N.º 53 | 24.07.2022
O impasse estratégico entre a China e os EUA permanece à medida que o equilíbrio de poder muda.
Por que a batalha da China contra o poder hegemônico dos EUA está entrando em uma fase de impasse estratégico?
Huang Renwei (黄仁伟)
Huang Renwei é vice-presidente executivo do Instituto do Cinturão e Rota e Governança Global da Universidade de Fudan. Foi vice-presidente da Academia de Ciências Sociais de Xangai. Ele estuda há muito tempo a estratégia internacional da China, as relações sino-americanas e a economia internacional. Ele é o autor de “A opção histórica do caminho de desenvolvimento pacífico da China” (“The Historical Choice of China’s Peaceful Development Path”), “Tempo e espaço da ascensão da China” (“Time and Space of China’s Rise”), “Política externa independente e pacífica” (“Independent and Peaceful Foreign Policy”) e “A evolução do sistema de terras no oeste estadunidense” (“The Evolution of Land Systems in the American West”).

Contexto:

À medida que a China ascende econômica e politicamente, sua luta com os EUA se torna mais feroz. Huang Renwei aponta a fraqueza inerente da estrutura de poder dos EUA e argumenta que, a partir de 2020, e possivelmente pelos próximos 30 anos, a China e os EUA estarão em uma fase de impasse estratégico que terá oscilações.

Pontos-chave:

  • O conceito de "fase de impasse estratégico" foi cunhado por Mao Zedong em "Sobre a Guerra Prolongada". A teoria de Mao era que a guerra contra o Japão consistia em três estágios: a ofensiva japonesa, o impasse estratégico sino-japonês e a contra-ofensiva chinesa. Já a atual fase de impasse China-EUA é de natureza diferente: a competição estratégica entre a China e os EUA ainda não entrou em um estado de guerra quente; e a China não estabeleceu o objetivo estratégico de derrota militar completa dos EUA. O objetivo da China é lutar por uma nova ordem mundial justa e igualitária com prosperidade comum para todos os países.
  • A razão pela qual essa relação está entrando em um impasse estratégico está na chamada “dualidade” de suas respectivas estruturas de poder. A “dualidade” dos EUA é caracterizada pelo fato de que, por um lado, o país está passando por um processo de declínio econômico e político, mas por outro lado ainda é uma potência militar relativamente forte. A dualidade da China é o oposto: está em processo de ascensão, mas também apresenta muitas fraquezas próprias. A “dualidade” evolui gradualmente ao longo do tempo.
  • Historicamente, a hegemonia do dólar estadunidense tem beneficiado muito os interesses estratégicos dos EUA. No entanto, os EUA já ultrapassaram os limites desse poder e sua credibilidade foi posta em questão.
  • Nos próximos 30 anos, a China enfrentará a dura realidade de que os países ocidentais liderados pelos EUA rejeitarão e difamarão o papel e a participação da China na ordem do velho mundo. A China deve tomar a iniciativa de mudar o cenário internacional existente para criar uma nova ordem mundial. Pode levar gerações até que esse novo sistema seja estabelecido.
  • Os EUA podem ganhar com essa estratégia de dissociação? É incerto, já que a capacidade dos EUA de confrontar a China é limitada. Se os EUA se envolverem em uma agressão militar contra a China, os custos relacionados à guerra seriam astronômicos. A guerra pode trazer um colapso dos mercados financeiros dos EUA. Em última análise, os EUA não podem derrotar a China militarmente, desde que não haja guerra nuclear.
  • A duração da fase de impasse estratégico depende de quão rápido o equilíbrio de poder mudar. Supõe-se que a década entre 2030 e 2040 verá uma mudança decisiva no equilíbrio de poder global à medida que a economia da China, medida em PIB, supere a dos EUA. Huang acredita que na década entre 2040 e 2050, a China alcançará os EUA nas áreas de ciência e tecnologia.
  • Ele também acredita que, nessa fase de impasse estratégico, os EUA farão maior uso das vantagens de seu poder brando, cuja relação custo-benefício supera em muito a do confronto com o poder duro. Assim, espera-se que a intensidade da competição de poder brando entre EUA e China torne-se central.
O 25º aniversário da reunificação de Hong Kong com a China continental: algumas reflexões sobre o princípio “Um País, Dois Sistemas”
Shao Shanbo (邵善波)
Shao Shanbo atuou como membro do Comitê de Estratégia e do Comitê Executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong e foi nomeado chefe da Unidade Central de Políticas, servindo ao chefe do executivo. Ele agora é consultor em tempo integral da Unidade Central de Políticas.

