N.º 08 | 15.08.2021
Neutralidade de carbono: oportunidades reais para o desenvolvimento sustentável da China
Guan Qingyou
Guan Qingyou é diretor e economista-chefe do Reality Institute of Advanced Finance, um think tank financeiro que presta serviços de consultoria em políticas públicas, desenvolvimento industrial e mercados financeiros a partir de pesquisas de mercado.
Neste artigo, Guan Qingyou explica que o compromisso da China de atingir o pico de emissões de carbono até 2030 e a neutralidade de carbono até 2060 reflete sua compreensão do impacto da mudança climática na humanidade. Apesar dos desafios geopolíticos que dificultam que os países trabalhem conjuntamente no enfrentamento ao câmbio climático, Guan acredita que a China pode desempenhar um papel na liderança de uma “revolução verde” global. O comprometimento da China com suas metas de carbono também serve como um motivador para que o país acelere a reestruturação e atualização de sua economia interna para alcançar um crescimento sustentado. Guan afirma que esta transformação pode ser vista como uma revolução, já que nenhum outro país jamais tentou tal façanha em um período de tempo tão curto. Ele propõe cinco estratégias para que a China ultrapasse os EUA e a Europa para atingir o pico de emissões de carbono e a meta de neutralidade, incluindo a mudança da estrutura industrial e a obtenção de grandes avanços nas tecnologias de energia e de eficiência energética. Guan observa que as metas de carbono da China consistem em uma oportunidade de crescimento de décadas para o desenvolvimento. Assim, ele exorta o empresariado a envidar esforços pela inovação em tecnologia verde, de forma a adquirir uma vantagem precursora no âmbito da “revolução verde”.
A China quer impedir algoritmos de ameaçarem os direitos trabalhistas dos trabalhadores “gig”
Jia Kai
Jia Kai é professor associado da Escola de Administração Pública da Universidade de Ciência e Tecnologia Eletrônica. Ele é doutor pela Escola de Administração Pública da Universidade de Tsinghua. Sua pesquisa se concentra em tópicos relacionados à internet e governança de dados.
Mais de 100 milhões de pessoas participam da “gig economy” da China através de várias plataformas on-line, que criam economias de escala através da coordenação de trabalhadores em lugares distintos. Nessas plataformas, os algoritmos desempenham um papel fundamental para facilitar as transações, gerenciar processos e medir resultados. No entanto, como Jia Kai aponta, estes algoritmos não são neutros em termos de valor; eles são politicamente enviesados, beneficiando alguns grupos e causando danos a outros. Tendo em vista que os algoritmos são impulsionados pela comercialização, se não forem regulamentados, podem se tornar uma ferramenta para o Taylorismo 2.0 – uma ressurreição da eficiência capitalista – maximizando os métodos de gestão criados em 1911 – para violar os direitos e interesses dos trabalhadores. Reconhecendo a natureza altamente política da tecnologia, vários departamentos do governo central chinês instaram recentemente as empresas a revisar os algoritmos utilizados em suas plataformas, a fim de equilibrar a proteção dos direitos trabalhistas com a eficiência da “gig economy”.
Como o governo chinês está regulando a indústria privada de reforço escolar para combater a desigualdade educacional
Guancha
Guancha (“Observador”, www.guancha.cn) é a principal plataforma de mídia não-estatal na China. Traz notícias e artigos sobre política e sociedade chinesas, com um olhar global.
