N.º 61 | 18.09.2022
Uma feira de empregos em Haikou, província de Hainan, no sul da China, 18 de dezembro de 2019. [Xinhua]
As empresas chinesas devem se preparar para a concorrência global de talentos técnicos
Chén Jīng (陈经)
Chen Jing é o vice-presidente do 风云学会 fēng yún xué huì, um think tank privado com foco em ciência, tecnologia e estratégia. Ele é especialista em mídia social e gerente sênior de uma companhia de inteligência artificial sediada em Shenzhen. Seu livro mais famoso é A Economia Iniciada pelo Governo na China.

Contexto:

A oferta de talentos tecnológicos foi alterada no mundo inteiro durante o ressurgimento da pandemia e o prolongado conflito russo-ucraniano. Empresas globais estão entrando em uma nova rodada de competição para conquistar talentos no campo da tecnologia digital.

Pontos-chave:

  • Os Estados Unidos e alguns países da Europa Ocidental estão afundados nessa escassez de talentos há décadas, dependendo e atraindo trabalhadores do exterior para sustentar seu desenvolvimento tecnológico. Nos últimos 20 anos, os Estados Unidos preencheram essa lacuna, principalmente recrutando estudantes internacionais e construindo empresas em outros países. Este método tem se tornado cada vez mais comum como parte do processo de globalização.
  • A Índia desenvolveu abundância de talentos em TI através de suas escolas de elite e gigantescas empresas de TI. Tem havido um enorme fluxo de graduados indianos em tecnologia de alto nível para os Estados Unidos. Nos últimos dez anos, o Ocidente também começou a terceirizar operações de TI para a Polônia, Rússia, Bielorússia, Ucrânia, e outros países da Europa Oriental. A Ucrânia herdou a base tecnológica construída pelos soviéticos e se tornou um campo de caça de talentos tecnológicos de renome internacional.
  • A China tem a maior reserva de talentos tecnológicos. Mas o governo e o povo chinês não estão interessados apenas em ser um fornecedor de talentos para o Ocidente. A China também precisa de talentos tecnológicos globais, especialmente os gigantes chineses de TI que precisam de mais trabalhadores da tecnologia para competir melhor com seus homólogos europeus e estadunidenses. Essas empresas chinesas têm criado centros de P&D na Índia, Rússia, Estados Unidos, Japão, França e muitos outros países, recrutando trabalhadores de alto nível de todo o mundo.
  • Inevitavelmente, os riscos geopolíticos irão alterar a oferta de talentos de forma global. Confrontadas com a feroz competição na indústria tecnológica, em vez de dependerem apenas dos recursos nacionais de talentos, as empresas chinesas precisam aumentar seus esforços para buscar talentos de outros países. Além daquelas na Europa Oriental, a China deveria olhar para os talentos de elite da tecnologia da Índia e, apesar da fricção na fronteira, oferecer excelentes oportunidades de emprego, tanto na Índia como na China.
  • No futuro, as empresas chinesas deveriam olhar de forma constante para o Sul Global na criação de seus planos estratégicos de desenvolvimento. Com sólida força econômica e perspectivas promissoras de desenvolvimento, a China é capaz de adquirir mais talento tecnológico e liderar uma nova rodada de desenvolvimento da indústria digital.
A construção de uma “Zona Social Especial” para revitalizar o Nordeste
Pān Wéi (潘维)
Pan Wei é professor da Escola de Relações Internacionais da Universidade de Pequim e diretor do Centro para Assuntos Chineses e Globais. Entre seus livros estão: Acreditando no Povo: O Partido Comunista da China e A Tradição Política Chinesa, Camponeses e Mercado.

Contexto:

Com infraestrutura de transporte e recursos naturais abundantes, a região Nordeste foi, historicamente, o coração industrial da nova China. No primeiro plano quinquenal de construção socialista, muitos projetos da indústria pesada foram implementados no Nordeste, dando forma às bases da economia estatal. De 1949 a 1979, a região ficou entre as primeiras regiões chinesas em urbanização, educação e renda per capita. No entanto, desde o período de reformas orientadas para o mercado, a maior parte da gestão e do talento técnico das empresas estatais do Nordeste migraram para o Delta do Rio Yangtze e para a região costeira, e muitos dos graduados de alto nível das universidades do Nordeste foram para as cidades de Nível 1, como Pequim, Xangai ou Guangzhou. A maioria das fábricas estatais perdeu sua participação no mercado para produtos importados ou produzidos por joint ventures. Além disso, as fábricas do Nordeste não tinham o conhecimento tecnológico necessário para a inovação industrial, o que, por sua vez, causou um círculo vicioso de capital e talentos fugindo da área, levando à deterioração da ecologia social e a uma séria corrupção. Em numerosas ocasiões nas últimas três décadas, o governo central chinês fez planos para "revitalizar o Nordeste". Em 2002, Pan Wei refletiu sobre os problemas da área e propôs a construção de uma "zona social especial", o que significa essencialmente que o mecanismo de mercado de maximização do lucro não deveria reger o Nordeste, mas que o mecanismo de planejamento social deveria reorganizar sistematicamente os diversos recursos dessa região. Na última discussão sobre a revitalização do Nordeste da China, essa ideia socialista foi novamente revisitada.

Pontos-chave:

  • O capital não é um intermediário inevitável para a combinação de trabalho e meios de produção. Nos primeiros 30 anos da China, quando o capital era escasso, sua base industrial nacional foi construída confiando no planejamento estatal e no espírito socialista da "glória do trabalho e da vergonha de não trabalhar". No entanto, uma economia de mercado é orientada pelo lucro, e a base industrial do Nordeste da China, devido, em parte, à falta de tecnologia e talento gerencial, não conseguia mais competir e foi abandonada.
  • O Nordeste da China deveria seguir o caminho da "economia conduzida por interesses sociais": "planejamento" mais "espírito", complementado pelo "mercado". O ponto de partida para essa ideia deveria ser o seguinte: (1) o Nordeste é de vital importância geoestratégica; (2) o desenvolvimento ulterior da China tem grande necessidade de uma indústria pesada independente e de uma agricultura de grande escala; (3) as condições básicas para revitalizar o Nordeste existem: uma infraestrutura desenvolvida e uma força de trabalho treinada; (4) o espírito do socialismo tem raízes profundas entre o povo; e (5) a economia de mercado da China já está bastante desenvolvida e pode coexistir com uma economia planejada modificada.
  • A ideia básica de estabelecer a "zona social especial" em oposição a uma "zona especial" para lucros é colocar os interesses da sociedade acima dos interesses do capital, colocar as pessoas em primeiro lugar, e restaurar rapidamente a produção. O governo deveria elaborar um plano decenal de recuperação econômica. Ele deveria dar empresas falidas ou quase falidas aos trabalhadores e mudar o tipo de propriedade de estatal para coletiva. Um departamento unificado de distribuição de material deveria ser estabelecido para administrar a cadeia de abastecimento de acordo com o plano regional do Nordeste. Simultaneamente, o governo deveria mobilizar apoio nacional para a recuperação das economias industriais e agrícolas do Nordeste através de incentivos de mercado e fornecer assistência através de tributação e financiamento.
  • O governo também deve responsabilizar os funcionários corruptos. Os funcionários do Partido devem educar os trabalhadores sobre o problema objetivo, explicando como as antigas empresas do Nordeste não são competitivas no mercado. O papel dos membros do Partido, de braços do partido e dos trabalhadores-modelo deve ser mobilizado para promover o espírito socialista da "glória do trabalho" e para motivar os trabalhadores a revitalizar a região nordeste.

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