N.º 10 | 29.08.2021
Para alcançar a prosperidade comum, a China deve construir gradualmente um Estado de bem-estar social com características chinesas
Cai Fang
Cai Fang (蔡 昉) é economista, membro do Comitê de Política Monetária do Banco Popular da China e especialista-chefe do Think Tank Nacional de Alto Nível da Academia Chinesa de Ciências Sociais.
Na reunião da Comissão Central de Assuntos Financeiros e Econômicos realizada em 17 de agosto, Xi Jinping enfatizou o conceito de “prosperidade comum” (共同富裕 gòngtóng fùyù) e propôs a estratégia para alcançá-la. Xi ressaltou que “a prosperidade comum é um requisito essencial do Socialismo e uma característica fundamental da modernização ao estilo chinês.” Cai Fang acredita que o avanço em direção à prosperidade comum requer esforços em três aspectos. Em primeiro lugar, uma vez que o desenvolvimento deve ser fundamental para tornar o “bolo” maior, o crescimento econômico deve ser mantido num nível razoável. Ao mesmo tempo, como o Índice de Gini ainda oscila em torno de 0,46, a distribuição de renda deve ser reajustada por meio da redistribuição. O segundo aspecto é promover a mobilidade social e expandir os segmentos de rendimentos médios, o que exige apoios para aumentar ainda mais a renda da população rural recém-aliviada da pobreza e garantir que os trabalhadores migrantes sejam passíveis de desfrutar do mesmo nível de seguridade social e de acesso a serviços públicos básicos que os residentes urbanos. Terceiro, para alcançar a cobertura total e uniforme dos serviços sociais, até 2035, a China deve construir um Estado de bem-estar social com características chinesas por meio de maiores gastos governamentais.
Quão severa é a desigualdade de renda da China no contexto global?
Ren Zeping
Ren Zeping (任泽平) é economista-chefe da Soochow Securities e ex-diretor do Instituto de Pesquisa Evergrande.
O rápido desenvolvimento econômico da China levou não apenas ao acúmulo de riqueza nacional, mas também à crescente desigualdade de renda, gerando uma mudança de enfoque por parte do governo chinês em direção à prosperidade comum, priorizando a equidade em vez da eficiência, a qual havia sido preconizada no passado. Por meio deste relatório, com dados profícuos, Ren Zeping aponta que, embora a desigualdade de renda na China tenha diminuído nos últimos anos, a disparidade de riqueza agravou significativamente. Em particular, as taxas decrescentes de mobilidade social da China aumentam o risco de “consolidação de classe” (阶层固化 jiēcéng gùhuà), um termo utilizado para refletir que as conquistas de um indivíduo são predominantemente determinadas pelo seu ponto de partida na vida. Ele também explica que a pandemia impulsionou a desigualdade ao seu pior nível em todo o mundo, citando um relatório de pesquisa do Credit Suisse: de maneira impressionante, 12,2% da população adulta do mundo possui 84,9% da riqueza total do mundo. Em comparação com o resto do globo, a desigualdade de renda da China está em um nível moderadamente alto; seu índice de Gini, embora tenha caído, ainda ultrapassa a linha de alerta de 0,4 de desigualdade; e sua disparidade de riqueza está num nível médio baixo, muito inferior ao apresentado por Brasil, Rússia, Estados Unidos, Índia e Alemanha, mas tem aumentado rapidamente, motivo pelo qual a China vem adotando medidas para regulamentar diversos setores, tais como o imobiliário, o financeiro, de internet e de aulas particulares, o que tem gerado impactos sobre a renda familiar e aumentado o custo da economia real.
O povo tibetano tem liberdade de religião? Insights do Buda Vivo Koondhor
Tulku Koondhor
O Buda Vivo Koondhor(谢文·根多活佛) tinha apenas quatro anos quando reencarnou como um Buda Vivo em Qamdo, no Tibete oriental, em 1956. Ele deixou o Tibete três anos depois e acabou por se estabelecer na Suíça na década 70. Em 2011, ele voltou para a China.
Em uma entrevista para Liu Xin, da China Global Television Network (CGTN), a fim de marcar o 70º aniversário da libertação pacífica do Tibete, Buda Vivo Koondhor fala sobre seu retorno à China após ter vivido 55 anos no exterior. Ele descreve como melhoraram as condições de vida no Tibete e em outras partes da China, chegando a ultrapassar o Ocidente em alguns aspectos. Por exemplo, ele diz que ficou “impressionado e orgulhoso” do sistema de seguro médico da China, comparando-o com o sistema de saúde dos Estados Unidos, o qual, segundo ele, serve mais à burguesia que ao público em geral. Koondhor também fala sobre os meios de comunicação estrangeiros e suas críticas à política da China em relação à liberdade religiosa, afirmando que essas mídias são incitadas por forças hostis antichinesas no exterior, ansiosas por provocar a China: “Mesmo que o nosso país faça um bom trabalho, eles não vão parar.” Na verdade, Koondhor elogia a política religiosa da China de proteger as liberdades religiosas em todo o país. Ele ressalta que, junto com a promoção da cultura budista, o governo tem investido uma quantia considerável de fundos para construir novas academias budistas e formar aprendizes e instrutores de sutra. Além disso, em julho de 2016, mais de 100.000 pessoas participaram do ritual de instruções Kalachakra realizado pelo 11º Panchen Lama em Xigaze, Tibete. O grande comparecimento, segundo Buda Vivo Koondhor, é uma prova da liberdade religiosa na China.
