A China concede direitos de igualdade aos camponeses, estabelecendo o sistema de propriedade coletiva de terras rurais e assegurando que todos os camponeses tenham acesso à terra e à moradia, incluindo as dezenas de milhões de trabalhadores migrantes que têm retornado à sua terra natal devido a choques econômicos. Este sistema evita a polarização e a “armadilha da pobreza” ocorridas nos países latino-americanos.
  • A reforma do sistema fundiário rural, incluindo o aumento das indenizações por desapropriação de terras e a entrada de coletivos rurais no mercado para operações comerciais, tem aumentado a renda das organizações econômicas coletivas rurais (农村集体经济组织 nóngcūn jítǐ jīngjì zǔzhī). A proporção dessas entidades com renda anual de mais de 100.000 Yuanes cresceu de 13,9% para 33,1% entre 2015-2020.
  • As organizações econômicas coletivas rurais, por meio do estabelecimento de novas indústrias, fornecem novas oportunidades de emprego e fontes de renda para camponeses e trabalhadores migrantes que retornam ao campo. Em novembro de 2021, quase 94% dos 15,17 milhões dos migrantes egressos dos centros urbanos estavam empregados, 30% na agricultura e 70% em outras indústrias.

Resumo

Chen ressalta que, se a política de prosperidade comum lograr progressos mais óbvios e substanciais até 2035, um indicador crítico será a redução significativa da disparidade de renda entre residentes urbanos e do campo. Embora ainda existam problemas no fomento da economia coletiva rural – como o desenvolvimento desequilibrado entre o leste e o oeste do país – a China deve dar mais atenção a ele, para que tais incentivos possam desempenhar um papel maior e mais ativo em evitar a polarização, eliminar a pobreza, melhorar a renda dos camponeses e alcançar a prosperidade comum.

O Movimento de Retificação de Yan’an e a sinicização do Marxismo
Shi Zhongquan
Shi Zongquan (石仲泉) é ex-vice-diretor do Escritório de Pesquisa de História do Partido do Comitê Central do Partido Comunista da China

Contexto

Embora a campanha de estudos filosóficos do PCCh em Yan'an depois de 1935 tivesse elevado o nível teórico do partido, ainda havia uma questão em aberto sobre se a revolução chinesa deveria ser conduzida a partir das resoluções e instruções do Comintern ou, ao invés disso, da realidade chinesa. Tanto os ataques anticomunistas do Kuomintang desde 1939 quanto a trágica derrota no âmbito do Incidente do Sul de Anhui (皖南事变 wǎnnán shìbiàn) em 1941 fizeram com que Mao Zedong percebesse a importância e a urgência de unificar a ideologia de todo o Partido. Em seu artigo, Shi Zhongquan revê os antecedentes históricos e o processo do Movimento de Retificação de Yan'an (延安整风运动 Yán'ān zhěngfēng yùndòng), e aponta seu importante papel na promoção da sinicização do Marxismo.

Pontos-chave

  • Com base no discurso de Mao Zedong de 1941, "Reformar Nosso Estudo"– enfatizando que "Marx e Engels nos ensinaram a partir da realidade objetiva, não de desejos subjetivos", e que "o subjetivismo é o grande inimigo do Partido Comunista"–, iniciou-se o Movimento de Retificação de Yan'an.
  • O Movimento reviu os anteriores sucessos e fracassos da linha do Comitê Central, chegando a um consenso sobre questões históricas de todo o Partido, e emitiu sua primeira "resolução histórica", a qual destacava as causas sociais e ideológicas dos erros "esquerdistas".
  • No âmbito da ideologia e a construção do Partido foram enfatizados e desenvolvidos os "três bons estilos de conduta" (三大作风 sān dà zuòfēng): combinar teoria com prática, manter laços estreitos com o povo e conduzir “crítica e autocrítica” (批评与自我批评 pīpíng yǔ zìwǒ pīpíng) – elementos que distinguem o PCCh de qualquer outro partido político.
  • Após o Movimento, o Partido percebeu que Mao e suas teorias estavam corretos. Em 1945, o Sétimo Congresso do Partido estabeleceu formalmente o "Pensamento de Mao Zedong" como sua ideologia orientadora.

Resumo

O Movimento de Retificação de Yan'an desenvolveu uma metodologia própria do PCCh a partir da posição, pontos de vista e métodos marxistas. O termo "buscar a verdade a partir dos fatos" tornou-se a expressão mais comum da versão chinesa da linha de pensamento marxista praticada pelo PCCh. A fim de estudar questões históricas e esclarecer a linha correta, o PCCh fez críticas e autocríticas em seu âmbito. Zhang Wentian, Bo Gu, Wang Jiaxiang e outros líderes do Comitê Central fizeram uma revisão pública do pensamento dogmático, enquanto Zhou Enlai escreveu mais de 50.000 palavras de notas de estudo, e Mao Zedong também reviu os erros do próprio Movimento, o qual durou três anos e terminou com uma formação de unidade sem precedentes no Partido, tornando possível remover tendências errôneas da ideologia até então orientadora e traçar um caminho vitorioso para a Revolução Chinesa.

(O “Vozes Chinesas” continuará a interpretar o contexto histórico e a lógica de desenvolvimento da sinicização do Marxismo)

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