N.º 39 | 03.04.2022
Voluntários compartilham conhecimento sobre a prevenção de epidemias entre os residentes da comunidade por meio de alto-falantes tradicionais. Changsha, China. [Foto/SINA.CN]
A China precisa de um novo sistema de emissão de moeda para evitar choques financeiros globais
Yang Shuai
Yang Shuai (杨帅) é professor associado da Universidade de Tecnologia de Beijing
Wen Tiejun
Wen Tiejun (温铁军) é economista e professor do Instituto de Construção Rural da China da Universidade Sudoeste

Contexto

O Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos aumentou as taxas de juros em 16 de março, anunciando o fim da política de flexibilização monetária que começou em março de 2020. As economias emergentes enfrentam mais uma vez o risco de fuga de capitais, desvalorização da moeda, aumento da dívida externa em dólares e até mesmo crises sistemáticas de balanço de pagamentos. Yang Shuai e Wen Tiejun analisam como o sistema financeiro hegemônico do dólar estadunidense opera globalmente e seu impacto sobre a China, e apontam que este país precisa urgentemente constituir um mecanismo autônomo de emissão de moeda soberana baseado em "recursos ecológicos".

Pontos-chave

  • A posição do dólar como moeda internacional padrão permitiu que os Estados Unidos despejassem dólares nos mercados globais através da compra de mercadorias como commodities, energia e outros produtos. Os dólares retornam então aos Estados Unidos para apoiar os mercados internos de capitais através de reinvestimento em dólares e em ativos denominados em dólares, tais como títulos do Tesouro dos Estados Unidos, por países em desenvolvimento. Os Estados Unidos baseiam-se em sua superioridade militar e poder monetário para exercer pressão sobre a comunidade mundial (全球剪羊毛 quánqiú jiǎn yángmáo), especialmente o Sul Global, e também para receber enormes rendimentos de "seigniorage", ou seja, receitas do governo criadas pela emissão de moeda. Ao mesmo tempo, os países em desenvolvimento também pagam custos sociais e ambientais devido à sua dependência da exportação de recursos naturais e de produtos de baixo custo de mão-de-obra.
  • Como no passado prevalecia na economia chinesa uma orientação para a exportação, o país desenvolveu gradualmente um sistema de emissão de moeda ancorado em reservas de divisas. O banco central tem que emitir dinheiro para absorver o excesso de divisas e isso causa um aumento na oferta monetária. Em seu auge (2014), as reservas cambiais da China representavam 80% do total dos ativos do Banco Central. O sistema de emissão de moeda não apenas torna a política monetária do banco central suscetível aos fluxos de divisas, como também cria um enorme excedente de liquidez absorvido pelo setor imobiliário, levando à financeirização da economia.
  • Ao contrário das economias ocidentais, a China tem experiência em lastrear-se em ativos reais para emitir moeda soberana e responder a crises. Por exemplo, durante a Guerra de Resistência contra a Agressão Japonesa (1937-1945), para cada 10.000 yuanes de moeda emitida nas áreas de base de Shandong, pelo menos 5.000 yuanes eram usados para comprar e armazenar produtos importantes como cereais e algodão, e a moeda era reciclada e colocada em circulação através da compra e venda de materiais. A relativa estabilidade da emissão e circulação da moeda foi mantida com sucesso.
  • O enorme estoque de recursos ecológicos espaciais da China, um sistema composto por montanhas, rios, florestas, terras agrícolas e pastagens, pode ser usado como uma "âncora" confiável para a emissão de moeda, ou seja, para converter ativos ecológicos em ativos do banco central através da emissão de títulos. Isso se destina a formar um mecanismo de emissão de moeda com base no valor dos recursos ecológicos detidos por organizações econômicas coletivas rurais. Também para estabelecer um mercado de três níveis dirigido por três partes da transação com o objetivo de promover a monetização dos recursos ecológicos, incluindo organizações econômicas coletivas de agricultores, empresas operacionais em nível municipal e distrital, e investidores externos.

Sumário

Os autores argumentam que a transformação do sistema de reservas cambiais da China é urgente e que o "lastro material" é uma experiência aplicável da história financeira recente do país para manter a emissão de divisas estável. Na construção de um mercado de três níveis para recursos ecológicos e emissão de moeda, um ciclo construtivo de desenvolvimento e consumo ecológicos, bem como de fornecimento de moeda ecológica, pode ser formado. Isso dará um impulso complementar à construção de uma civilização ecológica e à estratégia de revitalização rural. Ao mesmo tempo, desenvolverá e fortalecerá a nova economia coletiva, consolidará a base patrimonial do sistema econômico socialista básico e combinará organicamente a emissão de moeda soberana com a monetização de recursos soberanos, estabelecendo, assim, uma base sólida para fazer frente às pressões externas.