Contexto:

O 25º aniversário da reunificação de Hong Kong é o ponto médio do dos 50 anos do princípio “Um País, Dois Sistemas”. Este é um novo capítulo na reforma do governo e do Conselho Legislativo de acordo com o novo regulamento eleitoral. Porém, incidentes separatistas como "Ocuppy Central" em 2014 e as ondas de violência em 2019, que bloquearam o funcionamento da cidade durante meses, exigem que reflitamos sobre o passado e olhemos para o futuro.

Pontos-chave:

  • Em 1997, quando a soberania de Hong Kong foi legitimamente devolvida à República Popular da China, o governo central de Pequim estava muito preocupado em manter a estabilidade da sociedade de Hong Kong. Consequentemente, decidiu que toda a estrutura do governo e seu sistema de funcionários públicos permanecessem inalterados. Alguns anos antes da devolução, as forças políticas que representavam os “antigos governantes coloniais” introduziram o chamado sistema político democrático, fraturando os partidos políticos e complicando o processo eleitoral para a nomeação do chefe do Executivo e do Conselho Legislativo de Hong Kong. Esta foi uma mudança fundamental para a ilha de orientação exclusivamente comercial até então. Essas mudanças lançaram as bases para a polarização dos últimos 25 anos. No ano passado, o governo central propôs e implementou novas mudanças no processo eleitoral, o que garantiu o alinhamento político do governo de Hong Kong.
  • Tem havido um debate acalorado em Hong Kong e em Pequim sobre se o governo central deveria intervir nos assuntos políticos locais de Hong Kong. Nos primeiros dias após a entrega de Hong Kong, Pequim restringiu-se a uma política de “não intervenção”. A história mostrou, no entanto, que essa política cautelosa não conseguiu impedir as atividades separatistas e contra o governo central. Isso inclusive levou à explosão em larga escala das ondas violentas do movimento separatista em 2019, que interrompeu o funcionamento da cidade por meses. Após os distúrbios de 2019, o governo central finalmente interveio. Mudou a lei de segurança nacional e equipou as agências encarregadas do cumprimento da lei e os policiais com novas ferramentas para agilizar a apresentação de acusações contra indivíduos do movimento separatista e prendê-los quando necessário. Também mudou o sistema eleitoral, garantindo que apenas pessoas comprovadamente leais e patriotas pudessem concorrer a cargos políticos. As intervenções ajudaram o povo de Hong Kong a compreender o papel positivo do governo central nos assuntos políticos locais.
  • O princípio “Um País, Dois Sistemas” permitiu que Hong Kong operasse sob um sistema capitalista por 50 anos para maximizar sua localização única como uma cidade portuária de livre comércio e, assim, agregar valor à construção socialista do continente. Shao acredita que o “Um País, Dois Sistemas” em si não causou os problemas da ilha, mas que foram as forças políticas antagônicas que se opõem à intervenção do governo central as responsáveis pelas rupturas políticas. Recentemente, Xi Jinping pediu ao PCCh que estudasse profundamente este conceito, porque também poderia fornecer o quadro político transitório quando, no futuro, a ilha de Taiwan for unificada com o continente. Segundo Shao, 2047 pode não ser o fim de "Um País, Dois Sistemas" se sua vitalidade e superioridade puderem ser comprovadas pela práxis.

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