O governo chinês revisou recentemente a indústria de educação privada, exigindo que as instituições de reforço escolar que não consistissem em estabelecimentos de ensino regular se tornassem organizações sem fins lucrativos, entre outras mudanças. Este artigo argumenta que as mudanças abruptas de regulamentação demonstram como a hiper-comercialização do setor tem acentuado a desigualdade educacional. Há cerca de 30 anos, a indústria de reforço particular surgiu em razão um sistema de admissão escolar altamente competitivo. Desde então, os estudantes que são acompanhados têm tido maiores chances de alcançar melhores resultados nos testes e de obter admissão em escolas de primeira linha com cotas limitadas. Mais recentemente, graças a um influxo maciço de capital e ao desenvolvimento dos serviços de internet, o número de instituições de acompanhamento escolar online explodiu. Entretanto, os críticos argumentam que essas iniciativas se enfocam excessivamente no lucro, exercem pressão desnecessária sobre estudantes e pais, e criam ônus econômico para as famílias, beneficiando, em última instância, as crianças de famílias ricas, mas não as pobres. O artigo sugere que, após a implementação das medidas corretivas, as instituições de reforço escolar possam desempenhar um papel fundamental para resolver a falta de recursos educacionais nas zonas rurais, com seus professores bem treinados, tecnologia inovadora e métodos de ensino padronizados.
Expandir a oferta: uma solução alternativa aos novos regulamentos de educação e habitação da China
Lu Ming
Lu Ming é professor da Faculdade Antai de Economia e Administração da Universidade Jiao Tong de Xangai e pesquisador do Instituto da China para Governança Urbana.
As recentes regulamentações governamentais em matéria de trabalho e emprego, educação, habitação e outras áreas tem chamado a atenção do mercado e do público. Lu Ming argumenta que os problemas nestes setores são causados principalmente pela insuficiência de recursos e que, portanto, as políticas públicas com incidência sobre a demanda não são a melhor solução. Em vez disso, ele sugere que o governo se concentre em aumentar o investimento em serviços públicos no lado da oferta, otimizando sua qualidade, estruturas e distribuição. Por exemplo, em resposta aos altos preços da habitação, Lu propõe aumentar a oferta, liberando mais terrenos residenciais para construção habitacional. Da mesma forma, o governo deveria resolver a questão da demanda que excede a oferta no setor de educação, aumentando seu investimento global no segmento, por meio da construção de mais escolas públicas, por exemplo, além de aumentar os salários dos professores, melhorando a qualidade da educação pública. Por sua vez, as províncias com grandes populações deveriam estabelecer mais universidades e aumentar as taxas de admissão, a fim de favorecer a concorrência.
As experiências de política econômica do PCCh entre 1931-1949 e seu significado para o desenvolvimento socialista da China
Rong Xinchun
Rong Xinchun é professor associado do Instituto de Economia da Academia Chinesa de Ciências Sociais. Seu campo de investigação é a história econômica contemporânea da China.
Neste artigo, Rong Xinchun ilustra como as experiências de política econômica desenvolvidas de 1931 a 1949 desempenharam um papel significativo no estabelecimento do Socialismo com Características Chinesas. Durante este período, o Partido Comunista da China (PCCh) estabeleceu uma estratégia de revolução fundiária pela qual o sistema territorial deixou de ser caracterizado pela propriedade semicolonial e semifeudal para preconizar a titularidade campesina. A revolução fundiária permitiu aos camponeses aumentar sua capacidade de produção agrícola, de forma que estes puderam converter muitas parcelas de terra estéril na Região Fronteiriça de Shaanxi-Gansu-Ningxia em campos aráveis. Por exemplo, Nanniwan (南泥湾, ou “Curva Enlameada ao Sul”), foi a inspiração para a canção revolucionária com o mesmo nome, cantada em lares de todo o país. Além disso, para garantir o abastecimento do exército durante os bloqueios inimigos, o PCCh acelerou o desenvolvimento industrial, construindo 82 fábricas estatais naquela zona de fronteira até 1943. As indústrias privadas e cooperativas também desempenharam um papel vital no desenvolvimento da autossuficiência na divisa em referência, papel que as indústrias privadas desempenham até hoje na China. O PCCh, por exemplo, como o Banco da Região Fronteiriça de Shaanxi-Gansu-Ningxia não tinha o direito de emitir moeda; o governo emitia Vales de Compra Guanghua para facilitar as transações econômicas. Rong afirma que as políticas econômicas do PCCh durante este período conseguiram conquistar o povo e formaram a estrutura básica do Socialismo chinês de hoje.
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