Por que Wang Yi visita países da “zona intermediária” durante o conflito Rússia-Ucrânia
Teng Jianqun
Teng Jianqun (滕建群) é diretor do Instituto de Estudos Americanos, do Instituto de Estudos Internacionais da China
Wei Honglang
Wei Honglang (韦洪朗) é estudante de pós-graduação na Escola de Línguas Estrangeiras da Universidade Normal de Hunan

Contexto

Em meio ao impasse no conflito Rússia-Ucrânia, o Ministro chinês das Relações Exteriores Wang Yi iniciou sua visita ao Paquistão, Afeganistão, Índia e Nepal no dia 24 de março. Foi sua primeira visita à Índia desde a disputa fronteiriça entre o país e a China, em 2020. O intercâmbio frequente de visitas da China a países da "zona intermediária", ou seja, Ásia, África e América Latina, tem chamado atenção. O artigo de Teng Jianqun e Wei Honglang analisa o legado histórico da concepção de "zona intermediária" de Mao Zedong e como a China tem procurado se livrar da influência estadunidense.

Pontos-chave

  • Nos anos 60, Mao desenvolveu seu conceito de "zona intermediária", referindo-se aos países subdesenvolvidos da Ásia, da África e da América Latina. Nos anos 70, Mao propôs sua "Teoria dos Três Mundos". Ao contrário das concepções de Região Intermediária ou das concepções tradicionais de "três mundos" propostas pelos estrategistas ocidentais, a teoria de Mao procurou "unir os países do terceiro mundo e unir os países do segundo mundo para formar a mais ampla frente internacional contra a hegemonia".
  • Desde os anos 50, a diplomacia chinesa tem procurado romper a "zona intermediária" para formar uma frente unida contra as superpotências.
  • Desde a estratégia de "reequilíbrio Ásia-Pacífico" do presidente Barack Obama, as administrações dos Estados Unidos vêm reforçando seu controle sobre o Japão e a Coreia do Sul, levando diretamente a uma deterioração das relações desses países com a China. Com a eleição de Biden, o foco tem estado as relações militares com outros membros da OTAN.
  • Os Estados Unidos também procuraram ativamente trazer a Índia, que mantém uma posição não alinhada, sob sua órbita e pressionou a ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático). Na América Latina, o governo dos Estados Unidos fez declarações desacreditando a China e a Rússia enquanto pressionava os governos de esquerda. Na África, também usa narrativas falsas, como a "teoria da armadilha da dívida", a "teoria da pilhagem de recursos" e a "teoria neo-autoritária" para se unir com outros países ocidentais contra a China.
  • A administração Biden ampliou sua esfera de influência por vários meios, retornando aos mecanismos internacionais multilaterais e privando a voz da China em várias esferas internacionais por "meios multilaterais". Por exemplo, pressionando a OMS a besuntar a China, insistindo em investigar a origem da pandemia, realizando "cúpulas democráticas" com países de "valores comuns" e reforçando ainda mais o controle sobre os aliados, visitas oficiais freqüentes ao sudeste asiático, provocações às relações China-Rússia, entre outras.

Sumário

Diante da política estadunidense de expansão hegemônica global, os autores sugerem que a política externa da China deve seguir a estratégia de relações internacionais de Mao como referência e ponto de partida, aperfeiçoar seus métodos de trabalho para convencer os países da "zona intermediária", estabilizar as relações com seus países vizinhos, fortalecer a "nova era de parceria estratégica abrangente" com a Rússia, e fortalecer os mecanismos multilaterais e as organizações regionais existentes.

Como as mídias sociais estão sendo utilizadas para causar desinformação mundial sobre a China
Bu Yidao
Bu Yidao (补壹刀) é um influenciador digital do Wechat especializado em comentários sobre assuntos atuais internacionais e faz parte do Global Times

Contexto

O conflito russo-ucraniano tem atraído a atenção global, com as embaixadas da Rússia, Ucrânia, França, Reino Unido e muitos outros países na China se manifestando ativamente nas plataformas de mídia social chinesas, tornando a arena da opinião pública doméstica um intenso campo de batalha on-line no conflito Rússia-Ucrânia. No entanto, essa arena também se converteu em uma ferramenta para ativistas anti-China distorcerem a imagem do país. Para ajudar nossos leitores a entender os fatos, este artigo expõe uma conta no Twitter chamada o "Grande Movimento de Tradução " (大翻译运动 dà fānyì yùndòng) que tem sido utilizada para difamar China por meio da seleção cuidadosa de discursos chineses extremados na internet sobre o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

Pontos-chave

• O " Grande Movimento de Tradução " foi iniciado pela ChongLangTV, a maior comunidade de língua chinesa no Reddit com 50.000 seguidores, que tem uma postura anticomunista e anti-chinesa e também divulga publicamente informações particulares de pessoas de quem não gosta em websites estrangeiros.