O Impacto da pandemia sob as perspectivas de crescimento da China
Yu Yongding
Yu Yongding (余永定)é economista, trabalhou no Comitê de Política Monetária do Banco Popular da China de 2004 a 2006. Foi diretor do Instituto de Economia e Política Global da Academia Chinesa de Ciências Sociais.
No segundo trimestre de 2021, o PIB da China cresceu 7,9% em comparação com o mesmo período do ano passado. O número reflete um desempenho relativamente forte, tendo em vista os efeitos duradouros da pandemia COVID-19 sobre a economia global. No entanto, para a China, segundo Yu Yongding, a cifra é decepcionante, uma vez que os economistas tinham estimado um crescimento de 8,2% para o referido período. As autoridades implementaram uma política fiscal e monetária expansionista na fase inicial da pandemia, mas logo passaram a adotar uma postura de contenção, temendo a inflação e riscos financeiros complexos. No momento, a desaceleração econômica se torna um desafio a ser enfrentado. Espera-se que uma política macroeconômica mais expansionista seja implementada a fim de compensar o impacto da pandemia sobre a economia. Contudo, uma mudança de política pode não ser suficiente. Uma vez que a luta contra a COVID-19 está longe de terminar, o governo chinês ainda precisa encontrar a combinação apropriada de políticas para conseguir um crescimento econômico saudável a partir do segundo semestre de 2021 em diante.
100 anos do PCCh: mudanças da ideologia dominante entre os filmes chineses
Zhou Xing
Zhou Xing (周 星) é professor do Instituto de Artes e Mídia da Universidade Normal de Pequim e membro do Comitê Nacional de Censura de Filmes (电影审查委员会). Qiao Jieqiong (乔洁琼) é professora adjunta da Faculdade de Mídia da Universidade de Ciência e Tecnologia de Qingdao.
Este artigo apresenta um resumo das quatro etapas do desenvolvimento da ideologia dominante nos filmes chineses desde a fundação do Partido Comunista da China (PCCh), 100 anos atrás. A primeira fase, de “filmes pré-convencionais” (前主流电影 qián zhǔliú diànyǐng), começou na década de 1930 quando o PCCh criou filmes progressistas como “Anjo da Rua” (Street Angel, 1937) para dar voz à classe trabalhadora, criticar as autoridades e guiar sua orientação política. Após a fundação da República Popular da China em 1949, filmes como “Destacamento Vermelho de Mulheres” (The Red Detachment of Women, 1960) serviram primordialmente à ideologia política sob o sistema estatal de produção cinematográfica. Em 1987, após a abertura econômica, a autoridade central para a indústria cinematográfica começou a empregar o termo “filmes de melodia principal” (主旋律电影 zhǔxuánlǜ diànyǐng) com o objetivo de encorajar os produtores de cinema a integrar a ideologia socialista dominante à cultura popular. No entanto, devido à carência de diversidade, limitação de apelo estético, e sob o impacto de concorrência de filmes comerciais para atrair atenção dos espectadores, os “filmes de melodia principal” fracassaram em satisfazer as necessidades do público. Com o rápido desenvolvimento da indústria cinematográfica desde 2001, os “filmes convencionais”(主流电影 zhǔliú diànyǐng) passaram, contudo, a quebrar recordes de bilheteria, conciliando as técnicas narrativas e produtivas utilizadas para filmes comerciais com o espírito socialista e os valores tradicionais chineses. O filme de guerra “Toque de reunir” (Assembly, 2007), por exemplo, destaca o valor do indivíduo, além de promover o patriotismo. Hoje, ” filmes neo-convencionais” (新主流电影 xīn zhǔliú diànyǐng) tem retornado à “estética política” da década de 1930 para contar as histórias chinesas numa nova era. Por exemplo, o blockbuster de ficção científica “The Wandering Earth” (2019) ilustra o conceito de “construir uma comunidade de destino compartilhado para a humanidade” (人类命运共同体rénlèi mìngyùn gòngtóngtǐ) e se tornou um fenômeno cultural mundial.

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