• Outros membros do Movimento vão desde pessoas que supostamente buscam "asilo" em Taiwan até aqueles na Austrália que alegam expor a "verdade sobre a China". Seu conteúdo também é frequentemente o preferido entre alguns correspondentes da mídia ocidental anti-chinesa.

• O Movimento seleciona deliberadamente palavras específicas de indivíduos, mesmo falsas, para inflamar conflitos, o que contribui para incitar o ódio contra os chineses e de outros países asiáticos.

• O Movimento começou com a tradução de discussões e opiniões sobre a guerra russo-ucraniana da internet chinesa para o inglês, publicando-as fora da China. O principal objetivo é difundir a mensagem de que "os chineses são um grupo de pessoas orgulhosas, arrogantes, populistas, cruéis, sanguinárias e antipáticas", como disse um dos membros em entrevista.

• O Movimento começou a se afastar do conflito russo-ucraniano e se aproximar de aspectos controversos das relações da China com o Japão e a Coreia do Sul.

• A essência por trás do Movimento é parte da estratégia de "evolução pacífica", referindo-se à tentativa de transformar o sistema socialista da China por meios supostamente pacíficos, principalmente por parte dos EUA.

Resumo

O autor destaca que a polarização das palavras e ações de alguns indivíduos por meio das mídias sociais é um fenômeno comum no mundo digital. No entanto, vale notar que, com o apoio de várias forças fora da China, o chamado o "Grande Movimento de Tradução" pode não ser um fenômeno de curto prazo, mas sim uma luta pela opinião pública com novas características. A promoção ocidental da "democracia e liberdade" e de outros valores para o povo chinês do passado recente tornou-se uma campanha para espalhar desinformação e fomentar o ódio contra a China no mundo inteiro.

Como os alto-falantes são utilizados na luta contra a Covid-19 na China
Guo Miao
Guo Miao (郭淼) é professora associada da Escola de Jornalismo e Comunicação da Universidade de Ciência Política e Direito do Noroeste
Hao Jing
Hao Jing (郝静) é mestranda da Escola de Jornalismo e Comunicação da Universidade de Ciência Política e Direito do Noroeste

Contexto

Desde a eclosão da Covid-19, a metodologia de governança social com características chinesas tem recebido atenção mundial no enfrentamento à epidemia. A tarefa continua árdua nas áreas rurais, onde as pessoas geralmente estão menos cientes da epidemia e das medidas de precaução sanitárias. Guo Miao e Hao Jing descobriram que os alto-falantes tradicionais (大喇叭 dà lǎ bā), utilizados pela primeira vez durante a Revolução Chinesa, vêm desempenhando um papel importante na prevenção e controle da doença nas áreas rurais, e servido como um meio eficaz para a disseminação de informações para a governança de base com características chinesas.

Pontos-chave

• O alto-falante, como o jornal e a televisão, representa a voz de um Estado presente e com credibilidade. Durante a pandemia, tem difundido informações de maneira eficaz, dissipado rumores em tempo hábil e evitado a polarização de opiniões na internet e de comportamentos em áreas rurais.

• Alto-falantes de rádio vêm sendo utilizados pelos quadros das comunidades para disseminar informações entre a população local, tais como mensagens de alerta antecipado e interpretações de políticas, o que aumenta a amplitude e profundidade da participação política dos aldeões, alivia os conflitos sociais ou políticos em tempo hábil e estabiliza a situação política por meio de uma governança de base ordenada.

• Os quadros das comunidades usam formas diversificadas, como dialetos, jingles e bate-papo para divulgar as últimas notícias da epidemia, o que têm ajudado o público a entender o conteúdo da mensagem e aumentado sua conscientização sobre as medidas de precaução. Por exemplo, em Chengdu, província de Sichuan, jingles foram usados para desencorajar o jogo de mahjong e defender a quarentena em casa; em Shuangyashan, província de Heilongjiang, os moradores foram solicitados a cumprir as regras da epidemia sob a forma de canto narrativo tradicional, ou do “Kuaibian” (快板), uma espécie de cancioneiro acompanhado de palmas.

• As plataformas de mídia social gravam, editam e divulgam o conteúdo dos alto-falantes, o que também consiste em uma apresentação on-line eficaz da governança rural da China. Isso aumentou a confiança do público e o reconhecimento da governança de base do país.

Resumo

As autoras assinalam que prevenir a propagação da Covid-19 nas áreas rurais é uma grande prioridade durante o surto de pandemia, e é extremamente importante ajudar a manter uma comunicação bilateral e transparente. O estilo de comunicação do alto-falante não apenas tem melhorado a imagem responsável, eficaz e a favor do povo do governo, mas também vem atendendo às suas demandas por informação, orientando a opinião pública de maneira eficaz e evitando potenciais riscos sociais.

A formação e desenvolvimento do Pensamento Mao Zedong na linha das massas do Partido
Ai Silin
Ai Silin (艾四林) é decano da Escola de Marxismo, Universidade de Tsinghua
Kang Peizhu
Kang Peizhu (康沛竹) é professora da Escola de Marxismo, Universidade de Pequim

Contexto

A série de teorias sobre o trabalho nas massas (群众工作 qúnzhòng gōngzuò) do Partido Comunista da China (PCCh) – contato próximo com as massas e serviço sincero ao povo – são a chave para seu êxito contínuo na liderança da Revolução Chinesa e na construção do Socialismo. São também o resultado da aplicação dos princípios básicos do Marxismo à realidade chinesa pelos líderes representados por Mao Zedong. Em seu artigo, Ai Silin e Kang Peizhu analisam como a ideia da linha das massas (群众路线 qún zhòng lù xiàn) foi formada e desenvolvida passo a passo desde os primeiros dias da fundação do Partido (1921) até o período da revolução e construção socialistas na China (1949-1979).

Pontos-chave

• Durante a Grande Revolução Chinesa (大革命 dà gé mìng, 1925-1927), a tendência ideológica predominante representada por outros líderes dentro do Partido negligenciou os camponeses e se concentrou apenas no movimento operário. No entanto, Mao Zedong, ao observar o movimento camponês em Hunan, concluiu que os camponeses eram os aliados mais confiáveis do Partido e da revolução. Em 1930, ele escreveu "Oposição ao Culto de Livros", que propunha que a estratégia revolucionária correta do Partido apenas poderia concretizar-se a partir da experiência prática da luta de massas.

• Durante o período da Revolução Agrária (1927-1937), era necessário unir as massas para construir a Base Revolucionária na Montanha Jinggang (井冈山 jǐng gāng shān) e romper o "cerco" militar do Kuomintang. Mao apontou que "todos os problemas enfrentados pelas massas" deveriam ser colocados em sua agenda. Devemos fazer as massas perceberem que representamos seus interesses e respiramos da mesma forma que elas."

• Durante a Guerra de Resistência contra a Agressão Japonesa (1937), Mao acreditava que a vitória seria alcançada travando uma guerra prolongada (持久战 chí jiǔ zhàn), e propôs "o exército e o povo como fundamento da vitória". Mao também desenvolveu o método fundamental de "vir das massas e ir para as massas" baseado na epistemologia marxista.

• Após a fundação da República Popular da China, a linha das massas de Mao se aprimorou ainda mais. Ele unificou o centralismo democrático com a linha das massas, defendeu as "duas participações, uma reforma e três em um" (两参一改三结合 liǎng cān yī gǎi sān jié hé), bem como o sistema de congressos dos trabalhadores, atacando ferozmente, por outro lado, o distanciamento das massas, o desejo de prazer e a burocracia dos membros e quadros do Partido após da chegada ao poder do PCCh.

Resumo

A linha das massas é o sustento e a base do PCCh. Já no período revolucionário, Mao propôs que "as massas são a verdadeira parede de cobre que nenhuma força pode quebrar". Em 1981, a linha das massas foi expressa como "tudo para as massas, tudo contando com as massas, vindo das massas e indo para as massas", na 6ª Sessão Plenária do Décimo-Primeiro Comitê Central do PCCh. Na nova era, a filosofia de governança de "priorizar o povo" de Xi Jinping tem recrudescido e desenvolvido ainda mais a linha de massa.

(O “Vozes Chinesas” continuará a interpretar o contexto histórico e a lógica de desenvolvimento da sinicização do Marxismo)

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